Alemanha: AfD está sob vigilância dos serviços secretos internos

Partido nacionalista conseguiu, no entanto, que políticos eleitos ou que concorram às eleições de Setembro não sejam vigiados.

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A AfD pediu a clarificação do seu estatuto perante o BfV CLEMENS BILAN/EPA

O partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) está sob vigilância dos serviços secretos internos do país desde o final de Fevereiro, reportaram vários meios de comunicação social da Alemanha.

O partido passa assim a ser considerado de extrema-direita, já que há suspeitas de que é uma ameaça à ordem democrática expressa na Constituição e por isso é que está a ser vigiado na sua totalidade – até aqui, apenas formações regionais ou facções consideradas mais radicais estavam a ser vigiadas.

O Gabinete de Protecção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), a autoridade que decide sobre estes casos, não fez comentários sobre a decisão, mas o diário Süddeutsche Zeitung relatou que o presidente, Thomas Haldenweg, informou os responsáveis dos serviços de segurança regionais esta quarta-feira.

A passagem a “caso suspeito” já era antecipada e o partido fez entrar duas acções em tribunal tentando impedir que a vigilância pudesse avançar. Esta implica possibilidade de escutas e mesmo informadores dentro da organização. A primeira dizia respeito a objecções sobre uma estimativa dos elementos da ala mais radical e foi recusada (seriam 20% dos 35 mil membros, mas com muita influência, diz o BfV). O partido disse ter dissolvido essa ala mais radical, chamada simplesmente “a Ala”, liderada por Björn Höcke, um dos políticos mais extremistas do partido, mas não é claro que isso tenha acontecido.

A segunda acção judicial dizia respeito à “igualdade de oportunidades políticas” que poderiam estar em causa por causa da aproximação das eleições. E por causa desse processo, o BfV não vai vigiar responsáveis eleitos pela AfD no parlamento nacional, nos regionais e ainda no Parlamento Europeu, nem os candidatos que concorrem às próximas eleições, diz a revista Der Spiegel. Por causa deste processo, não se espera um anúncio do BfV.

Na Alemanha está a causar preocupação a subida de número e tom de ameaças a políticos, nomeadamente o primeiro assassínio de um político em décadas, Walter Lübcke, por causa da sua posição pró-refugiados, por um elemento da extrema-direita, recentemente condenado.

O BfV já teve anteriores polémicas com vigilâncias de partidos, algumas resultando em processos legais: uma tentativa de ilegalizar o partido de extrema-direita NPD (nunca eleito para o Parlamento nacional) feita em 2003 falhou por causa do enorme número de agentes dos serviços de informação infiltrados no partido, alguns em posições de chefia.

A AfD surgiu em 2013 com a sua oposição à política de resgates dos países do euro que estavam em dificuldades, e nas legislativas desse ano obteve 4,7%, falhando por pouco os 5% necessários para entrar no Parlamento nacional.

Com a chamada crise dos refugiados, em 2015, o partido começou a usar esse tema e a ser cada vez mais racista e xenófobo. Nas últimas eleições, em 2017, AfD foi o terceiro partido mais votado, com 13% dos votos. Com a coligação entre os dois primeiros, a CDU de centro-direita e o SPD de centro-esquerda, ganhou o estatuto de principal partido da oposição. 

A sondagem mais recente do instituto Forsa para as próximas eleições dá-lhe, no entanto, 9% de intenções de voto, e um quarto lugar, sendo CDU a primeira no inquérito (34%), seguida dos Verdes (18%) e do SPD (16%).

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