Números das matrículas confirmam máximo histórico de entradas no ensino superior

Cerca de 5000 estudantes não fizeram a inscrição nas universidades e politécnicos, apesar de terem garantido a colocação, o que está em linha com os anos anteriores. Mais alunos em 1.ª opção ajudam a explicar resultado.

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O total de colocados no ensino superior aumentou 15% face ao ano anterior, um crescimento sem precedentes Paulo Pimenta

As matrículas concretizadas no início deste ano lectivo confirmam que foi atingido um máximo histórico de entradas no ensino superior. Os responsáveis do sector temiam que, com o aumento extraordinário de colocados, conjugado com os efeitos da crise económica, houvesse mais desistências, o que não se concretizou. O total de estudantes que não confirmaram a sua inscrição está em linha com os anos anteriores.

No total das três fases de acesso matricularam-se 55 mil estudantes no ensino superior público, mais seis mil do que no ano anterior. Cerca de 5000 colocados não concretizaram a inscrição. Além disso, “verificou-se uma maior permanência dos estudantes nas colocações obtidas”, nota fonte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES).

Olhemos os números. Na 1.ª fase do concurso, que é aquela onde são colocados mais alunos, 51 mil garantiram um lugar no ensino superior. Destes, houve 10% que não concretizaram a inscrição, o que significa uma descida de um ponto percentual face ao ano anterior. O valor registado este ano é o mais baixo desde 2016, segundos os números disponibilizados pelo MCTES, ainda que a tendência neste período seja de relativa estabilidade – a taxa de desistência varia entre os 10% e os 12%, verificados em 2017 e 2018.

O total de colocados no ensino superior aumentou 15% face ao ano anterior, um crescimento sem precedentes. Este facto, aliado aos efeitos da pandemia sobre os rendimentos das famílias, tinham levado os responsáveis do sector a expressar receios de que muitos destes alunos acabassem por não concretizar a inscrição.

Os números mostram que esse receio não se concretizou, ao mesmo tempo que “o ritmo de anulação de inscrições também é muito reduzido”, avança o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, com base em dados das instituições.

O fenómeno explica-se, em parte, pela “maior satisfação” dos alunos, aponta o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Sousa Pereira. Em termos absolutos, “houve mais alunos a entrar na 1.ª opção”, acrescenta, lembrando que os estudos têm mostrado que os estudantes que entram no curso preferido são os que menos desistem do ensino superior. Quem entra no plano B ou C, “à primeira dificuldade, desiste”.

O MCTES tomou uma série de medidas extraordinárias no concurso nacional de acesso deste ano, face ao número elevado de candidatos – 62.561, o mais elevado desde 1996. Além de autorizar as instituições a aumentar o total de vagas com o concurso já em andamento, também permitiu aos estudantes mudar as suas preferências, o que facilitou as entradas nos cursos desejados.

Por outro lado, face ao contexto de crise económica, o ensino superior não tem, este ano, que “competir com o mercado de trabalho”, recorda o presidente do CRUP. Nos últimos anos, face ao crescimento do emprego, havia muitos jovens que não prosseguiam os estudos face à expectativa de começarem a ter rendimento no imediato. “Hoje em dia, não têm essa alternativa”, sublinha Sousa Pereira.

Reforço da acção social ajuda

Os responsáveis do ensino superior admitem que as medidas de reforço da acção social possam ter tido um papel no facto de a maioria dos alunos colocados terem concretizado a sua inscrição nas universidades e politécnicos. “Vale a pena analisar o impacto das medidas de apoio social”, aponta Pedro Dominguinhos, do CCISP. “O sistema de acção social é robusto e foram tomadas uma série de medidas que facilitaram muito as coisas”, valoriza, por seu turno, o presidente do CRUP, António Sousa Pereira.

As candidaturas às bolsas de estudo ainda estão a decorrer, mas já foi atingido o número mais alto de candidatos dos últimos anos. Os alunos entraram no ensino superior sabendo que o valor das bolsas ia aumentar, o que, conjugado com uma nova redução da propina máxima (fixada agora em 697 euros), significou que, pela primeira vez, o apoio atribuído aos estudantes carenciados é superior aos custos de frequência das instituições. As alterações no limiar de elegibilidade para os apoios sociais significam também que há mais estudantes em condições de serem apoiados. Estas medidas resultaram das negociações do Orçamento do Estado de 2020 e do Orçamento Suplementar, tendo entrado em vigor em Setembro.

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