Lukashenko invoca covid-19 para proibir bielorrussos de saírem do país

Líder da oposição diz que Presidente bielorrusso não está preocupado com o coronavírus e acusa-o de querer transformar a Bielorrússia num “Gulag moderno”. Comité Olímpico Internacional suspendeu Lukashenko devido a “discriminação política” contra desportistas que se opõem ao regime.

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Aleksander Lukashenko visitou um hospital em Stolbtsy. Desde o início da pandemia, tem desvalorizado a covid-19 Reuters

O Governo da Bielorrússia vai fechar as fronteiras terrestres aos seus próprios cidadãos, uma medida que o executivo justifica com a necessidade de conter a propagação do coronavírus, mas que a oposição vê como uma tentativa de aprisionar os bielorrussos no seu país, impedindo-os de se exilarem ou procurarem ajuda.

A medida, aprovada esta quinta-feira, entra em vigor a 20 de Dezembro, proíbe os bielorrussos de saírem do país pelas fronteiras terrestres, a não ser que a viagem esteja relacionada com “circunstâncias extraordinárias”, nomeadamente o assegurar dos “interesses nacionais da Bielorrússia”, segundo o decreto governamental citado pelo The Moscow Times.

As restrições, acrescenta a Reuters, não se aplicam em deslocações relacionadas com trabalho ou actividades escolares, nem à assistência a familiares doentes. Os diplomatas e motoristas de transporte internacional ficam isentos da medida.

As entradas na Bielorrússia continuam a ser possíveis apenas através do Aeroporto Internacional de Minsk, e quem chegar ao país tem de cumprir uma quarentena de dez dias.

Desde o início da pandemia, segundo os dados do Governo, a Bielorrússia regista mais de 152 mil infecções por SARS-CoV-2, e 1230 pessoas morreram devido à covid-19.

O Presidente Aleksander Lukashenko, no poder há 26 anos, que garante ter estado infectado, tem desvalorizado a pandemia e chegou a recomendar vodca e sauna para combater o coronavírus.

Por isso, para a oposição pró-democracia, fechar as fronteiras aos seus próprios cidadãos não é uma medida para conter a propagação do vírus, mas sim como uma tentativa de impedir que os bielorrussos saiam do país.

“Ele [Lukashenko] não se importava com a covid antes. Agora, os bielorrussos reprimidos não podem fugir ou procurar asilo no exterior”, afirmou Svetlana Tikhanouskaia, líder da oposição bielorrussa exilada na Lituânia.

“O regime está a fazer o seu melhor para transformar o nosso país num Gulag moderno, uma grande prisão onde reinam o medo e a violência”, acrescentou Tikhanouskaia na rede social Telegram.

Mais de 27 mil detenções

Desde as eleições de 9 de Agosto que deram a reeleição a Lukashenko com 80% dos votos, consideradas fraudulentas pela União Europeia, várias figura da oposição fugiram do país e outras acabaram detidas.

No passado mês de Outubro, a oposição bielorrussa, na figura do Conselho de Coordenação, foi galardoada com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020, um prémio que será entregue pelo Parlamento Europeu no próximo dia 16 de Dezembro, quarta-feira.

De acordo com a alta comissária das Nações Unidas, Michelle Bachelet, foram detidas mais de 27 mil pessoas nos últimos quatro meses, com o regime a reprimir com violência os manifestantes pacíficos que exigem novas eleições livres e justas.

Numa declaração no Conselho de Direitos Humanos da ONU na semana passada, Bachelet pediu o fim da violência por parte do regime e revelou que mais de 900 pessoas, incluindo candidatos da oposição, jornalistas, advogados e activistas, enfrentam processos judiciais devido à sua participação nas manifestações. A ONU está ainda a investigar mais de duas mil queixas de tortura nas prisões bielorrussas.

Suspensão do Comité Olímpico

Aleksander Lukashenko, alvo de sanções por parte da União Europeia, no entanto, mantém a intransigência em negociar com a oposição e recusa marcar novas eleições, apesar de ter dito que está disposto a sair do poder quando for aprovada uma nova Constituição.

A pressão internacional sobre o Presidente bielorrusso, que conta com o apoio da Rússia, tem vindo a aumentar e, no início desta semana, o Comité Olímpico Internacional (COI) suspendeu Lukashenko – o chefe de Estado preside ao comité nacional bielorrusso -, que fica impedido de participar em actividades relacionadas com os Jogos Olímpicos.

Na origem da decisão do COI está a “discriminação política” de que centenas de atletas bielorrussos têm sido alvo por contestarem o regime. Um caso flagrante é o da jogadora de basquetebol Yelena Leuchanka, que no passado mês de Setembro esteve 15 dias presa por participar numa manifestação.

A decisão do COI poderá levar a que a Bielorrússia, co-organizadora com a Letónia do Mundial de Hóquei no Gelo 2021, possa ser afastada da organização da competição. Lukashenko prometeu contestar a suspensão do COI nos tribunais e diz que apenas está a “defender” o país. 

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