Quinta-feira, 11 de Março de 2004

Foi a 11 de Março que perdemos a ingenuidade e a sensação de que estas coisas só acontecem aos outros, lá longe, quase no outro lado do mundo. Fez na quinta-feira 17 anos que a Península Ibérica perdeu a inocência.

Foto
"Ele utilizava por regra algum dos comboios onde sabíamos terem existido explosões? Não. Mas vivia perigosamente perto da Estação de Atocha" ANDREA COMAS/REUTERS

Eram quase 14h em Espanha e ele continuava sem atender o telefone. Ao meu lado, no sofá, ela tremia de forma descontrolada. Na televisão passavam as imagens da Estação de Atocha e o pânico começava a tomar conta de ambas. Quando não aguentei mais, fugi para a rua. Mas a sensação de aperto no peito não se alterou e respirar tornou-se quase impossível. Ele não atendia o telefone porquê? E, depois, porque a nossa cabeça é quase sempre a nossa pior inimiga, o filme começou a compor-se. Na TVE, a jornalista Mavi Donate (há nomes que a gente nunca esquece, mesmo 17 anos depois) falava em directo e, nas suas costas, o cenário era de puro terror. Havia fumo, viam-se destroços e suspeitava-se de que existiriam centenas de mortes e milhares de feridos. E eu já o via lá, morto ou gravemente ferido por uma das dez impiedosas bombas que em quatro minutos mudaram a vida de Espanha e dos espanhóis para sempre.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Comentar