Quantos segredos guarda o mar de Vila do Conde?

Município ainda não tem uma carta do património subaquático existente na costa. E está disponível para apoiar investigação ao sítio do Navio do Norte, em Vila Chã.

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Vários navios naufragaram ao largo de Vila chã. Um deles, o Navio do Norte, pode ser a barca inglesa Rollo Adriano Miranda

Como a muitos outros municípios costeiros, a Vila do Conde falta uma carta arqueológica da costa do concelho que tem como limite, a norte, o porto de pesca da Póvoa de Varzim e, a sul, a localidade piscatória de Angeiras, em Lavra, no concelho de Matosinhos. Estes cerca de 12 km em linha recta, ou pouco mais de seis milhas náuticas, partilham, com as comunidades que o Atlântico banha uma história intimamente ligada ao mar. Hoje conhecido pela pesca (também ela com uma conta infindável de naufrágios), o município tem uma história de séculos ancorada na construção naval, no comércio marítimo e na marinharia, e entre barcos e navios que entravam no rio Ave, a que se acrescentam os que ao largo passavam, foram muitos os que se afundaram? Quantos? Ninguém sabe.

Mas o que ninguém duvida é que parte da história da terra se poderia contar melhor acedendo e conhecendo alguns desses tesouros sepultados na costa, e foi por isso com expectativa que o responsável pelo gabinete de arqueologia municipal, Pedro Brochado de Almeida, tomou conhecimento da sugestão de investigação ao sítio do Navio do Norte, em Vila Chã,​ feita pelo arqueólogo subaquático Alexandre Monteiro à Direcção Geral do Património Cultural. A recolha de mais elementos no local deste naufrágio do século XIX poderá confirmar que afinal não se trata do vapor Tiber como se julgava, mas eventualmente um veleiro chamado Rollo, e a sua carga de armamento obsoleto, o que ali jaz.

Para se realizar uma campanha no local é preciso submeter à tutela um pedido de autorização de trabalhos arqueológicos para este sítio. Esse pedido ainda não foi feito mas a autarquia está muito interessada em que essa investigação possa acontecer, adianta o responsável pelo gabinete de arqueologia do concelho. Mas será preciso ajuda especializada de fora. Dos três arqueólogos que trabalham no município de Vila do Conde nenhum faz arqueologia subaquática – embora um deles tenha experiência de mergulho.

Ao trio não falta o que fazer em terra, mas Pedro Brochado de Almeida espera que a concretização do Centro de Artes Náuticas, um projecto de reabilitação do antigo edifício da seca do bacalhau, na foz do rio Ave, possa dar um impulso à investigação do património escondido pelo rio e pelo mar. A iniciativa, que aguarda financiamento dos fundos dos EEA Grants vai centrar-se na salvaguarda das técnicas de construção naval em madeira, mas o arqueólogo explica que a partir deste novo espaço transdisciplinar, o município pretende organizar escolas de verão, com arqueólogos experientes, e poderá acolher projectos de investigação similares ao que agora se propõe para o Navio do Norte. O que impulsionará, acredita, a elaboração de uma carta arqueológica subaquática e um melhor conhecimento dessa outra parte da história de Vila do Conde que ainda está, maioritariamente, por contar. 

 
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