Empresa de genética acusada de partilhar dados de milhões de mulheres grávidas com Pequim

Uma investigação da Reuters avança que a empresa chinesa de genética BGI está a partilhar dados recolhidos em testes de rastreio pré-natal com autoridades militares em Pequim.

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Os testes de rastreio pré-natal, vendidos em 52 países, são utilizados para detectar anomalias cromossómicas durante a gravidez Nuno Ferreira Santos

A empresa de genética chinesa BGI é acusada de partilhar resultados dos testes de rastreio pré-natal que vende em todo o mundo com as autoridades de Pequim para estudos científicos. A informação, que a equipa da BGI nega, foi avançada este mês numa investigação aprofundada da agência de notícias Reuters com base na análise de estudos científicos feitos em parceria com a BGI e comunicados da empresa.

Os testes de rastreio pré-natal, vendidos em 52 países, são utilizados para detectar anomalias cromossómicas durante a gravidez. O problema é que segundo a investigação, a BGI armazena e volta a analisar milhões de amostras de sangue recolhidas que também fornecem informação genética sobre a mãe. Isto é combinado com dados sobre a idade, altura, peso e país de origem da mulher. Os resultados são usados em estudos realizados em parceria com as forças militares chinesas para combater problemas de audição de soldados e enjoos em altitudes elevadas. 

Um dos estudos vistos pela equipa de jornalistas da Reuters também utilizava um supercomputador para analisar os dados recolhidos e detectar indicadores de problemas de saúde mental em mulheres chinesas. Outro dos objectivos era detectar ligações entre os genes e características de minorias, como os uigures

A BGI desmente as acusações da Reuters: a empresa usa dados dos testes de rastreio pré-natal, mas com autorização das pessoas que fazem os testes. Numa entrevista ao South China Morning Post, um jornal de Hong Kong, o responsável pelos produtos da empresa, Peng Zhiyu acentua que a BGI obedece aos critérios de investigação normais. “Os nossos parceiros usam dados que recolhem com autorização dos utilizadores”, diz Peng. “A BGI não tem acesso a dados pessoais durante o processo.”

Não é claro quais os países que recorrem aos testes da BGI, mas na versão chinesa do site da empresa lê-se que a tecnologia têm a marcação CE da União Europeia — isto certifica que os produtos foram avaliados pelo fabricante para respeitar requisitos europeus em matéria de segurança, saúde e protecção do ambiente.

Sabe-se que a Alemanha é um dos países a utilizar os testes da BGI. Desde a publicação da notícia da Reuters, o laboratório alemão Eluthia GmbH anunciou, em comunicado, que vai suspender o seu uso enquanto “clarifica alegações publicadas” e “considera medidas adicionais de protecção dos pacientes”. 

Fontes do ministério de Saúde alemão, citadas pela Reuters, acrescentam que o tema está a ser discutido com a Comissão Europeia e dentro do governo da Alemanha. 

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