Covid-19. Com os Jogos Olímpicos à porta, Japão teme quarta vaga por causa de nova mutação

A mutação E484K, baptizada de “Eek” por alguns cientistas, está presente nas variantes do Brasil e da África do Sul e foi detectada em mais de mil casos no Japão. As autoridades de saúde japonesas acreditam que as variantes (e a mutação) estão a ser responsáveis por uma quarta vaga da doença no país.

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Tóquio, Japão Reuters/ISSEI KATO

Como se as variantes mais contagiosas do novo coronavírus não fossem suficientes para preocupar governos, cidadãos e autoridades de saúde, o Japão está também a lidar com um aumento de casos identificados com uma mutação específica do vírus.

A mutação E484K, baptizada de “Eek” por alguns cientistas, foi detectada em mais de mil casos e estava presente em cerca de 70% dos pacientes com covid-19 que foram testados num hospital de Tóquio em Março, segundo avançou a emissora pública japonesa NHK, citada pela agência Reuters. Esta mutação foi também identificada em duas variantes do vírus (na do Brasil e da África do Sul). Esta semana, também a Indonésia detectou um caso com esta mutação.

O Ministério da Saúde japonês revelou que foram reportados 678 casos de infecção com as variantes identificadas pela primeira vez no Reino Unido, no Brasil e na África do Sul em várias regiões do país e em aeroportos, com os maiores aglomerados a serem registados em Osaka e na vizinha Hyogo.

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Osaka, Japão. 7 de Abril de 2021 KYODO Kyodo

As autoridades de saúde japonesas acreditam que as variantes (e a mutação) estão a ser responsáveis por uma quarta vaga da doença no país, numa altura em que faltam pouco mais de 100 dias para os Jogos Olímpicos, que acontecerão no final de Julho. Por um lado, as estirpes são mais infecciosas e, por outro, esta nova mutação (presente na variante britânica) tem sido associada a uma diminuição da eficácia das vacinas. Ainda assim, a comunidade científica tem avisado que é preciso continuar a avaliar o impacto da variante na eficácia das vacinas e se precisam de ser actualizadas.

Osaka em confinamento durante um mês

A situação é pior em Osaka, onde as infecções atingiram novos picos (de 666 novos casos) na semana passada, levando o governo regional a decretar medidas de confinamento durante um mês a partir da passada segunda-feira.

A variante identificada pela primeira vez na Grã-Bretanha espalhou-se pela região de Osaka e fez com que os hospitais se enchessem de doentes mais graves. “A quarta vaga vai ser a maior”, disse Koji Wada, professor da Universidade Internacional de Saúde e Bem-estar de Tóquio e conselheiro do Governo, no início desta semana, apelando a que se adoptassem medidas de restrição na capital do país, onde os números também estão a subir.

O Japão decretou por duas vezes um estado de emergência que abrangeu a maior parte do país, mais recentemente logo após o Ano Novo, quando ocorreu a terceira e a mais mortal vaga da pandemia. As autoridades estão agora a optar por medidas mais direccionadas que permitam aos governos locais encurtar os horários comerciais e impor multas por incumprimento. Além disso, deve ser dada primazia ao teletrabalho e os japoneses devem abster-se de praticar certas actividades, como o karaoke.

Osaka cancelou os eventos relacionados com o percurso da Chama Olímpica, mas o primeiro-ministro, Yoshihide Suga, insistiu, por diversas vezes, que o Japão realizará os Jogos conforme programado. Suga disse no domingo que as medidas que estão em vigor em Osaka podiam ser expandidas para Tóquio e outros territórios, se necessário.

E esta quinta-feira, a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, disse que vai mesmo pedir ao governo central que imponha medidas de emergência na capital para conter o aumento das infecções, noticia a Reuters.

Koike falou aos jornalistas depois de uma reunião com especialistas que alertaram para um surto explosivo de casos que poderão ultrapassar a terceira e mais mortal vaga da doença até agora. Além disso, os peritos também se mostraram preocupados com o aumento do número de variantes e mutações do SARS-CoV-2. “Esta é uma situação muito preocupante. Precisamos de estar vigilantes para o aumento do número de pessoas infectadas com estas variantes”, disse.

Na quarta-feira, o Japão registou 555 novos casos, o valor mais alto desde o início de Fevereiro, e esta quinta-feira foram 545 as novas infecções contabilizadas.

Além do aumento dos novos casos, há outro factor que está a aumentar os receios de uma quarta vaga: o processo de vacinação contra a covid-19 no país tem sido lento. Numa população de 126 milhões de pessoas, só um milhão recebeu a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech, a única aprovada no país até agora.

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