Covid-19: Texas decreta regresso à normalidade, sem máscaras e com bares abertos

Decisão do governador Greg Abbott, do Partido Republicano, está a ser criticada por especialistas e decisores políticos que pedem mais cautelas perante as melhorias no número de casos e no programa de vacinação.

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O governador Greg Abbott foi muito criticado nas últimas semanas por causa do colapso da rede energética no seu estado Reuters/LUCAS JACKSON

Ao mesmo tempo que o Presidente dos EUA, Joe Biden, pede aos norte-americanos que se mantenham vigilantes no combate à pandemia de covid-19, apesar da redução do número de casos e da notícia de que haverá vacinas para toda a gente até finais de Maio, alguns governadores do Partido Republicano anunciaram a reabertura total do comércio nos seus estados e declararam o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras.

Na terça-feira, os governadores do Texas e do Mississippi anunciaram que as restrições impostas nos últimos meses vão ser levantadas, argumentando com a redução no número de casos diários desde o início do ano.

Apesar de outros estados terem anunciado o alívio de algumas restrições, só no Texas e no Mississippi é que as medidas foram apresentadas como um regresso à normalidade – algo que os cientistas e a Casa Branca têm dito que está ainda longe de ser uma realidade.

“Chegou a hora de abrir o Texas a 100%. Os pequenos empresários já sofreram muito para pagar as suas contas. Isto tem de acabar”, disse o governador do Texas, Greg Abbott, que foi muito criticado nas últimas semanas por causa do colapso da rede de energia no seu estado.

Para além da reabertura total de todas as actividades comerciais, sem limite de ocupação nem de horário de funcionamento, o governador do Texas rescindiu também a obrigatoriedade do uso de máscara em locais públicos a partir da próxima quarta-feira, 10 de Março.

No Mississippi, o governador Tate Reeves – também do Partido Republicano – decretou o fim da obrigatoriedade do uso de máscara, uma medida que entra em vigor já esta quarta-feira. Todas as restrições impostas nos últimos meses no Mississippi foram transformadas, por ordem do governador, em “recomendações”.

“Hoje assinei o que espero vir a ser um dos meus últimos decretos sobre a covid-19”, disse Reeves na terça-feira. “As nossas hospitalizações caíram a pique e o número de casos desceu de forma dramática. Na verdade, o nosso número de casos caiu ao ponto de nenhum condado cumprir os requisitos para a exigência do uso de máscara.”

"Ainda não acabou"

Nem só nos estados governados por republicanos se nota uma tendência para um alívio das restrições, embora em estados como o Michigan e o Louisiana – onde os governadores são do Partido Democrata – as medidas sejam mais cautelosas.

No Michigan, a governadora Gretchen Whitmer – que foi alvo, em 2020, de um plano de sequestro por radicais que se opõem ao confinamento – anunciou que alguns espaços comerciais vão poder aumentar a sua capacidade de funcionamento. E as pessoas que apresentem um teste negativo vão poder visitar os seus familiares nos lares de idosos.

Mas o clima de confiança em alguns estados dos EUA por causa do reforço da vacinação e da redução do número de casos é também visto como um erro que pode revelar-se trágico nas próximas semanas e meses.

“Eu sei que as pessoas estão cansadas e que querem regressar à normalidade. Mas ainda não chegámos a esse ponto”, avisou, na terça-feira, a directora dos Centros para a Prevenção e Controlo de Doenças norte-americano, Rochelle Walensky.

Na comunicação que fez ao país, também na terça-feira, o Presidente dos EUA anunciou que haverá vacinas para todos os norte-americanos até ao final de Maio, mas salientou que isso não é o mesmo que ter todas as pessoas vacinadas.

“Precisamos de pessoas para administrar essas vacinas nos braços de milhões de americanos”, disse Biden. “São óptimas notícias, mas temos de nos manter vigilantes. Isto ainda não acabou.”

Os especialistas salientam o facto de que a redução no número de casos diários nos EUA desde o início do ano tem de ser vista com muitas cautelas – não só os números estão ainda em linha com o pico do Verão do ano passado, com mais de 65 mil casos por dia, como a relativa estabilização nos últimos dias pode indicar que o país vai assistir a uma nova subida nas próximas semanas.

Foi isso que aconteceu na Sérvia, nas últimas semanas, depois de o país ter decretado um alívio das restrições por causa do sucesso do seu programa de vacinação. Desde 16 de Fevereiro, os números de casos diários na Sérvia quase duplicaram.

Para além dos números, os especialistas pedem cautela para se perceber se as novas variantes do vírus que estão a circular nos EUA podem vir a aproveitar-se do alívio das restrições.

A redução do número de testes em 30% nas últimas semanas, e o facto de dezenas de milhões de norte-americanos ainda não terem sido vacinados – incluindo muitos dos que começam agora a regressar ao trabalho em bares e restaurantes – também estão a preocupar os especialistas e os decisores políticos mais cautelosos.

“É possível que estejamos entre a última grande vaga e o início de um período em que a covid vai ser incomum”, disse o epidemiologista Robert Horsburgh, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, citado pelo jornal New York Times.

“Mas simplesmente não sabemos se isso é verdade. Tenho defendido que devíamos aguentar mais quatro a seis semanas.”

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