Ainda não há estudos que expliquem isto

Não tenho opinião formada sobre se as escolas se deveriam manter abertas ou não. E não tenho porque não detenho os estudos sérios, as variáveis, todo um conjunto ideal que me possa levar a tomar decisões o mais acertadas possível. E o que pode ser uma decisão acertada no meio do caos?

A expressão “Os estudos indicam que” faz, recorrentemente, parte do léxico dos ambientes informativos e podem ter tanto de científico como de entediante e bacoco. A sua utilização massiva permite, também, enviesar ideias e fundamentar todos os argumentos. Na mercearia da Ciência existirá sempre um estudo que serve o meu propósito. Será sempre o mais viável e o correto.

Um estudo é uma carta na manga, um passe VIP para a obtenção de credulidade e de continência. Dependendo de quem o usa, fica no mesmo patamar das miss que querem paz no mundo e das pessoas que apregoam “Porque eu sou uma pessoa que...”. É frequentemente esquecido que é preciso analisar o estudo para o envergar.

Há estudos para todos os gostos nesta dicotomia “Escola aberta vs. escola fechada”, e dentro da minha gaveta da moralidade, que dança ao som dos casos diários, seleciono o estudo que melhor serve o estado emocional daquele dia. É assim que nos encontramos. As opiniões mais equilibradas são bombardeadas com estudos até que os estudos entrem pela nossa gaveta e nos convertam.

Em momento de assunção das falsas promessas de um arco iris antigo, todos sabemos que não vai ficar tudo bem. Ninguém sairá incólume no processo. Ninguém sairá triunfante.

Não tenho opinião formada sobre se as escolas se deveriam manter abertas ou não. E não tenho porque não detenho os estudos sérios, as variáveis, o que tirar e pôr para melhor equilibrar, todo um conjunto ideal que me possa levar a tomar decisões o mais acertadas possível. E o que pode ser uma decisão acertada no meio do caos? Não só aquele que reina nos hospitais, mas também o caos espartilhado nas diferentes emoções à flor da pele, nas diferentes histórias de cada um que nos fazem aventar disparates e crenças individuais, de contextos tão específicos, que não podem ser o único exemplo e resposta correta. Ainda não há estudo certeiro para minimizar e acabar com a intolerância.

Como mãe facilitaria que a escola estivesse aberta, mas aceito e compreendo. Como professora sei as lacunas e as fragilidades que ficaram do ensino à distância e por isso não é de ânimo leve que encaro o fecho das escolas. Mas é fácil compreender esta inevitabilidade. Não sou especialista e por isso parece-me ser necessário, mais do que atirar, de uma forma cega, opiniões e estudos do meu quintal, ouvir e perceber as razões.

Não colocar o ensino à distância nestes 15 dias parece-me sensato, nada se perde. Baixam-se os níveis de ansiedade e aproveita-se para refletir sobre a necessidade de criar competências para a autonomia, mais do que massacrar, pelo medo de falhar e deixar para trás algo bombardeando os alunos com fichas, fichas e atividades “para ser o primeiro a entrar na faculdade”.

Há muito ruído. Um ruído que tem toldado o discernimento, a calma e a inteligência. Sem qualquer referência católica, os vazios descritos recentemente por Tolentino Mendonça são a base deste ruído. Disparos constantes que não são mais do que gritos de revolta e pedidos de ajuda. Tudo é quase percetível, mas nem tudo pode ser acatado.

“Os estudos indicam que” é uma frase perigosa porque tanto é usada pelos preguiçosos e impostores como pelos que estudam. Pelos que se informam de facto. E, por detrás de muita assertividade e segurança, residem perigosos chacais que se alimentam da ignorância alheia.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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