Serviços secretos preocupados com aumento da extrema-direita na Alemanha em 2020
Relatório dos serviços secretos fala em mais 33.300 novos extremistas em 2020. Uso da violência é defendido por 40% dos militantes da extrema-direita.
O ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, apresentou esta terça-feira um relatório dos serviços secretos que aponta a um aumento das actividades da extrema-direita no país.
O documento, elaborado pela Agência para a Protecção da Constituição (BfV), assinala que se registou um aumento de 3,8% do número de extremistas de direita, parte deles alegadamente preparados para fazer uso da violência. Nos cálculos dos serviços secretos isso equivale a 33.300 pessoas.
Segundo os serviços secretos alemães, 40% desses novos extremistas são considerados “violentos” ou “estarão preparados para fazer uso da violência ou são favoráveis ao seu uso”.
Na apresentação aos jornalistas, Thomas Haldenwang, presidente da BfV, mostrou-se preocupado por durante o ano passado se ter visto marchar lado a lado, em protestos contra as restrições impostas para controlar a pandemia a indivíduos da extrema-direita e outros que não o são, sem que estes tivessem feito alguma coisa para se distanciar dos primeiros.
“Os extremistas da direita puderam muitas vezes protestar lado a lado” com os outros opositores das medidas restritivas.
Haldenwang acusou a denominada “Nova Direita” pela recente radicalização da sociedade alemã, apelidando os seus apoiantes de “incendiários intelectuais” e garantiu que a BfV está a monitorizá-los de perto, parte deles ligado ao partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que lidera actualmente a oposição do Parlamento federal.
“A Nova Direita fornece a justificação ideológica para as acções violentas dos extremistas de direita”, disse Haldenwang. “Proclamam de manhã à noite de que existe uma grande substituição de população a acontecer na Alemanha a que é preciso resistir.”
Os serviços secretos também registaram um aumento de extremistas de esquerda em 2020 por comparação com o ano anterior, embora entre eles, a percentagem dos que defendem a violência seja muito pequena.
Força especial continua
Entretanto, a ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, decidiu que não vai desmantelar o Comando de Forças Especiais (KSK), uma unidade especial envolta em suspeitas de ligação à extrema-direita.
“É claro que precisamos das capacidades militares únicas do KSK”, disse a ministra, em comunicado, um dia depois de visitar o quartel-general da força em Calw, na Floresta Negra.
Desde o ano passado que o KSK está a ser reestruturado depois de um escândalo envolvendo a descoberta pela polícia de um arsenal de armas e munições na propriedade de um soldado do KSK na Saxónia, no Leste do país.
A companhia do KSK foi desmantelada e uma investigação está a decorrer desde então.
Criado em 1996, a força de elite viu a sua reputação manchada pela primeira vez em 2003, quando o seu então comandante foi forçado a reformar-se por manter relações próximas com a extrema-direita, ligações que desde aí nunca deixaram de manchar a unidade.
Annegret Kramp-Karrenbauer considera que a “mudança positiva” que pôde ver em Calw teve um papel importante na sua decisão de manter a unidade.