Quase um quinto dos alunos do 3.º ano sem computador no primeiro confinamento

Acesso à internet também foi limitação para 15%. Alunos revelam dificuldades em ter um sítio sossegado para estudar em resposta a questionário que acompanhou testes de diagnóstico feitos em Janeiro.

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Paulo Pimenta

Quase um quinto dos alunos do 3.º ano não tinha acesso um dispositivo que lhes permitisse acompanhar as aulas à distância durante o primeiro confinamento, revelam os resultados de um questionário de contexto que acompanhou os testes de diagnóstico feitos pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave), em Janeiro – e que foram apresentados esta segunda-feira. Os estudantes também dizem ter tido dificuldades em encontrar um sítio sossegado para estudar em casa.

De acordo com os indicadores revelados pelo Iave, 17% dos alunos do 3.º ano disseram não ter à disposição um computador, tablet ou telemóvel que lhes permitisse ter acesso aos conteúdos digitais disponibilizados pelos professores durante o período de ensino remoto. Além disso, 15% destas crianças nem sempre tinha acesso à Internet.

O estudo diagnóstico feito pelo Iave , foi acompanhado por um questionário de contexto, a que os estudantes responderam no final dos testes, destinado a recolher dados sobre a forma como cada família e cada escola lidou com o ensino à distância. Os alunos foram questionados em Janeiro, antes de o segundo confinamento ter levado a um novo encerramento das escolas. Estes resultados reflectem, por isso, o que aconteceu no ano lectivo anterior.

A falta de um equipamento ou de condições de acesso à Internet são apresentadas como as principais limitações do primeiro período de ensino à distância pelos alunos do 3.º ano. A questão tecnológica já não é apontada como entrave pelos alunos do 6.º e 9.º anos, que também participaram no estudo. Para estes, uma das maiores dificuldades foi a “falta de motivação para o estudo” naquele contexto, segundo um quinto dos alunos do 6.º ano e um terço dos colegas do 9.º ano.

Transversais aos três anos de escolaridade são as “dificuldades em ter acesso a um sítio sossegado para estudar” em casa. Foi o que revelaram 20% dos alunos do 3.º ano e 16,3% dos que frequentam o 6.º ano.

Os dados do Iave dão também pistas para perceber de que forma os professores responderam ao desafio do ensino à distância no primeiro confinamento. Quase dois terços dos docentes do 3.º e 6.º ano passaram as aulas à distância a “ler o manual com os alunos”. As estratégias pedagógicas foram “mais focadas em fazer exercícios relacionados com a matéria” (74,6% no 3.º ano, 85,9% no 6.º ano e 85,5% no 9.º ano) e no recurso a aulas síncronas dadas através do computador (64,3% no 3.º ano, 66,4% no 6.º ano e 71,3% no 9.º ano). A nova Telescola foi principalmente usada pelos alunos mais novos – 63,7% das crianças do 3.º ano dizem ter usado as aulas gravadas como recursos de aprendizagem.

O Iave sublinha também que “houve muito empenhamento” das famílias durante o período do ensino à distância. A maioria dos pais (76,6% no 3.º ano, 76,4% no 6.º ano e 62,6% no 9.º ano) quis saber se os alunos estavam a realizar as tarefas escolares e também se estavam a aprender naquele contexto – 69,6% no 3.º ano, 72,0% no 6.º ano e 57,4% no 9.º ano.

Do mesmo modo, os alunos revelam ter tido apoio das escolas, sobretudo no 3.º ano. Cerca de metade das crianças recebeu contactos dos professores para perceber se estava a conseguir realizar as tarefas propostas (51,9%) ou para saber como se estava a sentir (42,6%).

Outro indicador dos efeitos do confinamento sobre as crianças e jovens tem a ver com a prática de actividade física. Segundo o inquérito do Iave, a grande maioria dos alunos (96,5% no 3.º ano, 82,8% no 6.º ano e 72,8% no 9º ano) diz ter “sentido falta do desporto” na escola.

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