Antiga escrava sexual coreana quer que Japão responda na justiça internacional

A sul-coreana Lee Yong-soo diz que a questão só ficará resolvida depois de ser analisada pelo Tribunal Internacional de Justiça.

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Lee Yong-Soo na conferência de imprensa: "Já não há tempo" JEON HEON-KYUN/EPA

Uma antiga escrava sexual de bordéis militares japoneses quer que a acção do Japão na altura da II Guerra em relação às chamadas “mulheres de conforto” seja analisada pelo Tribunal Internacional de Justiça.

A sul-coreana Lee Yong-Soo é uma de 15 vítimas do Japão que ainda estão vivas. No mês passado, um tribunal de Seul condenou o país vizinho a compensar 12 mulheres forçadas a trabalhar nos bordéis para os militares japoneses antes e durante a II Guerra Mundial.

O Japão recusa, dizendo que a questão foi já tratada duas vezes entre o Japão e a Coreia do Sul, num tratado de 1965 que normalizava as relações entre os dois países e num acordo de 2015. Tóquio alega que, por isso, a questão está encerrada.

“Estou desesperada”, disse Lee Yong-Soo, de 92 anos. “Já não há tempo. O meu último desejo é que o Presidente consiga um veredicto com base na lei internacional.”

O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, tem autoridade para decidir sobre disputas entre países. “Peço ao governo que responsabilize o Japão com base na lei internacional”, disse Lee numa conferência de imprensa na terça-feira. “Espero que as duas nações resolvam a questão permanentemente no tribunal internacional e vivam em paz uma com a outra.”

Investigadores e activistas de direitos humanos sul-coreanos estimam que cerca de 200 mil mulheres, a maioria coreanas, foram forçadas a prostituir-se nos “bordéis do exército” mantidos nas várias frentes de guerra, entre o início da década de 1930 e o fim da II Guerra Mundial.

Lee referiu-se ainda a um controverso artigo de um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, Mark Ramseyer, que alegou agora que as “mulheres de conforto”, como são chamadas eufemisticamente no Japão, não foram forçadas, mas sim envolvidas num “processo contratual”.

“Até hoje, nos Estados Unidos, há um professor de Harvard que ainda mente”, disse Lee, chorando ao ler a declaração que tinha escrito. “Não estamos a pedir dinheiro. Queremos um reconhecimento total e um pedido de desculpas.”

Shin Hee-seok, investigadora do Instituto de Estudos Legais da Universidade Yonsei que está a ajudar as vítimas no processo de apresentação do caso ao TIJ diz que “há constrangimentos significativos” para que as vítimas consigam o seu objectivo, que é “um pedido de desculpas, reconhecimento e educação histórica”.

Por isso, é importante levar a questão ao TIJ, já que “qualquer que seja o veredicto, deverá haver uma decisão relativa a se as ‘mulheres de conforto’ foram uma violação das leis internacionais, e os testemunhos das vítimas vão manter-se como prova”.

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