Apesar do recuo no desconfinamento, o Porto vai marchar pelos direitos LGBTQI+ este sábado

Sem parecer negativo da Direcção-Geral da Saúde até ao momento, a marcha do orgulho em defesa dos direitos LGBTQI+ vai em frente este sábado no Porto. O percurso foi encurtado, não será realizado o arraial habitual no final e haverá máscaras e álcool gel à disposição dos participantes.

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A marcha do orgulho em defesa dos direitos LGBTQI+ vai em frente este sábado no Porto. Em 2019 contou com oito mil manifestantes EPA/ESTELA SILVA

À custa de um aumento na incidência de casos de infecção pelo novo coronavírus, o concelho do Porto andou para trás no desconfinamento esta quinta-feira. Ainda assim, a 16ª Marcha do Orgulho do Porto pelos direitos LGBTQI+ — convocada para o próximo sábado, dia 3, pelas 15h na Praça da República — segue em frente, com alguns cuidados acrescidos.

“A marcha vai-se realizar, nós não temos nenhuma vontade de desconvocar a manifestação, até porque não existe nenhum parecer dado”, confirmou ao PÚBLICO Filipe Gaspar, membro da comissão organizadora do evento. Apesar da necessidade de respeitar as regras sanitárias em vigor, a manifestação não é obrigada a requerer um parecer da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Para o efeito, a organização anunciou o evento às autoridades e à Câmara Municipal do Porto “há cerca de um mês”, sendo que não recebeu qualquer objecção à realização. 

Por sua vez, a DGS esclareceu, em resposta ao PÚBLICO por email, que “não emitiu qualquer parecer, uma vez que a Administração Regional de Saúde do Norte já informou a organização do evento que desaconselha eventos/festas que promovam aglomeração de pessoas, tendo em conta a situação epidemiológica que nesta data se verifica na cidade do Porto e concelhos limítrofes”.​ Também a marcha de Lisboa estava pensada para arrancar no mês passado com cuidados redobrados, mas foi travada por um parecer negativo das autoridades de saúde na véspera do evento.

Para a organização, é importante não adiar o movimento que, sendo uma marcha política, “reclama muitos direitos e vidas em situações complicadas” — algumas das quais acentuadas pela pandemia, com “isolamentos forçados e situações de violência”. Além disso, Filipe Gaspar reitera que ainda há muito por fazer no que toca à protecção social e ao acesso à saúde das pessoas desta comunidade.

"Nós sabemos que para muita gente este momento é muito importante. É um momento de libertação, de encontro, de reivindicar direitos que acabaram por recuar com a própria pandemia. Nós temos de estar muito atentos a estes gritos de ajuda”, defende.

O que muda na marcha este ano?

Ao contrário das manifestações passadas, que se alongavam pelas ruas de Gonçalo Cristóvão e Santa Catarina, esta será uma marcha com os passos contados. Começa na Praça da República, desce pela Trindade até à Avenida dos Aliados e termina em frente à Câmara Municipal do Porto. Não se espera que seja uma marcha tradicional, já que seria “insustentável na situação pandémica actual" fazer festa, concertos ou o arraial habitual no final. Deverá terminar com a leitura do manifesto, depois da qual as pessoas deverão dispersar. 

“A única coisa que vai acontecer depois é um evento no domingo, no Teatro Sá da Bandeira, que é um espectáculo de homenagem ao Vítor Fernandes — a Natasha Semmynova — mas isso serão bilhetes comprados com lugares marcados”, diz Filipe Gaspar.

Para garantir a segurança dos participantes, serão distribuídas máscaras (caso sejam necessárias) e álcool gel durante o percurso. O corpo da marcha será composto pelos vários colectivos participantes, identificados com faixas — que servirão para “marcar o passo da marcha e o distanciamento entre as pessoas”. Além disso, as próprias faixas serão carregadas do início ao fim sempre pelas mesmas pessoas, para evitar que se troquem objectos.

Este ano contam-se mais voluntários a participar na organização da marcha, em preparações há um ano. “É algo inédito termos tantos voluntários a coordenar o movimento”, aponta Filipe. Cerca de 80 pessoas vão acompanhar o percurso, devidamente identificadas, para garantir o cumprimento das medidas de segurança e “apelar ao bom senso das pessoas”. 

Além disso, a organização sublinha que está em curso uma campanha de pedagogia nas redes sociais em relação à desinfecção, ao uso de máscara e ao cumprimento do distanciamento. “Penso que as forças de segurança também terão um papel importante nesta pedagogia”, acredita.

Em 2019 contaram-se oito mil participantes. No ano passado, a pandemia obrigou a que se realizasse apenas uma “marcha simbólica” com cerca de 30 pessoas em representação dos colectivos. Agora, as previsões da adesão ao evento são “uma incógnita”, mas Filipe acredita que seja um número mais reduzido — contrariando aquele vinha a ser um crescimento constante de cerca de mais 500 pessoas a cada ano. Por precaução, a organização desaconselha a participação àqueles que estejam sintomáticos, sejam doentes de risco ou não se sintam confortáveis numa multidão.

Actualização: A Direcção-Geral da Saúde respondeu esta sexta-feira ao PÚBLICO, esclarecendo que não emitiu nenhum parecer sobre o evento, pois a Administração Regional da Saúde do Norte já tinha desaconselhado à organização a realização da marcha.

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