Neste memorial os antigos sites mantêm-se vivos

Serviço Memorial do Arquivo.pt preserva sites antigos para que a sua informação continue a estar disponível para todos. Até agora, já foram conservados 40.

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O Memorial faz parte do Arquivo.pt, um serviço que preserva a informação da Web portuguesa Nuno Ferreira Santos

Mesmo quando um site deixa de ser actualizado tem custos ou vulnerabilidades de segurança. Mas, embora não tenha novos conteúdos, continua a guardar informação importante. Como resolver este problema? A única solução será desligá-lo para sempre? Não, há um serviço que permite preservar os sites sem que seja necessário manter toda a infra-estrutura (como servidores e electricidade), ficando apenas o seu domínio activo. Esse serviço chama-se Memorial do Arquivo.pt e já conserva 40 sites. Todos eles podem ser consultados como se ainda estivessem vivos e há até a opção de um dia voltar a reavivá-los. Quem quiser preservar um antigo site, basta contactar o Memorial do Arquivo.pt.

Este memorial com antigos sites faz parte do Arquivo.pt, um serviço que preserva a informação da Web portuguesa para consulta futura. Aí, pode-se viajar até ao passado dessas páginas criadas desde 1996. Já o Memorial surgiu sobretudo porque se começaram a detectar problemas de segurança com websites que já não eram actualizados e que os proprietários tinham alguma relutância em desligar.

“Quando os websites de projectos que já não têm continuidade deixam de ser actualizados, quer por falta de recursos humanos quer por falta de recursos financeiros, não só ficam a gastar electricidade e CO2 [dióxido de carbono] como também ficam expostos a vulnerabilidades de segurança, que depois são exploradas porque deixa de haver updates de software”, explica João Gomes, director da área de serviços avançados da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), uma unidade da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Depois, existia ainda a difícil decisão de ter de desligar um site.

O Memorial foi a solução encontrada para esses problemas. É feita então uma recolha de alta qualidade desses sites que já não são actualizados: primeiro com robôs e depois com a curadoria humana. Neste processo, interage-se sempre com os proprietários do site. No final, é desligado e o domínio (que fica activo) é reencaminhado para o Memorial. A partir daqui os proprietários só têm de garantir que renovam o domínio, mas podem “desligar as máquinas”, deixando assim de ter custos com o espaço de alojamento ou a manutenção. Esse site fica assim pesquisável em todos os motores de busca e é-se redireccionado para o Memorial. “As pessoas depois navegam no website como estava na sua última versão, passam pelas várias páginas, recolhem informação ou podem ver vídeos e fotografias. Tudo como se estivessem no site ao vivo”, descreve João Gomes.

Quem tiver um site que já não esteja a ser actualizado e o quiser preservar, basta contactar a equipa através do site do Arquivo.pt. Este serviço é gratuito. “Talvez no futuro possamos vir a cobrar às entidades privadas, mas para as públicas será sempre gratuito”, indica o director da área de serviços avançados. O valor que poderá ser cobrado servirá para ajudar no projecto, como com a compra de muito armazenamento para arquivar esses sites. “O Arquivo.pt é um grande consumidor de espaço em disco e todos os anos estamos a comprar mais armários de disco. A Web está sempre a crescer!”

Depois de um projecto-piloto, o Memorial foi oficialmente lançado no Verão de 2020. Já conta com 40 sites e estão a ser recolhidos outros. Por exemplo, estão neste serviço os sites do Dia Nacional do Mar de 2006, da Cimeira da NATO em Lisboa de 2010 ou do extinto Instituto de Informática do Ministério das Finanças. Sobre se ainda há um certo desconhecimento sobre o Memorial, João Gomes refere que “ainda se está a evangelizar” e a divulgar o projecto.

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Antigo site do extinto Instituto de Informática do Ministério das Finanças DR

Sites a “hibernar”

No Memorial, há sempre a opção de voltar a reavivar os sites que estejam aí preservados. Quando um site não é actualizado – e isso acontece muito em projectos governamentais –, fica aí um “buraco de segurança”. A equipa vai então recolhê-lo, desligá-lo e, se o projecto reanimar, pode voltar a colocar o site no activo. “É uma solução, porque de outra forma teria de se desligar completamente”, salienta João Gomes. O site fica assim a “hibernar”. “Os donos podem sempre reavivá-lo. Não queremos é ter buracos de segurança.”

Além das razões apontadas, porque é que tudo isto é tão importante? “Na era da Web nunca se gerou tanta informação, mas também nunca se perdeu tanta”, responde João Gomes. Quando se publica um livro ou um jornal, ficam preservados num depósito legal. O mesmo se pode fazer (através de outros meios) com os websites. A informação contida aí pode depois ser investigada por cientistas em futuros estudos.

Agora, a maior ambição para o Memorial é torná-lo mais conhecido e ter o maior número de websites preservados neste serviço. Já quanto ao Arquivo.pt pretende-se melhorar a capacidade de recolha e irá ser lançado um serviço de pesquisa de imagens. As candidaturas para o Prémio do Arquivo.pt estão também abertas até 4 de Maio. O primeiro prémio é de 10.000 euros e o PÚBLICO é o parceiro mediático. Os trabalhos a concurso devem ser aplicações práticas ou estudos baseados na informação acessível deste serviço.

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João Gomes, director da área de serviços avançados da Fundação para a Computação Científica Nacional Nuno Ferreira Santos

Também no Memorial se quer melhor a capacidade de recolha. “Com o passar do tempo e dos browsers, é sempre um desafio estar sempre a mudar e a mostrar o website como ele era”, frisa João Gomes. “Queremos dar a experiência de recolha a quem vai navegar nele como se o website estivesse vivo. Daqui a 20 anos temos de dar a mesma experiência mesmo com outros browsers e tecnologias.”

É por considerar que o website se mantém vivo que João Gomes diz que não chamam ao Memorial cemitério, que, aliás, foi o primeiro nome sugerido para o projecto. “Era um nome um pouco mórbido e o que vai para o cemitério morreu, mas [os sites] ficam vivos e consultáveis.” E há a opção de um dia voltarem – quem sabe – a viver por si mesmos.

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