Economia confirma recuperação de 13,3% no Verão

O PIB acompanhou, no terceiro trimestre, a reabertura gradual da actividade económica depois da primeira vaga de covid-19. No entanto, a comparação com o mesmo período do ano passado é negativa em 5,7%

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Nelson Garrido

De acordo com os dados divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 13,3% entre Junho e Setembro face ao segundo trimestre do ano, quando este indicador afundou 13,9% em cadeia, confirmando as estimativas iniciais. Para este efeito contou o contributo da procura interna, na sequência das medidas de desconfinamento decretadas pelo Governo, mas também da procura externa, com as exportações a reanimarem com a reabertura da actividade económica nos principais parceiros comerciais de Portugal.

Isso mesmo sublinha o INE: “Este resultado é explicado, sobretudo, pelo comportamento da procura interna, que registou um contributo positivo de 10,7 pontos percentuais [p.p.] para a variação em cadeia do PIB, quase simétrico do observado no segundo trimestre (-10,9 p.p.)”. Para além disso, “o contributo da procura externa líquida também passou a positivo (2,6 p.p.), depois de ter sido muito negativo (-3,0 p.p.) no trimestre precedente, verificando-se um crescimento acentuado das Exportações de Bens e Serviços”.

Ainda assim, o cenário é de forte contracção económica. Internamente, o turismo continuou muito deprimido, ao passo que o consumo interno recuperou mas muito ligeiramente. Foi esta conjugação de sinais tímidos ainda de retoma que levou o PIB a cair 5,7% em termos homólogos no terceiro trimestre. No segundo trimestre, a variação homóloga tinha sido de 16,4%. Sobre a comparação homóloga, o INE avança explicações semelhantes à da evolução em cadeia, nomeadamente que esta “evolução se deveu em grande medida ao comportamento da procura interna que registou um contributo significativamente menos negativo que no trimestre precedente”, um efeito da “recuperação expressiva do consumo privado e, em menor grau, do investimento e do consumo público”.

Também o contributo da “procura externa líquida no terceiro trimestre foi menos negativo que o registado no trimestre precedente”, com uma “recuperação mais significativa das Exportações de Bens e Serviços (passando de uma taxa de -39,4% para -15,2%) que a observada nas Importações de Bens e Serviços (de -29,2% para -11,4%), devido sobretudo à evolução das exportações de bens”.

Este desempenho no terceiro trimestre atenuará, de alguma forma, a natureza historicamente negativa da evolução económica deste ano, marcado pelos efeitos graves da pandemia de covid-19. Mas, neste aspecto, o quarto trimestre será determinante, dado que o modelo de confinamento suave adoptado pelo Governo – que contrasta com o confinamento geral do final do primeiro trimestre e início do segundo – procura amortizar precisamente novo mergulho a pique da economia. Isto, tendo em conta a importância dos últimos três meses do ano na procura interna – ligada à época natalícia – e apesar da propagação mais acentuada da covid-19.

As previsões para o conjunto de 2020 são todas muito negativas, embora com diferenças. O Governo prevê uma recessão de 8,5% na totalidade do ano, enquanto a Comissão Europeia acredita num cenário mais negativo de 9,3%. O Fundo Monetário Internacional aponta para uma contracção de 10%.

Consumo e investimento recuperam

A impulsionar a recuperação da procura interna esteve o comportamento das famílias em reacção às fortes limitações da mobilidade nos meses anteriores, em especial entre Março e Abril.  

Os gastos com bens duradouros aumentaram mesmo em termos homólogos (+2,1%) depois da queda abrupta de 26,2% no segundo trimestre, com uma recuperação nas aquisições de automóveis. Mas também nos bens não duradouros e serviços houve uma retoma, ainda que menos vincada, traduzida numa quebra homóloga de 5% contra os -13,6% do trimestre anterior.

O consumo privado continuou muito deprimido (-9,4%, em termos homólogos), um reflexo do menor volume de turistas no país, mas ainda assim menos do que no segundo trimestre (-21,4%).

No investimento, a queda homóloga permaneceu em níveis significativos (-10,1%), com as empresas a escoarem a produção acumulada em armazém no segundo trimestre o que se traduziu num contributo negativo da componente Variação de Existências para a formação do PIB.

Já a Formação Bruta de Capital Fixo recuperou 0,5% em termos homólogos depois da queda acentuada do trimestre anterior (-8,5%) graças à contracção menos forte nas componentes Outras Máquinas e Equipamentos e em Equipamentos de Transporte, sinais de que as empresas regressaram a alguma normalidade, ainda que contida, na sua actividade durante o Verão. Neste aspecto, destacou-se a construção, dado que foi a única que apresentou um crescimento homólogo, embora desacelerado face ao segundo trimestre (o sector praticamente não parou durante o confinamento).

Neste cenário, explica o INE, o emprego (medido em número de indivíduos e ajustado de sazonalidade) para o conjunto dos ramos de actividade da economia, diminuiu 2,6% em termos homólogos (taxa de -3,5% no trimestre anterior)”. Já o emprego remunerado “registou uma redução homóloga de 2,8% no terceiro trimestre, após a diminuição de 3,3% no segundo trimestre”.

Exportações de bens recuperam

No saldo com o exterior, a balança passou de uns negativos 3,6% no segundo trimestre para -1,1% no terceiro trimestre (um agravamento face aos -0,1% negativos do terceiro trimestre do ano passado).

A componente que recuperou melhor no terceiro trimestre foi a das exportações de bens, cuja variação homóloga de +2,8% representou uma retoma importante face aos -32,6% do segundo trimestre. Já os serviços continuaram a apresentar uma contracção expressiva nas exportações (-40,8%, depois dos 54% do trimestre anterior), mais um efeito da crise de turistas estrangeiros em Portugal.

As importações de bens também acompanharam a retoma do consumo interno, com uma taxa negativa a passar de 28,1% para 8,5%, ao passo que os serviços permaneceram muito negativos (-25,5%).

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