Inquérito inicial mostra comerciantes “satisfeitos” com as ruas sem trânsito

O estudo obteve respostas de apenas 18 inquiridos de três ruas, o que é visto como uma fragilidade a corrigir em futuros trabalhos. Oito restaurantes puderam ampliar as esplanadas.

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A Rua dos Bacalhoeiros foi a primeira intervencionada Daniel Rocha

A notícia agitou a habitual pacatez do Verão lisboeta: uma rua do centro histórico estava a ser pintada de azul. Idealizada pela câmara municipal, a iniciativa destinava-se a aumentar o espaço pedonal e a permitir aos restaurantes que montassem esplanadas na rua num momento em que já decorria o desconfinamento, mas continuava a ser necessária distância entre pessoas.

Meio ano depois, como tem corrido a experiência? Um primeiro inquérito aos comerciantes de três ruas do centro revela que a maioria está contente com as mudanças. Na última semana de Novembro, 23 estabelecimentos foram contactados para responder às perguntas da autarquia e 18 responderam. Um universo estatístico tão pequeno e só terem sido ouvidos comerciantes das ruas fechadas ao trânsito, e não das ruas próximas ou outros cidadãos, são apontados como “principais fragilidades” no relatório final do inquérito, a que o PÚBLICO teve acesso.

O estudo incidiu sobre a Rua dos Bacalhoeiros (que foi a primeira a ser intervencionada), a Rua Nova da Trindade e a Rua João das Regras. As três situam-se na Baixa e no Chiado, na freguesia de Santa Maria Maior, e os restaurantes são o tipo de estabelecimento dominante. Dos 18 comerciantes que responderam, oito têm restaurantes que ampliaram a esplanada com o fecho das artérias ao trânsito, cinco já tinham esplanada e não lhe mexeram, três continuaram sem esplanada. Foram registadas ainda duas respostas de outros tipos de estabelecimentos.

Como é o caso da loja de ferragens Costa & Costa, na Rua João das Regras. Quase centenária, a casa está, como quase todo o comércio da capital e do país, a passar por momentos desafiantes. “Tenho menos 30% ou 40% de movimento do que tinha”, diz Maria Filomena Costa ao PÚBLICO. Para ela, a única consequência de a rua ter ficado interdita ao trânsito foi as cargas e descargas terem ficado “um bocadinho mais complicadas”, porque os carros já não podem parar em frente à loja. “Há ali um lugar para cargas e descargas, mas as pessoas metem lá os carros para não pagarem parque”, lamenta a lojista.

A melhoria das cargas e descargas, a necessidade de obras nos pavimentos, mais iluminação, o encerramento total ao trânsito e a realização de mais eventos são alguns pontos que os comerciantes que responderam ao inquérito gostariam de ver tratados pela câmara.

Dos inquiridos, 14 mostram-se “satisfeitos” ou “muito satisfeitos” com a iniciativa, três dizem-se “nem satisfeito, nem insatisfeito” e um está “insatisfeito”. O negócio “melhorou” e “melhorou muito” para 13 estabelecimentos, “piorou muito” para um e “não melhorou, nem piorou” para os restantes quatro.

À pergunta sobre se aumentou a clientela, as respostas foram mais divididas. Oito comerciantes dizem que a rua sem trânsito “trouxe mais clientes” e sete dizem que “trouxe menos”, enquanto os outros três não notaram diferença no movimento. Também no que respeita ao consumo há semelhante divisão. Sete inquiridos sustentam que as vendas aumentaram, oito dizem que se mantiveram iguais e três afirmam que as vendas diminuíram.

Questionados sobre o que pensariam se a rua voltasse a ter trânsito, 14 inquiridos declararam que ficariam “muito insatisfeitos” ou “insatisfeitos”, enquanto três se mostrariam “satisfeitos” e um “nem satisfeito, nem insatisfeito”.

Os técnicos que assinam o relatório assinalam que o resultado é globalmente positivo, mas sublinham também que este é “apenas o inquérito inicial”. A câmara e a junta de Santa Maria Maior prometeram para o fim do ano uma avaliação mais robusta a estas decisões.

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