Brady e Patriots, um casamento forçado que chegou ao fim

A falta de notoriedade do futebol americano na Europa faz Tom Brady ser menos conhecido do que Michael Jordan, Tiger Woods, Floyd Mayweather, Serena Williams, Michael Phelps ou mesmo Simone Biles. Mas, nos Estados Unidos, Brady entra nesta galeria de imortais.

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Brady em acção pelos Patriots. Reuters/KEVIN LAMARQUE

198 jogadores foram escolhidos à frente de Tom Brady no draft da Liga de Futebol Americano (NFL), em 2000. Noutras palavras, todas as equipas da NFL tiveram, pelo menos, cinco oportunidades de escolher Brady, mas ignoraram-no sistematicamente, uma após a outra. De outra forma ainda: quase 200 jovens talentos despertaram mais interesse do que o homem que se tornou o melhor jogador de sempre.

Nesse ano, os New England Patriots lá “pescaram” o californiano Brady na 199.ª escolha do draft – queriam-no como quarta opção para a sua posição, para preencher o plantel – e o jovem Tom lá foi, quase a custo, desanimado por ter ficado bem longe do top-70 que projectara, tornando-se, quase unanimemente, o maior “roubo” da história dos drafts. Mas quem disse que um casamento forçado não pode durar?

20 anos depois de se ter juntado aos Patriots, Tom Brady, agora com 42 anos, vai deixar a equipa que lhe deu tudo. E à qual deu tudo. Na verdade, juntos, deram tudo um ao outro.

Foram seis títulos da NFL – os únicos seis dos Patriots são os seis de Brady –, nove participações no Super Bowl (final da NFL), quatro prémios de melhor jogador do Super Bowl e três de melhor jogador do campeonato, entre um largo cardápio de outras distinções individuais e colectivas.

“Às vezes, na vida, leva algum tempo para que apreciemos verdadeiramente algo ou alguém, mas não é o caso do Tom”. As palavras são de Bill Belichick, o treinador que apostou em Tom Brady na NFL, e atestam uma evidência: Tom Brady conseguiu o respeito em tempo útil.

Como qualquer super-estrela, Brady é venerado por quem já fez celebrar vezes sem conta e odiado por quem já várias vezes deixou de mãos a abanar. Mas, mesmo com a famosa acusação de ter pedido para reduzir a pressão das bolas antes de um jogo de play-off (estratégia que o beneficiaria em campo), em 2015, Brady é respeitado por quase todos. E isso, num desportista de topo, já é um feito e tanto.

Método, sempre ele

Brady sempre fez da inteligência uma arma dentro e fora do campo: dentro, porque sempre se valeu mais da leitura de jogo do que das habilidades técnicas ou da força corporal num desporto muito físico, e fora, pela conduta perfeita que teimou em adoptar ano após ano.

Com descanso religiosamente cumprido, muito cuidado com o corpo, zero álcool e poucos desvios, o jovem Brady tornou-se veterano Brady num desporto que não costuma permitir uma longevidade sequer semelhante à do californiano. Aos 42 anos, começa a parecer que Tom Brady quer jogar para sempre – e chegar a esta idade, no futebol americano, é pouco menos do que “para sempre”.

O anúncio de que o casamento entre Brady e os Patriots chegou ao fim chocou a NFL, com a formação de New England a explicar que as duas partes não chegaram a acordo para que se cumprisse o sonho de o fim de Brady ser feito com uma camisola dos Patriots.

“Apesar de a minha viagem no futebol americano ser continuada noutro lugar, valorizo tudo o que alcançámos e estou grato pelas nossas conquistas como equipa (…) vocês permitiram-me maximizar o meu potencial e isso é tudo o que um jogador pode desejar”, disse o jogador, como anúncio do divórcio.

Começa nesta quarta-feira o período para negociações com jogadores sem contrato, como é Brady, e, apesar de os desempenhos do “quarterback” terem piorado na última temporada, é garantido que haverá uma autêntica “corrida ao ouro”.

Os Tampa Bay Buccaneers, da Florida, e os Los Angeles Chargers, da Califórnia, são apontados como os favoritos nesta corrida, mas o próprio Brady fez questão de não revelar detalhes sobre o futuro.

Agora, Brady e os Patriots já não serão um só. A lenda da NFL chegaria a um nível supremo de grandiosidade se fosse campeão em qualquer outro sítio, sem os “seus" Patriots, e, depois de seis títulos da NFL e sete de MVP, entre finais e fases regulares, tem 13 boas razões para acreditar que, sozinho, também consegue.

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