UE denuncia “política agressiva” da Rússia, após mobilização de tropas russas na fronteira com a Ucrânia

Tropas ucranianas combatem forças separatistas pró-russas no Leste da Ucrânia desde 2014. Conflito já vitimou milhares de pessoas.

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Josep Borrell, representante da diplomacia da União Europeia Francisco Seco / POOL / LUSA

Após o agravamento da tensão na fronteira ucraniana com a Rússia, a União Europeia manifestou o seu apoio a Kiev, através do representante da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, numa conversa telefónica, no domingo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba. Isto, depois de, tanto a Ucrânia, como a Rússia, confirmarem os movimentos de tropas russas na fronteira ucraniana na última semana.

“Estamos a acompanhar com grande preocupação a actividade militar russa em torno da Ucrânia”, disse Borrell, declarando o “apoio indefectível da UE à soberania e integridade territorial da Ucrânia”. Borrell anunciou ainda que irá encontrar-se com o líder da diplomacia ucraniana e com os representantes homólogos dos 27 numa reunião em Abril.

O alerta foi dado na semana passada pelo chefe do Estado-maior General das Forças Armadas ucraniano, Ruslan Khomchak, que acusou Moscovo de perpetuar uma “política agressiva” em relação a Kiev, através da mobilização de militares para as suas fronteiras Norte e Leste, e para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Khomchak alertou para a mobilização de tropas russas em diferentes regiões da fronteira ucraniana, sob o pretexto da manutenção da prontidão de combate e de exercícios militares. Acusou, ainda, sistemáticas violações do cessar-fogo acordado no Leste da Ucrânia, onde morreram cerca de 14 mil pessoas desde que o conflito eclodiu em 2014, de acordo com Kiev.

Além das quase 33 mil tropas que a Rússia mantém na Crimeia, eram esperados até “25 grupos tácticos que, juntamente com as forças já destacadas perto da fronteira estadual da Ucrânia, constituem uma ameaça à segurança militar do Estado”, afirmou o tenente-general.

No mesmo dia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reconheceu o agudizar da tensão na fronteira e referiu que a Rússia “esperava sinceramente” que não se agravasse, porque podia destruir “as modestas conquistas conseguidas anteriormente”.

Para o Kremlin, a presença militar não representa nenhuma ameaça para a Ucrânia, disse Peskov na quinta-feira, mas justificou a intenção da Rússia de garantir a própria segurança. Ainda assim, expressou a sua preocupação com uma eventual “guerra civil”, que “já existiu” e que um agravamento sério do conflito na região da Bacia do Donets poderia “destruir” a Ucrânia.

“Ameaça à segurança militar do Estado”

As tensões têm-se mantido latentes, mas não adormecidas. A zona Leste, onde fica a região de Donbass, tem sido palco de um conflito desde 2014 entre as tropas ucranianas e as forças separatistas pró-Rússia segundo os países ocidentes, apoiadas pela Rússia – que já vitimou milhares de pessoas. Vários cessar-fogos foram acordados, mas ficaram sucessivamente sem efeito: desde 2018 oito acordos fracassaram.

No último ano, o confronto mais grave com os separatistas resultou na morte de quatro soldados ucranianos e ferimentos em outros tantos, de acordo com a informação do Exército ucraniano.

O Kremlin tem-se mostrado atento ao desenrolar da situação, e mostrou o seu desagrado perante uma eventual mobilização de tropas da NATO para a Ucrânia, referindo que ameaçava a instabilidade perto da fronteira russa e poderia forçar Moscovo a tomar medidas para garantir a sua segurança. Isto, após a Aliança Atlântica ter tornado públicas as suas preocupações em relação à tensão sentida na fronteira dos dois países.

Um dia depois, os responsáveis da defesa ucraniana anunciaram um treino militar conjunto durante o Verão entre Ucrânia e Reino Unido, juntamente com tropas da NATO, reforçando a cooperação entre a Ucrânia e a organização transatlântica.

O actual Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já anunciou o seu apoio “inabalável” à “soberania e integridade territorial perante as agressões russas em Donbass e na Crimeia”, após o Governo de Kiev ter apelado aos países ocidentes para pressionarem a Rússia.

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