Passos Coelho vs. “geringonça”: um resumo do debate entre Marisa Matias e Tiago Mayan

Debate entre a candidata apoiada pelo Bloco e o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal foi o penúltimo dos frente-a-frente, antes do debate com todos os candidatos, no dia 12.

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Marisa Matias vs. Tiago Mayan Gonçalves

Trinta minutos de pura doutrina. O debate entre Tiago Mayan Gonçalves e Marisa Matias mostrou dois espaços políticos distintos, dois candidatos que não disputam o mesmo eleitorado e duas visões para o país que não podem coabitar. Mas não foi só um frente-a-frente entre o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal e a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda. Foi também uma espécie de Passos Coelho vs. “geringonça”, como ficou claro nos últimos minutos do debate.

A pretexto de uma troca de argumentos sobre leis laborais, Tiago Mayan sublinhou que “as desigualdades são tremendas” em Portugal e criticou a política que conduz aos baixos salários e ao elevado desemprego jovem. “Não vamos criar uma realidade alternativa. Não foram os liberais que estiveram no Governo nos últimos anos. As políticas laborais que temos não são liberais”, disse, numa crítica directa à governação de António Costa, que entre 2015 e 2019 foi apoiada pelo PCP, pelo PEV e pelo Bloco.

Se me quer colar à ‘geringonça’, pode colar. Eu apoiei-a”, respondeu Marisa Matias, lembrando que foi esse projecto que permitiu reduzir propinas e criar passes sociais mais baratos. “As pessoas em Portugal não se esqueceram do que foram as políticas liberais com Passos Coelho, no tempo da troika.”

E foi assim, para evidenciar uma clivagem entre dois projectos políticos alternativos, que o antigo primeiro-ministro do PSD foi chamado ao debate, logo a seguir à “geringonça”. “Já cá faltava a teoria de que culpa é do Passos”, desabafou o liberal. Tiago Mayan e Marisa Matias têm propostas para o futuro do país, mas ela inspiram-se no passado recente.

O esforço dos dois candidatos para mostrarem o que os distingue foi notório noutros temas abordados, como o estado de emergência e o acesso à saúde. Neste último, Marisa Matias acabou a fazer uma pergunta que teve de ser ela própria a responder. “Sabe o que quer dizer a sigla ADSE? Pergunto-lhe.” Perante a ausência de réplica do adversário, avançou: “Assistência na Doença aos Servidores Civis do Estado”. Discutia-se, por esta altura, se o acesso à saúde devia incluir os privados ou privilegiar o SNS. “Temos uma diferença de fundo”, conclui a bloquista depois de ambos esgrimirem argumentos. 

Em matéria de resposta à pandemia, Marisa Matias defendeu que é preciso "ouvir os especialistas e autoridades de saúde e retirar conclusões que permitam ter a resposta mais adequada”, mas reconheceu que há sinais muito preocupantes. “O estado de emergência é um instrumento que nos permite dar uma resposta porque não temos outro quadro legislativo. Permite reduzir os contactos e isso ajuda a conter os contágios, mas temos de dar às pessoas condições para cumprir medidas exigentes”, defendeu, dando como exemplos as respostas sociais e os apoios económicos.

Tiago Mayan Gonçalves repetiu que “o país não aguenta um novo confinamento generalizado” e lembrou que o primeiro-ministro também o disse. “Se está a mudar de opinião, algo se passa”, concluiu, acrescentando que na terça-feira estará na reunião do Infarmed “para ouvir e para perceber que medidas o Governo quer implementar e porque são necessárias”. No entanto, acabou por reconhecer que “se o cenário for de guerra, com pessoas a morrer à porta dos hospitais com todo o tipo de doenças, isso é diferente”, mas "significa que o Governo falhou”.

A bloquista não perdeu a oportunidade para sugerir ao liberal que se retractasse por ter sugerido que a ministra da Saúde é responsável pela morte de 10 mil pessoas. Tal não aconteceu.

Na sondagem mais recente sondagem da Pitagórica divulgada pela TVI e pelo Observador, Marisa Matias e Tiago Mayan Gonçalves surgem separados por dois pontos (a bloquista com 4.3% e o liberal com 2,1%). Numa anterior, realizada pelo Centro de Estudos e Sondagens da Universidade Católica Portuguesa (CESOP) para o PÚBLICO e para a RTP, divulgada ainda em Dezembro, Marisa Matias surgia com 5% e Tiago Mayan Gonçalves com 1%.

Depois deste debate, na SIC Notícias, resta apenas o frente-a-frente entre João Ferreira e Vitorino Silva, na RTP3 (nesta sábado às 22h45), antes do debate com todos os candidatos, no dia 12 de Janeiro (às 22h).

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