Polícia russa lança campanha de recrutamento gigantesca

Desde que têm havido os protestos contra a detenção de Alexei Navalny, a polícia russa lançou uma campanha de recrutamento de proporções nunca antes vistas. A Guarda Nacional Russa publicou 1607 anúncios de emprego, quando no ano passado só foram 151.

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Desde que Navalny foi preso, milhares de pessoas têm protestado nas ruas russas a exigir a sua libertação. YURI KOCHETKOV/EPA

A polícia de choque russa lançou uma campanha publicitária digital de recrutamento nestas últimas semanas que se seguiram à onda de protestos contra a detenção de Alexei Navalny, o principal opositor do Kremlin.

Entre Janeiro e princípio de Fevereiro, desde que Navalny regressou da Alemanha e foi depois submetido a uma pena de prisão de dois anos e meio, a polícia dispersou à força dezenas de milhares de pessoas que participaram em três protestos por toda a Rússia.

Desde então, tem publicado centenas de anúncios de emprego em páginas de recrutamento, por exemplo o HH.ru, dirigido por empresas como a Headhunter Group, Avito e Superjob.ru. Uma análise da Reuters, feita com dados fornecidos por algumas das companhias de recrutamento, sugere que esta campanha publicitária atingiu proporções muito maiores do que qualquer outra iniciativa deste género de anos passados.

As unidades da Guarda Nacional Russa (OMON), que são responsáveis por supervisionar os protestos na Rússia, publicaram 1.607 ofertas de emprego na plataforma Headhunter entre 24 de Janeiro e 24 de Fevereiro. No mesmo período do ano passado foram afixados apenas 151 anúncios.

No mesmo mês, a principal unidade policial em Moscovo - o Segundo Regimento Especial - também divulgou 608 anúncios de emprego na Headhunter, quando no período do ano passado só foram publicados 11.

“Não é necessária experiência”, lê-se numa descrição de emprego de atiradores-furtivos para o Segundo Regimento Especial, sendo prometido aos candidatos um salário mensal até 70.000 rublos (cerca de 800 euros).

O anúncio foi publicado pela primeira vez na página no dia 21 de Fevereiro e foi partilhado 100 vezes no prazo de quatro dias, disse a assessoria da Headhunter à Reuters.

O Ministério do Interior da Rússia não respondeu a um pedido de comentários da agência Reuters. A assessoria da Guarda Nacional Russa, confrontada com o número de anúncios, disse que a publicação de ofertas de emprego eram "procedimentos habituais” e que não analisou se o número de anúncios estava a aumentar ou não.

Já na plataforma Avito, o número de ofertas de trabalho da polícia de choque afixadas entre 26 de Janeiro e 25 de Fevereiro foi 3,7 vezes superior ao do mesmo período do ano passado e o número de respostas aumentou 5,1 vezes, de acordo com os dados que a empresa partilhou com a Reuters.

Dois polícias da OMON contactados por telefone disseram que a campanha de recrutamento nada tinha a ver com os protestos, mas que reflectia uma necessidade de se substituir as pessoas que estão a deixar o serviço à procura de novas oportunidades. Oito polícias do Segundo Regimento Especial confirmaram que a campanha era maior do que o normal.

“Estamos a fazer um grande esforço nos recrutamentos”, referiu um polícia à Reuters.

Um outro polícia disse que o reforço da contratação é o efeito de uma decisão tomada há cerca de dois anos que ordenou uma expansão do pessoal.

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