Moradores e junta criticam novos caixotes de lixo na Madragoa

Junta da Estrela deu parecer negativo à instalação dos contentores e propõe que as recolhas de lixo diurnas passem a ser competência das juntas.

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Nuno Ferreira Monteiro

Em certo dia de Dezembro, Sofia Magalhães apercebeu-se de que algo não estava igual na Rua das Madres. Uns postes metálicos tinham sido colocados em algumas esquinas e, surpreendeu-se, mesmo por baixo da janela do seu atelier. Indagou pela vizinhança e rapidamente percebeu o que aí vinha, apesar de aos moradores não ter chegado qualquer informação.

Cumprindo um plano traçado há vários anos, a Câmara de Lisboa preparava-se para instalar contentores de lixo na Madragoa, um bairro histórico onde até agora funcionava o sistema de recolha em sacos porta-a-porta.

“É inacreditável, estão a implementar uns pinos de aço para os caixotes mesmo em frente à porta das pessoas. Mesmo em frente à minha janela vão estar cinco contentores”, queixa-se Sofia Magalhães, que organizou um abaixo-assinado com os vizinhos da rua e expôs à câmara o seu desagrado pelas localizações escolhidas. “É uma questão de saúde e é uma questão de segurança”, refere. “Como é que as pessoas vão abrir as janelas?”

Às dúvidas dos residentes somam-se as críticas da Junta de Freguesia da Estrela, que foi chamada pela câmara a dar parecer ao projecto de instalação dos contentores e decidiu apresentar uma ideia alternativa. “Há um problema de gestão de lixo na Madragoa, mas não se resolve com caixotes, resolve-se com mais passagens”, afirma Luís Newton (PSD).

O plano da câmara passa por instalar 122 contentores em 28 locais do bairro. A Rua das Madres, a Rua Vicente Borga e a Rua do Machadinho são as artérias com maior concentração de estruturas. De acordo com o parecer da junta, oito localizações escolhidas põem em causa a circulação pedonal porque os contentores vão ocupar a totalidade do passeio e seis vão traduzir-se em problemas de salubridade e ruído para os moradores, por estarem muito perto de janelas e portas e por as ruas serem muito estreitas.

“Estamos a ter muita contestação da comunidade”, diz Newton. Nas últimas semanas, alguns contentores foram colocados no terreno e tem-se assistido “a uma maior acumulação de lixo na rua”, diz o autarca. Porquê? “As pessoas vêem lá os caixotes e ficam com a expectativa de que vai haver mais recolha.” Só que isso, garante, não acontece.

O PÚBLICO está há várias semanas a tentar chegar à fala com a directora municipal de Higiene Urbana, Filipa Penedos, mas sem sucesso. A Sofia Magalhães, a câmara respondeu que não tencionava mudar as localizações escolhidas e que o plano era para levar por diante.

A substituição dos sacos por contentores nos bairros históricos foi anunciada no início de 2019 no âmbito de um pacote de medidas contra a crise de lixo que então afectava a cidade. A ideia já tinha sido aplicada na Bica e alastrou-se ao Bairro Alto, a Santa Catarina e às Mercês, todos na freguesia da Misericórdia. Seguiu-se Alfama, na freguesia de Santa Maria Maior, e agora já só faltam Madragoa, Castelo e Mouraria.

“Notou-se uma melhoria enorme”, comenta Carla Madeira, presidente da junta da Misericórdia (PS). “Requer alguma adaptação por parte das pessoas, mas as coisas mudaram do dia para a noite. Deixámos de ter sacos de lixo nas esquinas, o que colocava questões de salubridade graves”, afirma. Naquela freguesia, constituiu-se “uma equipa com pessoas da câmara e da junta” que ajudou a perceber os melhores sítios para colocar os contentores e fez “pequenas mudanças” ao plano inicial.

É o que Luís Newton reclama. “Está mais do que provada a necessidade de se ouvir as juntas. Noutros casos, a câmara fê-lo. No caso da Estrela optou por não ouvir”, critica. O autarca identifica um “total desnorte da gestão camarária na Higiene Urbana” e diz que “não só não se resolveram os problemas que vêm de trás como se criaram problemas”.

A solução que advoga é o reforço das recolhas durante o dia, porque muitas vezes o lixo fica horas e horas na rua – sobretudo quando há alojamento local a funcionar, porque os hóspedes geralmente não sabem que há horas próprias para pôr os sacos na rua. “Estava na altura de a câmara transferir para as juntas a recolha do lixo diurno”, diz Luís Newton. Actualmente, as juntas recebem verbas da câmara apenas para recolher o lixo em redor dos ecopontos.

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