Crítico da Autoridade Palestiniana morre quando estava a ser detido

Família diz que Nizar Banat foi espancado com barras de ferro e arrastado para fora da cama e de casa. Advogado denuncia “assassínio”. Nações Unidas e União Europeia pedem investigação.

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Manifestantes num protesto esta quinta-feira com a fotografia de Nizar Banat MOHAMAD TOROKMAN/Reuters
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A mulher e os filhos de Nizar Banat, crítico da Autoridade Palestiniana MUSSA ISSA QAWASMA/Reuters
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Assim que a notícia foi conhecida, várias pessoas juntaram-se num protesto em Hebron MUSSA ISSA QAWASMA/Reuters

Nizar Banat tinha 44 anos e era um crítico feroz da Autoridade Palestiniana, de Mahmoud Abbas, que tencionava candidatar-se às eleições parlamentares que este adiou sem data em Abril. Morreu esta quinta-feira de manhã, quando as forças de segurança que respondem a Abbas lhe entraram em casa para o prender e o espancaram, segundo a família. A morte de Banat acontece num momento em que opositores e críticos denunciam um aumento da repressão na Cisjordânia.

Num breve comunicado, o governador de Hebron, Jibreen al-Baqri, diz que a saúde de Banat “se deteriorou” quando as forças da Autoridade Palestiniana se apresentaram para o deter, “depois de um mandado ter sido emitido pelo Procurador-geral”, e explica que foi levado para o hospital, “onde a sua morte foi confirmada pelos médicos”.

A sua família conta que Banat estava deitado quando mais de 20 agentes lhe entraram em casa, na cidade de Hebron: segundo contou um primo, Ammar, ao site Middle East Eye (MEE), primeiro borrifaram-no com spray pimenta e começaram a bater-lhe com barras de ferro e bastões de madeira, antes de o tirarem do quarto e de o despirem. Depois, arrastaram-no para dentro de uma viatura. “Eles bateram-lhe continuamente durante oito minutos”, disse Hussein, outro primo, à Reuters.

“O que aconteceu a Nizar Banat é um assassínio”, denunciou Muhannad Karajah, do grupo Lawyers for Justice, que monitoriza violações de direitos humanos nos territórios ocupados por Israel. “Hoje, os activistas e os defensores dos direitos humanos palestinianos estão à espera de ser assassinados.” Karajah disse ao MEE que Banat lhe telefonou na quarta-feira para lhe dizer que estava a ser ameaçado pelos serviços secretos da Autoridade Palestiniana, que lhe exigiam que parasse com as suas críticas.

Banat publicava frequentemente vídeos na sua página de Facebook onde criticava duramente Abbas e outros dirigentes da Autoridade Palestiniana (que tem o poder executivo na Cisjordânia), denunciando casos de corrupção, ao mesmo tempo que apelara aos países ocidentais para deixaram de financiar o governo palestiniano.

No início de Maio, homens armados disparam contra a sua casa – com granadas de atordoamento e gás lacrimogéneo mas também balas reais – e Banat responsabilizou a Fatah, o partido de Abbas, que domina a Autoridade Palestiniana. “Os europeus precisam de saber que estão a financiar indirectamente esta organização”, disse na altura, entrevistado pela Associated Press. “Eles disparam as suas armas nas celebrações da Fatah, disparam para o ar quando os líderes combatem entre si e disparam contra as pessoas que se opõem à Fatah”, acusou.

O coordenador especial das Nações Unidas para o processo de paz, Tor Wennesland, afirmou-se “alarmado e entristecido” com esta morte. “Peço uma investigação rápida, independente e transparente”, escreveu no Twitter. A delegação da União Europeia para os Palestinianos diz também que “uma investigação completa, independente e transparente deve ser lançada de imediato”.

Na terça-feira, um activista dos direitos humanos palestiniano, Issa Amro, que também vive em Hebron, escreveu no Twitter que foi brevemente detido depois de uma publicação no Facebook onde criticava as recentes detenções políticas. Crítico tanto da Autoridade Palestiniana como de Israel, Amro já foi várias vezes detido por ambos no passado.

Tariq al-Khudeiri, activista de 22 anos que é presença assídua nas manifestações na cidade de Ramallah, passou 48 horas detido (acusado de ter insultado Yasser Arafat num protesto, o que ele desmente) em Maio, quando foi interrogado e maltratado, “com um nível de raiva e depravação moral” que o chocou, contou depois à televisão pan-árabe Al-Jazeera. Khudeiri foi um de dezenas de activistas e universitários palestinianos detidos recentemente pelas forças da Autoridade Palestiniana.

De acordo com Skaker Tameiza, advogado do grupo de direitos dos prisioneiros Addameer, a campanha de detenções começou com o fim da ofensiva de Israel na Faixa de Gaza e depois de vários protestos que juntaram multidões na Cisjordânia em solidariedade com os habitantes de Gaza. “Os números são preocupantes”, disse à Al-Jazeera. “Se isto continua, podemos ter centenas de detenções políticas em poucos meses.”

A repressão não é nova e parte do que o analista político Khalil Shaheen descreve como “política de sobrevivência” da Autoridade Palestiniana. Para defenderem a sua legitimidade junto da comunidade internacional, explicou em declarações à Al-Jazeera, os dirigentes palestinianos insistem no discurso da “solução dois Estados” e no chamado processo de paz, vendo “qualquer outra política, mesmo que parta de protestos populares, como uma ameaça”.

Assim, sustenta Shaheen, “qualquer desvio desta estratégia resulta em repressão aos activistas por parte da Autoridade Palestiniana, que não quer que os protestos se transformem numa Intifada”.

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