O reforço da resiliência: hoje e amanhã

No último ano, em Portugal, as pesquisas no Google pela palavra resiliência mais que triplicaram. Alguns procurarão respostas para questões pessoais e outros para assuntos organizacionais. Estas pesquisas terão origem em interrogações distintas, mas relacionadas. Nos dias de hoje, uma das principais preocupações das empresas é perceber como é que o bem-estar dos colaboradores tem sido afetado pela pandemia. Na base destas questões está a necessidade de reequilibrar os pilares do dia-a-dia das pessoas e das organizações para melhorar a resiliência.

Compreender o balancé da resiliência

Uma forma de compreender o conceito de resiliência é visualizar um balancé. Pontos de partida favoráveis e a capacidade de adaptação de um lado positivo contrabalançam com adversidades do lado negativo. A resiliência surge quando os indivíduos e organizações estão inclinados para o lado positivo, mesmo quando há diversos fatores hostis acumulados no lado negativo. A compreensão de todas as influências e ações que podem inclinar o balancé nas duas direções é fundamental para o desenvolvimento de estratégias capazes de promover uma resposta eficaz a uma perturbação significativa. A pandemia mostrou que as organizações que tinham modelos de negócio mais adaptáveis conseguiram um reequilibrar do balancé para o lado positivo com maior agilidade.

Três ações para um maior equilíbrio

Com a entrada nesta nova fase da pandemia, é necessário desenvolvermos um plano para melhorar o equilíbrio dos balancés, tanto no plano pessoal como organizacional, e sairmos reforçados deste período mais conturbado. Há três componentes-chave que devemos endereçar.

Primeiro, é importante diagnosticarmos os temas que infligem mais fragilidade a esse equilíbrio e tomar decisões no sentido de mitigarmos a sua relevância. No plano organizacional, estas ações podem resultar na análise de dados que permita a reestruturação de um departamento, particularmente, fragilizado. Segundo, temos que analisar o lado positivo e reforçar a intensidade e o número de componentes que contribuem para uma melhoria do bem-estar. Por exemplo, as organizações poderão diversificar o conjunto de clientes que servem e apostar nos canais digitais. Por fim, na base deste plano de ações deverá estar a capacidade de fortalecer as competências que nos permitem identificar vulnerabilidades e delinear planos de ação.

Reforçar as nossas competências com dois instrumentos

Após a crise bancária de 2008, o setor financeiro desenvolveu um teste de stress para assegurar que os diversos intervenientes têm os meios necessários para sobreviver a uma crise futura. No fundo, este teste é um modelo de simulação que ajuda os gestores bancários e os reguladores a avaliar a estabilidade financeira de um banco.

Por exemplo, nos Estados Unidos, os grandes bancos são obrigados a estimar o capital que necessitariam num ambiente com elevado desemprego e um colapso do mercado imobiliário. Este exercício analítico implica, diretamente, na capacidade de resiliência. Recentemente, Joe Biden granjeou o apoio do partido democrático e republicano para estender esta abordagem do sistema financeiro às cadeias de abastecimento mais críticas. Assim, os Estados Unidos serão capazes de identificar possíveis pontos de vulnerabilidade e assegurar as respetivas linhas de ação para garantir a devida robustez.

Nos anos 80, um conjunto de investigadores do mesmo país desenvolveu um instrumento mais simples que visa também aumentar a resiliência: o pre-mortem. Este instrumento de planeamento para atividades e projetos importantes formula um conjunto de hipóteses sobre o que poderá levar a que estas atividades ou projetos claudiquem. Como resultado deste exercício, o pre-mortem pode revelar condições negligenciadas para o sucesso e fatores de risco que têm que ser acautelados. Estes exercícios são extremamente importantes e eficientes, especialmente quando os riscos são elevados como é apanágio da nossa situação atual.

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