Impasse nos apoios já está a afectar a vida de milhões de norte-americanos

Concessão de apoios extraordinários por causa da pandemia de covid-19 foi interrompida este sábado após Donald Trump exigir alterações ao acordo firmado entre democratas e republicanos. Cerca de 14 milhões de desempregados dependem destes apoios de emergência.

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Pandemia fez disparar o número de desempregados nos Estados Unidos Reuters/Bryan Woolston

O anúncio, após duras negociações entre republicanos e democratas, de um novo pacote de apoios de 900 mil milhões de dólares (perto de 735 mil milhões de euros) parecia demonstrar que as divisões políticas não punham em causa o apoio à população e às empresas. No entanto, essa imagem foi desfeita após Donald Trump ter sinalizado, de surpresa, que via como insuficiente o valor de 600 dólares a ser entregue a cada pessoa que ganhe menos de 75 mil dólares por ano, uma das medidas emblemáticas do pacote, exigindo o seu aumento para 2000 dólares. E, sem a sua assinatura, o acordo é apenas uma folha de papel.

Os democratas já fizeram uma tentativa para um novo consenso junto dos republicanos, que se revelou frustrada, mas, mesmo que se chegue a um entendimento, a acção de Trump, que só se pronunciou sobre os termos do acordo quando este já estava mais do que fechado (tendo sido representado nas negociações pelo seu secretário de Estado do Tesouro, Steve Mnuchin), já está a ter impactos negativos junto de milhões de pessoas. Isto porque, depois de terem recebido o último apoio financeiro este sábado, paira agora uma incógnita sobre quando voltarão a ter mais dinheiro no bolso.

O pacote de 900 mil milhões de dólares engloba outras medidas além dos cheques directos, como o reforço do subsídio de desemprego, apoios às rendas (através de dinheiro e de moratórias) e de ajudas (empréstimos) às empresas para o pagamento de salários.

De acordo com a Reuters, há cerca de 14 milhões de norte-americanos desempregados a depender destes apoios de emergência, que começaram a chegar ao terreno em Março, no início da pandemia de covid-19 e da destruição de postos de trabalho.

Uma dessas pessoas é Meghan Meyer, mãe de dois filhos de Lincoln, no Nebrasca, e que foi afectada pela estratégia política de Trump, menos de um mês antes de a presidência passar para Biden. “Não sei o que vou fazer”, afirmou Meghan à Reuters, por telefone. Esta norte-americana de 39 anos estava a receber, até sábado, 154 dólares por semana. O valor subirá para 454 dólares se Trump assinar a nova lei, mas passa a zero se nada acontecer. “É a diferença entre conseguir comprar comida ou não”, sublinhou Meghan.

Não é impossível que Trump assine o diploma que define os apoios, tal como ele está – embora seja improvável , ou que as duas forças políticas cheguem a um entendimento, mas isso já não evitará impactos negativos no terreno.

Primeiro, há um ambiente de indefinição e, certamente, de frustração, face ao impasse que se verifica. Depois, conforme escreveu o New York Times, mesmo que o projecto de lei avance no final desta legislatura, a 3 de Janeiro, o atraso fará com que se verifique uma interrupção na entrega semanal dos apoios. Há também a hipótese de o processo ficar parado até à chegada de Biden à Casa Branca, marcada para 20 de Janeiro – e que teria de pensar em novas ajudas, já que as que estão agora em cima da mesa têm meados de Março como horizonte final.

Este envelope financeiro está ligado a outro, ainda maior, de 1,4 mil milhões de dólares para o orçamento federal, pelo que, se a lei não for aprovada, o Governo fica sem poder funcionar.

O próximo passo será dado esta segunda-feira, quando os democratas avançarem, conforme previsto, com o aumento do valor dos cheques na Câmara dos Representantes – onde dominam. Se os republicanos não seguirem os mesmos passos no Senado, onde detêm a maioria, pode haver ainda uma solução rápida para o dinheiro que permitirá ao Governo continuar a funcionar, através da criação de uma linha de curto prazo. Mas isso não irá servir para pagar a conta do supermercado de Meghan Meyer.

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