Super Bowl sobrevive à pandemia com a ajuda de um milhão de testes

Membros das 32 equipas foram testados diariamente durante a época, com dois testes por dia para os finalistas. Redução do número de adeptos no estádio será principal mudança.

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Maior jogo do ano tem início às 23h30 deste domingo LUSA/CJ GUNTHER

Não se pode dizer que seja uma surpresa que o SuperBowl se realize como previsto, mesmo durante uma pandemia que nos Estados Unidos já viu quase 27 milhões de infectados e 460 mil mortes provocadas pelo vírus. A verdade é que um dos maiores eventos desportivos do mundo, com início marcado para as 23h30 deste domingo, nunca esteve em causa. A principal razão para esta “normalidade” vista na temporada de futebol americano deve-se à política de testes implementada atempadamente pela Liga Nacional de Futebol Americano (NFL, na sigla em inglês).

Realizaram-se praticamente um milhão de testes a jogadores, membros das equipas técnicas e staff em menos de seis meses. Ciente do tsunami de críticas a que estaria sujeita caso a competição se tornasse solo fértil para surtos, a NFL decidiu testar diariamente todos os intervenientes nas partidas. Com a chegada dos play-off, este regime ficou ainda mais rígido, voltando a apertar novamente quando se conheceram as equipas finalistas. Nas últimas duas semanas, os membros dos Tampa Bay Buccaneers e Kansas City Chiefs são obrigados a fazer dois testes à covid-19 por dia.

“A NFL fez um grande esforço para controlar a pandemia. Entre os dias 1 de Agosto e 15 de Janeiro realizaram-se 957.400 testes às equipas, são números inacreditáveis”, adianta André Amorim, ex-treinador da selecção nacional de futebol americano e comentador da modalidade na Eleven em declarações ao PÚBLICO. 

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Espectáculo do intervalo será de The Weeknd Perry Knotts/Reuters

Apesar das precauções recomendadas pela NFL junto dos jogadores, seria impossível que não surgissem infecções nas equipas durante a época. No total, as autoridades de saúde detectaram mais de 700 casos de covid-19 entre jogadores e membros do staff, universo que engloba cerca de 15 mil pessoas repartidas por 32 equipas.

O primeiro surto aconteceu nos Tennessee Titans na quarta semana da temporada, com 23 casos positivos. Foram adiados alguns jogos da equipa, com a NFL a ajustar os protocolos sempre que surgiam novos casos: os contactos de alto risco, por exemplo, passaram a ficar em isolamento durante cinco dias, algo que não acontecia nas primeiras semanas da época. Apesar de alguns ajustes de calendário, foram completados todos os jogos sem complicações de maior.

Espectáculo não sai beliscado

Prestemos agora atenção ao lado do espectáculo deste jogo. Neste capítulo, a pandemia não mudou muito, tirando o número reduzido de adeptos que podem sentar-se nas bancadas do Raymond James Stadium, casa dos Buckaneers e palco do Super Bowl. Os bilhetes — que costumam ir apenas para os adeptos com as carteiras mais recheadas — estão ainda mais difíceis de conseguir, dada a curta oferta. Como forma de homenagem, a NFL reservou parte da lotação para quem esteve na linha da frente no combate à pandemia.

“O Super Bowl vai ter 22 mil pessoas no estádio, 7500 serão profissionais da área da saúde e as restantes 14.500 adeptos. Acima de tudo vai ser um grande espectáculo — claro que perde por não ter estádio cheio. Julgo que a actuação no intervalo, que será do The Weeknd, será fantástica para quem valoriza mais a vertente artística [do evento]. Vai ser um Super Bowl em grande”, acredita André Amorim.

É verdade que a CBS, emissora que transmitirá o jogo em directo nos Estados Unidos, demorou mais tempo este ano para preencher as pausas publicitárias do encontro. Contudo, as grandes marcas não perderam a oportunidade de marcar presença no espaço televisivo mais cobiçado do ano: mesmo que, por 30 segundos de publicidade, tenham de desembolsar 4,57 milhões de euros.

Brady versus Mahomes: o duelo redutor

Por fim, olhemos para o que se vai passar no relvado. De um lado, temos os Kansas City Chiefs, vencedores do Super Bowl no ano passado e indiscutivelmente a maior força ofensiva da modalidade. Liderados por Patrick Mahomes, quarterback de 25 anos, a equipa obliterou os Bills por uma vaga no Super Bowl, dando a volta a uma desvantagem de nove pontos cavada nos minutos iniciais do jogo. Em pouco mais de dez minutos, os Chiefs marcaram 21 pontos sem resposta, gerindo depois a vantagem até ao final da partida.

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Tom Brady quer acrescentar mais um anel de campeão à colecção ADREES LATIF/Reuters

No lado dos Buccaneers está uma pessoa muito habituada a estas andanças. Tom Brady, histórico jogador dos New England Patriots, mudou-se no final da época passada para a equipa de Tampa, conseguindo guiar a formação até à recta final da competição. Aos 43 anos, este será o décimo Super Bowl em que o quarterback participa, procurando somar o sétimo anel de campeão à colecção e colocar um ponto final ao jejum de títulos dos Buccaneers, que se prolonga há 18 anos. Pode ser que o “factor casa” tenha um impacto positivo nessa ambição: pela primeira vez na história do Super Bowl, um dos finalistas decidirá no seu próprio estádio o título da NFL.

Apesar de o holofote mediático se virar inevitavelmente para estes dois homens, André Amorim chama a atenção para outros duelos nos bastidores. “A narrativa leva-nos para Brady e Mahomes, mas acho que não será por aí que o jogo será decidido. Vai existir um duelo mais estratégico entre o Andy Reid, head coach dos Chiefs e quem chama as jogadas ofensivas, e o Todd Bowles, coordenador defensivo dos Buccaneers”, relata o comentador da Eleven.

Para o antigo seleccionador, os Chiefs são os favoritos para levar de vencida a partida deste domingo, mas a experiência de Tom Brady deve ser tomada em conta. “Há quatro anos, os Patriots estavam a perder por 25 pontos no final do terceiro quarto contra os Falcons, conseguiram empatar o jogo e ganhar no prolongamento. Isso diz-me que o Brady tem não só essa experiência, mas a resiliência de saber fazer as coisas acontecer, mesmo quando isso parece impossível. Aliás, essa foi a principal contribuição para os Buccaneers este ano”, resume André Amorim.

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Mahomes é o impulsionador do ataque dos Chiefs Denny Medley/Reuters

Em Portugal, o Super Bowl terá transmissão na Eleven1 ao final da noite de domingo. A antevisão tem início marcado para as 22h45, com o pontapé de saída a dar-se às 23h30. Para os fãs que preferirem a transmissão norte-americana do jogo, será disponibilizada a emissão da CBS na Eleven2, com os comentários de Tony Romo e Jim Nantz.

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