Agricultores indianos invadem Forte Vermelho de Deli em protesto contra reformas de Modi

Manifestação de dois meses culmina com a invasão do histórico complexo após confrontos com a polícia. É uma das maiores ameaças ao Governo indiano desde a eleição de Narendra Modi, em 2014.

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Os líderes do protesto dizem que não concordam com a ocupação do Forte Vermelho Reuters/ADNAN ABIDI

Milhares de agricultores indianos derrubaram as barreiras de segurança que protegiam o Forte Vermelho de Nova Deli e invadiram o histórico complexo, no auge de um protesto contra as reformas para o sector agrícola anunciadas pelo Governo de Narendra Modi. 

Os agricultores acusam o Governo de beneficiar as grandes cadeias privadas em detrimento dos pequenos produtores, e estavam há quase dois meses acampados nas imediações da capital indiana.

O protesto contra as reformas na agricultura é um dos maiores desafios ao Governo indiano desde a eleição do primeiro-ministro Narendra Modi, em 2014.

O corpo de um manifestante, enrolado numa bandeira da Índia, jazia numa das ruas do centro de Deli, depois de o tractor que conduzia ter capotado no meio dos confrontos com a polícia.

Uma testemunha disse à agência Reuters que pelo menos cinco polícias e três manifestantes ficaram feridos já no interior do Forte Vermelho, de cujas muralhas Modi faz um discurso anual.

As cenas caóticas nas imediações do complexo contrastavam com as imagens televisivas de uma parada militar no centro da cidade, na comemoração do Dia da República.

“Modi vai ouvir-nos agora, ele tem de nos ouvir”, disse Sukhdev Singh, de 55 anos, um agricultor do estado do Punjab, no norte do país. 

A marcha dos agricultores começou na zona norte de Nova Deli em direcção ao centro da cidade, área onde estão localizados os principais edifícios do Governo indiano. Com a ajuda de gruas e cordas, derrubaram as barreiras de segurança e forçaram a polícia antimotim a recuar. Algumas centenas de manifestantes saíram da multidão, alguns deles montados a cavalo, e invadiram o forte.

O organizador dos protestos, Samyukt Kisan Morcha, disse à Reuters que os grupos que se afastaram da principal manifestação “não representam a maioria dos agricultores”.

“Nenhum dos líderes desapareceu. Estão todos a manter-se no caminho traçado inicialmente”, disse o sindicalista.

O sector da agricultura emprega cerca de metade da população indiana de 1,3 mil milhões e os protestos de 150 milhões de pequenos produtores é uma grande preocupação para o Governo de Modi.

As duas partes tentaram chegar a acordo ao longo de nove rondas de negociações, mas os agricultores não aceitaram a última proposta do Governo no sentido de adiar a aplicação das reformas por 18 meses. Em vez disso, os pequenos produtores exigem que o Governo deixe cair as suas propostas imediatamente.

“Os sindicatos do sector agrícola têm um grande peso”, disse Ambar Kumar Ghosh, um analista do think tank indiano Fundação Observatório de Investigação. “Eles têm os meios para mobilizarem apoio e para manterem os protestos durante muito tempo. E também têm obtido sucesso a manterem o protesto muito focado.”

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