Trabalhadores da Groundforce do Porto querem referendar nacionalização

Subcomissão de trabalhadores do Porto vai pedir à Comissão de Trabalhadores nacional da Groundforce para ser parte integrante das negociações da empresa.

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Trabalhadores temem pelo futuro da empresa Adriano Miranda

Os trabalhadores da Groundforce do Porto, que tencionam manifestar-se no início de Maio, querem estar representados nas negociações e defendem a realização de um referendo interno sobre a nacionalização da empresa.

O protesto, ainda sem data nem local marcados, deverá acontecer no próximo mês e “conforme o andamento da situação à altura”, afirmou à Lusa José Teixeira, representante da subcomissão dos trabalhadores do Porto, no final de um plenário que se realizou na manhã desta terça-feira no aeroporto do Porto.

“Estamos todos [trabalhadores] num clima de muita dúvida em termos de futuro da empresa e estamos muito inquietos com a actual indecisão e o que vamos sabendo é pelas notícias que vão surgindo. Aliás, as últimas referem que não estão garantidos os salários de Maio”, afirmou.

Dizendo estarem numa “dúvida constante”, José Teixeira quer que sejam acautelados os postos de trabalho e os direitos, não só do próximo mês de Maio, mas futuros, assim como garantido o serviço público. Por esse motivo, o representante dos trabalhadores do Porto apelou para uma “decisão política” que acautele estes mesmos empregos.

Nesta sequência, a subcomissão de trabalhadores do Porto vai pedir à Comissão de Trabalhadores nacional para ser parte integrante das negociações da empresa, referiu.

A este pedido junta um outro, o da realização de um referendo a todos os trabalhadores da Groundforce sobre a nacionalização da empresa, frisou. José Teixeira explicou que o objectivo será referendar a defesa da nacionalização como sendo a única solução para proteger os postos de trabalho. “Nós não temos formação técnica para o fazer [referendo], por isso, decidimos requerer à comissão nacional que o faça, seja directamente, seja um órgão da empresa que o faça por exigência desta”, sublinhou.

CT não apoia nacionalização

A 13 de Abril, a Comissão de Trabalhadores emitiu um comunicado no qual afirmava, sobre uma “tão propalada possibilidade de uma eventual nacionalização” que esta é “uma impossibilidade legal” à luz das regras comunitárias.

Por outro lado, destacou a CT, “num eventual cenário de nacionalização temporária e transitória, não haja ilusões de que não aconteceria aos trabalhadores da SPdH/Groundforce” algo “semelhante ao que aconteceu na  CateringPor [regime sucedâneo com cortes salariais a partir dos 1330 euros de retribuições], ou ao que aconteceu na TAP e na Portugália”. Assim, sublinha a CT, “ainda que algumas ideias possam parecer ‘simpáticas’ não podemos deixar de olhar para a floresta e não apenas para a árvore e ver as consequências daquilo que se defende”.

Tanto o PCP como o BE defendem a nacionalização da companhia, tendo já projectos de lei nesse sentido no Parlamento e que foram “chumbados” no final de Março com os votos contra do PS, PSD, CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal.

Pagamentos em falta

Neste momento, os trabalhadores da Groundforce têm subsídios de férias, anuidades e progressões que não foram pagas, contou. No plenário de trabalhadores, que decorreu esta manhã, ficou ainda decidido reunirem-se com a entidade regional de turismo, a área metropolitana, a associação empresarial e a comissão de coordenação de desenvolvimento regional, revelou José Teixeira.

A Groundforce encontra-se em situação financeira difícil, na sequência da quebra de operação nos aeroportos, face às medidas adoptadas para conter a pandemia de covid-19. A empresa de handling (assistência em terra nos aeroportos) chegou a ter os salários dos seus 2400 trabalhadores em atraso, o que motivou a organização de várias manifestações em diferentes pontos do país onde a empresa opera.

Em 19 de Março, depois de diversas negociações, a Groundforce e a TAP chegaram a um acordo, em que a companhia aérea adquiriu por cerca de sete milhões de euros equipamentos da empresa de handling, que passa a pagar à TAP pelo aluguer deste material.

Este acordo permitiu desbloquear provisoriamente o impasse na empresa e pagar os salários em atraso aos 2400 trabalhadores, bem como fazer face às despesas mais prementes.

O presidente do conselho de administração da Groundforce, Alfredo Casimiro, ouvido em Março no Parlamento, disse que esta solução era um “balão de oxigénio” de dois meses, mas, se não fossem disponibilizados mais fundos, a empresa iria “definitivamente para a falência”.

Entretanto, o Banco Português de Fomento (BPF) não aprovou o empréstimo de 30 milhões de euros pedido pelo conselho de administração da Groundforce, por não haver um plano de reestruturação da empresa e por falta de “disponibilidade financeira robusta dos accionistas”.

A Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal e em 49,9% pelo grupo TAP – que, em 2020, passou a ser detido em 72,5% pelo Estado português –, que é accionista minoritário e principal cliente da empresa de handling.

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