Ex-sócio de Nuno Vasconcellos fez denúncia contra devedor do Novo Banco por desvio de activos

Rafael Mora foi nesta quarta-feira depor à comissão de inquérito ao Novo Banco. O gestor diz que em 2018 fez uma denúncia contra Nuno Vasconcellos na PGR que está a ser investigada pela Polícia Judiciária.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O antigo sócio de Nuno Vasconcellos, Rafael Mora, disse nesta quarta-feira ter conhecimento de uma dívida de 400 milhões de euros do grupo Ongoing ao BES/Novo Banco, embora não tenha contestado que a dívida seja de 600 milhões, o valor que tem sido noticiado. No Parlamento, Mora distanciou-se de Vasconcellos, acusou-o de não ter dito a verdade aos deputados da comissão de inquérito e referiu que em 2018 fez uma denúncia contra um dos maiores devedores ao Novo Banco por desvio de activos.

“Do meu conhecimento são 400 milhões”, afirmou, frisando que este valor não quer dizer que a dívida de 600 milhões de euros não seja verdade. O gestor, que salientou nunca ter sido sócio da Ongoing, detalhou que a dívida de 400 milhões resulta de 200 milhões de acções na PT, 24 milhões para a compra o extinto Diário Económico, 80 milhões para a compra de um grupo brasileiro e 100 milhões para o financiamento da Real Time Corporation.

Durante o depoimento na comissão de inquérito às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, Rafael Mora informou que a 12 de Junho de 2018 fez uma denúncia na Procuradoria-Geral da República contra o antigo líder da Ongoing.

Este processo teve um aditamento em Setembro do mesmo ano, disse Mora, acrescentando que antes de ir ao Parlamento pediu à PGR para saber como estava o processo. “O Ministério Público informou que as duas denúncias se encontram em investigação na Polícia Judiciária”, afirmou. O gestor explicou que a denúncia está relacionada com “desvio” de activos e que “uma das principais protagonistas da denúncia é a Affera, uma offshore do Panamá”. 

Antes de Mora ter ido ao Parlamento, Nuno Vasconcellos depôs no inquérito ao Novo Banco através de videoconferência, a partir do Brasil, no dia 20 de Maio. Nessa audição, o antigo líder da Ongoing disse nunca ter sido accionista da Affera depois de a deputada Mariana Mortágua ter revelado que esta sociedade tinha sido usada para diluir a participação do grupo Ongoing e evitar os credores do grupo, entre eles o Novo Banco. 

Aos deputados, Mora contou nesta quarta-feira que a “divergência” com Vasconcellos, de quem foi “um dos melhores amigos”, começou em 2012 com o divórcio de Nuno Vasconcellos, por temer que este pudesse pôr em causa os negócios no Brasil onde o grupo tinha responsabilidades em relação a mais de mil trabalhadores e famílias. O gestor foi muito crítico do depoimento de Vasconcellos, que terminou abruptamente por decisão dos deputados que consideraram que o gestor não estava a colaborar com os trabalhos da comissão.

Questionado sobre se Vasconcellos tinha dito alguma mentira aos deputados, Mora respondeu: “Perguntaria antes se disse alguma verdade. Mentiras disse muitas, verdades acho que não disse nenhuma.”

Mora recusou que a Ongoing fosse um grupo “sem conteúdo” e defendeu que o “início do fim” aconteceu com os negócios nos media, quando Vasconcellos ofereceu financiamento a Francisco Pinto Balsemão, presidente do conselho de administração do grupo Impresa (detentor do jornal Expresso), em troca do controlo do grupo. Foi uma “estupidez”, tendo em conta as relações pessoais próximas entre Balsemão e o pai de Vasconcellos, defendeu. “Acho que foi influenciado directamente por Ricardo Salgado. É esta é a minha intuição”, afirmou, adiantando que com a proposta feita por Vasconcellos “a Ongoing passou a ser mal vista e o BES desapareceu do radar” das notícias.

Na mesma audição, Mora admitiu que o Diário Económico (jornal extinto em 2016) tinha sido comprado pela Ongoing por um preço “elevado” segundo o deputado do PSD Hugo Carneiro, por um preço 20 vezes acima do seu valor , e que havia “interesse do BES em que a Ongoing comprasse o Diário Económico”. O jornal foi comprado por 27,5 milhões de euros, com um financiamento de 24 milhões do BES.

O jornal era visto como “importante” para a estratégia do grupo Ongoing, com uma marca “com valor”, e numa altura em que “ainda vivia em harmonia com o grupo Impresa”, comentou, acrescentando que o plano tinha “racional” e passava por dar ao grupo Impresa a peça que lhe faltava da “especialização económica”. Segundo Mora, na corrida à compra do Diário Económico estava também o grupo Lena e um outro, cujo nome não referiu. 

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