Maioria dos eleitores na Gronelândia vota contra a mineração de terras raras

O Partido do Povo saiu claramente vitorioso das eleições antecipadas na Gronelândia que se tinham transformado numa espécie de referendo em torno da mineração de terras raras e do interesse chinês na sua exploração.

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Apoiantes do Partido do Povo celebram a vitória nas eleições Emil Helms/EPA

A esquerda ambientalista do Partido do Povo (IA) saiu vitoriosa das eleições parlamentares de terça-feira na Gronelândia, de acordo com os resultados preliminares divulgados. A maioria da população mostrou, assim, privilegiar a protecção ambiental em vez dos benefícios económicos dos controversos projectos de mineração de terras raras (grupo de 17 metais abundantes na crosta terrestre, mas de obtenção difícil e cara).

Com 37% dos votos, o IA derrota o partido social-democrata Siumut, que se fica pelos 29% e perde o poder que tem exercido praticamente ininterrupto desde 1979. No entanto, com 12 dos 31 deputados do parlamento local, o IA terá de escolher parceiros para formar governo, mas Múte Egede, o líder do partido, afirmou, citado pela AFP, querer “explorar diferentes formas de cooperação” antes de tomar uma decisão.

“Obrigado aos que confiaram em nós para trabalharmos com as pessoas a partir do centro durante os próximos quatro anos”, disse Egede à televisão pública KNR.

A Gronelândia, território dinamarquês parcialmente autónomo, tem vindo a atrair as super-potências mundiais sobretudo pela sua riqueza em terras raras.

A extracção mineira na região tornou-se, portanto, no epicentro do jogo político e transformou as eleições desta terça-feira numa espécie de referendo ao projecto de Kvanefjeld, apoiado pelo Siumut e criticado pelo IA e por organizações ambientalistas, pelo impacto negativo da mineração no ecossistema, já que a extracção de terras raras gera uma enorme quantidade de desperdício (à volta de 96%).

O projecto de Kvanefjeld previa gerar 8.500 toneladas de resíduos por dia, a despejar num lago protegido por paredes de betão, além de pretende ainda extrair urânio, material radioactivo que aumentou ainda mais o medo da população.

Além de que seria também um risco para a pesca, a principal indústria da Gronelândia, que assegura 90% do seu total de exportações, no caso de contaminação das águas.

Do outro lado do peso da balança estava o grande rendimento que se previa para a economia local, com um aumento de 7% do PIB.

“A Gronelândia está perante um dilema, ao ter de escolher entre a protecção do ambiente e a diversificação económica e parece que, desta vez, o ambiente vai ganhar”, havia prenunciado Javier Arnaut, professor de economia na Universidade da Gronelândia, citado pela Bloomberg.

A saída do Governo, em Fevereiro, de um dos partidos que fazia coligação com o Siumut, por causa de desentendimentos em torno dos planos para os projectos mineiros, obrigou novas eleições.

Ainda que se oponha por completo ao avanço do Kvanefjeld, que o líder do Siumut, Erik Jensen, considera, citado pelo South China Morning Post, que seria “extremamente importante para a economia da Gronelândia”, o Partido do Povo não deixa de defender o investimento estrangeiro como forma de alcançar a independência da Dinamarca. É, por isso, que o IA apoia outro projecto mineiro, o Tanbreez, que não prevê a extracção de urânio.

O IA quer também que a Gronelândia adira ao Acordo de Paris.

“Posso ser jovem, mas essa é também a minha força”, disse Múte Egede, que tem34 anos, à KNR.

Sendo o solo da Gronelândia rico em terras raras, importantes para a produção de motores de carros eléctricos e computadores, Estados Unidos e China têm-se visto envolvidos numa acesa disputa de influências por uma ilha que, além disso, é um ponto geoestratégico relevante entre a Europa e a América do Norte.

A China tem tentado aumentar a sua presença na região, tendo uma empresa estatal chinesa, a Shenghe Resources Holding Co Ltd, como maior accionista da empresa australiana que controla o projecto Kvanefjeld. A Greenfield Minerals opera na Gronelândia desde 2007.

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