Lisboa tem agora uma rua pintada de azul – e seguem-se mais

Intervenção na Rua dos Bacalhoeiros é elogiada por comerciantes que agora podem ter esplanadas, mas gerou indignação. Presidente da junta garante que a tinta dará lugar a calçada portuguesa.

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Presidente da junta diz que a solução da tinta é temporária Daniel Rocha
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A Rua dos Bacalhoeiros amanheceu assim Daniel Rocha
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A Rua dos Bacalhoeiros amanheceu assim Daniel Rocha

Quase dez anos passaram desde que uma discreta rua no Cais do Sodré foi pintada de cor-de-rosa e o seu nome oficial passou a estar entre parêntesis, ultrapassado pela fama que a novidade rapidamente trouxe à zona. Agora que a covid-19 serve de pretexto para aumentar os espaços pedonais na cidade, as ruas coloridas vão multiplicar-se por Lisboa.

A Rua dos Bacalhoeiros foi a primeira. Durante o fim-de-semana, por delegação da câmara, a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior pintou de azul uma parte desta artéria entre o Campo das Cebolas e a Rua da Madalena que está parcialmente fechada ao trânsito há quase dois anos.

As muitas reacções negativas nas redes sociais, sobretudo à escolha da cor, levaram o presidente da junta, Miguel Coelho, a emitir um comunicado em que garante que seguiu a proposta cromática que lhe fez a câmara municipal e que, caso as zonas pedonais sejam para manter, virão a ter calçada portuguesa.

Na freguesia, mais outras duas ruas serão pedonalizadas nas próximas semanas: a Rua Nova da Trindade, no Chiado, e a Rua João das Regras, perto da Praça da Figueira. No fim do ano, escreve o autarca, “far-se-á uma avaliação desta experiência, decidindo-se após isso pela sua manutenção, ou não, como espaço pedonal.”

Para os comerciantes da Rua dos Bacalhoeiros não há dúvidas na escolha. “Isto era um pedido que fazíamos há muito tempo à câmara”, diz José Marques, dono do restaurante Maria Catita. Apesar de a rua não ter saída para o Campo das Cebolas, muitos automobilistas aproveitavam o facto de ali não se pagar estacionamento para deixar o carro. “As pessoas exageravam sempre e estacionavam arbitrariamente”, descreve o empresário.

Agora, sem carros, vai poder ter esplanada. E este foi um dos principais motivos que levou a câmara a avançar com o programa “A Rua é Sua”, que vai tirar o trânsito e o estacionamento automóvel de quase 100 ruas de forma permanente ou temporária. Para o presidente da junta trata-se de uma “forma de se contribuir para combater a profunda crise, que atinge em particular a restauração e afins no centro histórico, com graves e imediatas consequências na perda de dezenas ou centenas de postos de trabalho”.

Mário Mateus, gerente da Churrascaria Gaúcha, um dos restaurantes mais antigos da rua, afirma que “o espaço está subaproveitado” e que era preciso “fazer qualquer coisa”. Os clientes da hora de almoço já lhe perguntaram se vai montar uma esplanada lá fora. Ainda não decidiu, mas está convicto de que foi “uma decisão boa” dar “uma imagem diferente” à rua.

Belém, Chiado, Sapadores: mais ruas coloridas

A intervenção na Rua dos Bacalhoeiros é apenas uma das muitas que a Câmara de Lisboa projectou para os próximos meses. Uma fonte municipal diz ao PÚBLICO que a pintura do asfalto “é uma forma muito expedita de assinalar o fecho das ruas” e que vai ser replicada noutros locais.

É o caso da Rua Nova da Trindade, no Chiado, que vai ficar sem tráfego e também será pintada de azul; da Rua de Belém, com aumento de passeios com recurso à mesma tinta; da Avenida da Igreja, onde uma parte será fechada ao trânsito aos fins-de-semana e o chão terá uma “inscrição artística”; ou da Rua da Penha de França, no troço junto ao Mercado de Sapadores, que também fica exclusivamente para peões.

A fonte autárquica com quem o PÚBLICO falou não soube justificar a opção pela tinta azul na Rua dos Bacalhoeiros e disse que noutras ruas poderão ser usadas outras cores. Em Cascais, por exemplo, a câmara decidiu pintar de amarelo três ruas do centro histórico da vila.

Algumas cidades, como Doha, no Qatar, ou Los Angeles, nos Estados Unidos, pintam estradas com cores claras (azul ou branco, por exemplo) para diminuir as temperaturas circundantes, uma vez que o alcatrão, deixando de ser negro, deixa também de absorver tanto calor. A Câmara de Lisboa ainda não apresentou a lista definitiva de todos os locais que vão ser intervencionados, nem qual será a obra realizada, mas na apresentação que fez do “A Rua é Sua”, há um mês, Fernando Medina disse que um dos objectivos era “mitigar as ondas de calor”.

José Marques, do restaurante Maria Catita, diz não saber porque foi escolhida a cor azul, mas até gosta. “Para nós faz algum sentido. Estamos na Rua dos Bacalhoeiros, assim até faz lembrar o mar”, brinca.

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