Presentes: os Óscares querem ser a grande cerimónia sem Zoom, mas há queixas

Steven Soderbergh produz uma cerimónia que quer que seja “íntima e presencial” – e roupa casual “não é mesmo fixe”. Mas logística de quarentenas e restrições às viagens internacionais preocupa estúdios e relações públicas dos nomeados.

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LUCAS JACKSON/Reuters

Os produtores da cerimónia dos Óscares deste ano – e um deles é Steven Soderbergh – querem ser a grande cerimónia sem Zoom ou momentos virtuais, ao contrário de todos os eventos que até agora se realizaram nesta temporada de prémios da era covid-19. O aviso marca a vontade de dar aos Óscares o cariz especial de corolário de uma longa carreira dos filmes até à sua meta dourada, sobretudo na mais longa temporada de prémios da história recente devido à pandemia. “Não haverá a opção de entrar via Zoom na cerimónia”, avisam os produtores num email aos nomeados. Mas as restrições às viagens e as quarentenas levantam problemas.

A revista Variety noticiou na semana passada o aviso dos produtores Steven Soderbergh, Jesse Collins e Stacey Sher: “Estamos a fazer todos os esforços para vos dar uma noite segura e agradável em pessoa, bem como para os milhões de fãs de cinema em todo o mundo e achamos que o elemento virtual vai minorar esses esforços”, lia-se num email enviado para os nomeados. Este será um “encontro íntimo e presencial”.

Por isso, não há a opção de aparecer num ecrã via Zoom para quem prefira ficar em casa por questões de “agenda ou desconforto continuado quanto a viajar”. Porém, não é só uma questão de confiança, mas de possibilidade legal de viajar, especialmente num ano em que tantos nomeados residem fora dos EUA, nomeadamente no Reino Unido onde todas as viagens não-essenciais deverão continuar proibidas até meados de Maio. Os Óscares acontecem a 25 de Abril.

Até agora, as grandes cerimónias de prémios da indústria norte-americana têm sido total ou parcialmente virtuais – mesmo que haja apresentadores em palco, os nomeados quase nunca se juntam. Nos Emmys, as equipas de algumas séries estavam juntas em “bolhas” mais ou menos glamorosas; nos Globos de Ouro, as falhas técnicas de uma cerimónia só com nomeados em ecrãs foram uma das características da noite; nos prémios das guildas dos argumentistas e produtores, todos os nomeados tiveram de enviar discursos de vitória previamente sem saber se iam ou não ganhar. Os Grammys tiveram nomeados de máscara e com distanciamento social num espaço ao ar livre e actuações de músicos para músicos.

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Brad Pitt nos Óscares de 2020, que decorreram em Fevereiro Reuters

Os Óscares querem ser o mais “normais” possível, apesar de se dividirem em dois espaços – o tradicional Dolby Theater e a Union Station, ambos em Los Angeles. Na sala de espectáculos terão lugar os números e actuações especiais e na estação a reunião presencial dos nomeados e convidados. Todos farão testes em vários momentos, além de estar presente uma equipa médica e testes PCR.

Mas segundo noticiaram na quarta-feira a Variety e o site Deadline Hollywood, ambos especializados na indústria cinematográfica norte-americana, os representantes de vários nomeados, bem como altos quadros dos estúdios, manifestaram já a sua preocupação à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas quanto à rigidez da regra “só pessoalmente” dado o momento sanitário que se vive.

Tal implicará não só um desequilíbrio em relação aos nove nomeados, por exemplo, que vivem no Reino Unido e entre os quais estão Carey Mulligan (nomeada para Melhor Actriz) ou Emerald Fennell (uma das duas realizadoras nomeadas e também candidata a Melhor Filme e Melhor Argumento Original por Uma Rapariga Promissora). A outra realizadora nomeada, Chloé Zhao (Nomadland) não está nos EUA, segundo a Variety, e os actores Sacha Baron Cohen (Borat, o Filme Seguinte, Os 7 de Chicago), Anthony Hopkins (O Pai), Vanessa Kirby (Pieces of a Woman) e Yuh-Jung Youn (Minari) também não. Os nomeados para Filme Internacional ou Realizador residentes em países com restrições às viagens como Dinamarca (é o caso do realizador Thomas Vinterberg), Hong Kong, Tunísia, Bósnia Herzegovina ou Roménia estão nas mesmas condições.

A quarentena, os custos extra e a logística exigidos para os nomeados com agendas complicadas também são motivo de preocupação para os estúdios e relações públicas dos nomeados – muitos, cerca de 200 segundo a imprensa americana, estão a trabalhar em filmagens que exigem elas próprias quarentenas ou bolhas fechadas ao contacto com o exterior. A agência Reuters recorda que quem chega à Califórnia tem de cumprir dez dias de isolamento. Uma ida aos Óscares pode representar um mês de paragem entre idas e regressos ao país ou bolha de origem. Estava agendada uma reunião da academia com os queixosos, mas foi desmarcada e não é certo se a rigidez das regras se vai manter.

Numa altura em que tudo é diferente, a imagem na televisão é tudo – as audiências das cerimónias de prémios têm sofrido uma queda constante nos últimos anos à medida que se vê menos televisão generalista e que os consumos migram para nichos. A pandemia viu as audiências destes eventos cair a pique. Os Óscares continuam a ser um agregador de público em directo e em diferido, mas o valor da imagem que produzirão é ainda maior num ano de máscaras, ecrãs pixelizados e passadeiras vermelhas em hotéis.

Os nomeados foram aconselhados também quanto ao dress code: depois de uma temporada que tanto viu smokings em casa quanto camisolas de capuz no quarto de hotel, pede-se “uma fusão de inspirador e aspiracional, o que em palavras reais significa que ‘formal é fixe se quiserem ir por aí, mas que casual não é mesmo’”, lê-se no mesmo email dos produtores.

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