Mais de mil soldados afegãos fogem dos taliban para o Tajiquistão

Tropas afegãs têm abandonado cidades sem lutar ou quase sem resistir, abrindo caminho à captura de vários distritos pelos taliban. Conquistas estratégicas coincidem com a retirada das forças da NATO e dos EUA.

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Centenas de membros do Exército Nacional Afegão têm fugido para os países vizinhos LUSA/JALIL REZAYEE

As forças de segurança do Afeganistão foram apanhadas de surpresa pela última ofensiva dos taliban no Norte do país mas vão “sem dúvidas” lançar um contra-ataque, disse esta segunda-feira o conselheiro para a Segurança Nacional da presidência, Hamdullah Mobih, numa entrevista à agência de notícias russa RIA. Os combatentes taliban aceleraram a sua marcha imparável na última noite, conquistando vários distritos aos militares afegãos em fuga – 1037 atravessam a fronteira e abrigaram-se no Tajiquistão.

As tropas afegãs cruzaram a fronteira em retirada para “salvar as suas vidas”, lê-se num comunicado do Comité de Segurança Nacional tajique. Esta é a terceira vez que soldados afegãos fogem para o Tajiquistão nos últimos três dias, elevando para perto de 1600 os militares ali refugiados (em Maio, várias centenas tinham fugido na mesma direcção).

Com os últimos desenvolvimentos, os taliban assumiram o “controlo total” de seis distritos da província de Badakhshan, na fronteira entre os dois países, acrescenta o comité de Duchambe.

Para além de Badakhshan, a província de Takhar, situada também na fronteira com o Tajiquistão, tem assistido a um rápido avanço dos taliban, que controlam agora quase todo o território nas duas regiões (mas não as suas capitais). O grupo terá capturado igualmente pelo menos um posto fronteiriço do Afeganistão com o Paquistão.

Os “estudantes de teologia”, expulsos do poder em Cabul em 2001, depois dos atentados de 11 de Setembro, controlam agora perto de um terço dos 421 distritos afegãos, adianta o canal de notícias pan-árabe Al-Jazeera.

Estes últimos avanços dos taliban coincidem com o fim da missão de 20 anos da NATO no país. Na sexta-feira, as forças dos Estados Unidos retiraram os últimos militares da base de Bagram, o centro de comando na guerra no Afeganistão, a 60 quilómetros de Cabul, num momento que marca o fim real da missão norte-americana – só está previsto que a retirada termine em Agosto, mas os soldados que ali permanecem já não estão envolvidos em operações de ataque.

O Presidente, Ashraf Ghazni, insiste que as forças de segurança do país são capazes de defender o país dos insurrectos, mas há outros relatos de soldados em fuga para o Paquistão e para o Uzbequistão para evitaram envolver-se em combates.

Os países vizinhos – o Paquistão, mas também as nações da Ásia Central – dizem temer uma chegada repentina de refugiados, à medida que a violência se intensifica. Mas os taliban insistem que não são responsáveis pelos confrontos, assegurando que têm assumido o controlo de cidades e regiões acima de tudo através da retirada negociada das tropas afegãs.

Os ganhos mais estratégicos têm acontecido no Norte do país, mas nas últimas semanas os taliban festejaram conquistas em diversas zonas, incluindo Kandahar (cidade-berço do movimento, no Sul), e mantém sob cerco a cidade de Ghazni, capital da província com o mesmo nome, no Centro do país.

No acordo que abriu caminho à retirada das tropas estrangeiras, os taliban comprometeram-se a não permitir que grupos terroristas como a Al-Qaeda operem nas zonas sob seu controlo e a combater quaisquer forças que pretendam atacar alvos norte-americanos, mas não chegou a ser acordado um cessar-fogo entre os taliban e o Governo afegão.

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