Vítimas de fraude bancária são consumidores “com pouca destreza digital”

Inquérito à Literacia Financeira da população portuguesa confirma a necessidade de uma maior aposta na formação financeira dos cidadãos, nomeadamente no domínio digital.

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Phil Noble

A associação para a defesa do consumidor Deco alertou esta quinta-feira para o facto de a iliteracia digital ser uma das principais causas das fraudes bancárias, pelo que “é urgente criar formas rápidas para capacitar consumidores frágeis”.

“A maior parte das vítimas dos crimes de fraude bancária são os próprios consumidores e clientes dos bancos com pouca destreza digital”, alerta Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Protecção Financeira da Deco, que participa, em Alvaiázere, na terceira edição das Conferências do Centro, dedicada ao tema “O Futuro da Banca”.

A Deco está preocupada com a prioridade dada às empresas quando se fala na aplicação dos fundos europeus da chamada “bazuca”, sem que sejam ponderadas, em simultâneo, as ajudas de que muitas famílias irão fatalmente necessitar.

“É urgente criar formas rápidas para capacitar consumidores frágeis com alguma literacia digital e financeira e, dessa forma, evitar fraudes bancárias”, afirma Natália Nunes, numa altura em que o sector está em profunda alteração, com maior aposta na oferta de produtos e serviços digitais.

Segundo a Deco, capacitar clientes e consumidores para a transição digital da banca, melhorando os níveis de literacia financeira da população socialmente mais vulnerável, irá contribuir para diminuir as desigualdades no conhecimento e no acesso aos serviços bancários digitais.

O terceiro Inquérito à Literacia Financeira da população portuguesa, realizado pelo Conselho Nacional de Supervisores financeiros, também confirma a necessidade de uma maior aposta na formação financeira dos cidadãos, nomeadamente no domínio digital. Uma das conclusões do inquérito é, precisamente, “o aumento expressivo” da importância da informação recolhida na Internet”, mas também “a necessidade de promover hábitos de comparação de alternativas antes da escolha de um produto financeiro e de reforçar os conhecimentos financeiros dos portugueses”.

“O futuro da banca é um tema que afecta todos os portugueses. Poder debatê-lo aqui, num território de baixa densidade, confirma que muitas questões centrais para o país podem encontrar no interior novas respostas”, afirma Luís Matos Martins, presidente executivo da Territórios Criativos, a empresa de consultadoria e de apoio ao empreendedorismo que organiza as conferências.

O responsável, citado na mesma nota, refere que a iniciativa “vai abrir portas a uma ponderação sobre formas eficazes de tornar mais acessíveis as competências digitais que a banca irá impor aos seus clientes”.

O aumento de fraudes bancárias registado nos últimos meses, muitas delas relacionadas com a aplicação MB Way, tornou urgente a implementação de medidas específicas para prevenir estes crimes.

“A iliteracia digital é uma emergência social que se tem agravado com o desenvolvimento dos mercados financeiros, a crescente complexidade de produtos, serviços e ferramentas financeiras digitais”, afirma Luís Matos Martins.

A presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, Célia Marques, relembra o encerramento do balcão do Millennium BCP no seu concelho por “critérios de viabilidade económica” e os “transtornos graves que isso causou à população”.

“As pessoas de Alvaiázere ficaram extremamente confrangidas por não terem meios para se deslocar às sucursais mais próximas. Mas, sobretudo, ficaram limitadas por não possuírem conhecimentos suficientes para iniciar uma relação digital com o seu banco”, explica.

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