Zuza Homem de Mello (1933-2020) homenageado numa canção inédita

A memória do grande musicólogo brasileiro inspirou Tô que é só sentimento, com música de Beth Amin e letra de Álvaro Faleiros. A canção é lançada esta quinta-feira às 20h em São Paulo (23h em Portugal), no YouTube e no Facebook.

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Zuza Homem de Mello em Lisboa, em 2015 NUNO FERREIRA SANTOS

Passados quase seis meses sobre o seu desaparecimento físico, aos 87 anos, Zuza Homem de Mello vai ser homenageado numa canção, noticiou o Jornal da USP, Universidade de São Paulo. A canção, Tô que é só sentimento, tem música da cantautora Beth Amin e música do professor Álvaro Faleiros, ambos ligados à USP – onde ela é orientadora vocal do coro da universidade (Coralusp) e ele professor do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O lançamento ocorrerá esta quinta-feira às 20h, hora de São Paulo (23h portuguesas), no YouTube e no Facebook.

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Ilustração usada na capa de Tô que é só sentimento

“Ele trabalhava muito pela música brasileira, incansavelmente, até os 87 anos, e merece muitas homenagens”, afirmou Beth a Cláudia Costa, do Jornal da USP. “Estou muito feliz de ter feito esse trabalho, bem no meio dessa situação tão triste que estamos vivendo, e na qual a música tem me salvado. Na verdade, a música tem salvado a todos nós”. A situação que Beth Amin refere é a da pandemia de covid-19, que tanto tem martirizado o Brasil. A gravação desta canção, aliás, foi também marcada pela pandemia, já que foi feita com cada artista em sua própria casa: Beth gravou a voz a partir da sua residência, tal como, escreve Cláudia Costa, “o pianista cubano Yaniel Matos e o contrabaixista Sidiel Vieira, que faz um solo em homenagem a Zuza, que também tocava contrabaixo”. A música é acompanhada por uma animação em vídeo de Rafael Pah, Matheus Suzano e Maya Pereira.

Para escrever a letra, refere ainda o Jornal da USP, Álvaro Faleiros (que recebeu a música gravada, para trabalhar sobre ela) recorreu a pesquisas na Internet e na imprensa, utilizando depoimentos de pessoas que tinham um maior convívio com o homenageado, como Ercília Lobo, sua mulher e parceira de 35 anos de aventuras musicais, além de entrevistas sobre o trabalho de Zuza como músico (foi contrabaixista, depois de estudar música nos EUA) e depois crítico musical. Álvaro leu também críticas e comentários de Zuza no seu “mapeamento sistemático da música brasileira”.

“A grande imprensa e a indústria fonográfica funcionam a partir de grandes nomes da música”, diz ainda Faleiros ao Jornal da USP. “E às vezes trabalhos muito profundos, sérios e consistentes ficam esquecidos no baú da memória da música brasileira. Ele era um colecionador dessas pérolas e tinha essa generosidade e esse cuidado de trazer a público contribuições menos evidentes”.

Nascido em São Paulo, em 20 de Setembro de 1933, a mesma cidade onde viria a morrer em 4 de Outubro de 2020, Zuza Homem de Mello tinha terminado dias antes o seu novo livro, desta vez uma biografia completa de João Gilberto (1931-2019), dando continuidade a um anterior perfil de sua autoria editado pela Publifolha em 2001 e intitulado João Gilberto. Um livro onde dizia querer aplicar o rigor e seriedade que já haviam presidido a todas as suas anteriores obras: Música popular brasileira cantada e contada (1976), A canção no tempo (em dois volumes, escritos em co-autoria com Jairo Severiano, 1997-98), João Gilberto (2001), A Era dos Festivais (2003), Música nas veias: memórias e ensaios (2007), Eis aqui os bossa-nova (2008), Música com Z (2014) e Copacabana: a trajetória do samba-canção (2017).

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