Morreu o treinador Vítor Oliveira, o “rei das subidas”, aos 67 anos

Futebol está de luto com morte de treinador. “Falar em Vítor Oliveira é falar em simplicidade e frontalidade, mas em bom humor também”, relembra Paulo Alves. António Fiúza destaca manutenção conseguida com plantel totalmente novo no último projecto do técnico.

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Vítor Oliveira LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

O treinador Vítor Oliveira morreu, na manhã deste sábado, aos 67 anos. O treinador ter-se-á sentido mal durante uma caminhada em Matosinhos.

Vítor Oliveira, pela primeira vez em três décadas, não estava ao leme de qualquer equipa esta temporada. Na época passada, o técnico esteve no Gil Vicente, assegurando a manutenção dos barcelenses, que tinham sido promovidos directamente do Campeonato de Portugal para a I Divisão.

O presidentes dos gilistas, Francisco Dias da Silva, amigo próximo do treinador há mais de 30 anos, relembra ao PÚBLICO a competência de trabalho do treinador, enaltecendo também a personalidade do técnico, antes da emoção lhe colocar um travão abrupto nas palavras: “O Vítor Oliveira é uma pessoa muito especial pelo seu grande carácter. Perdi o meu grande amigo.”

O treinador era conhecido como “o rei das subidas” pelo número avassalador de promoções ao principal escalão de futebol. Entre 1978 e 2020, Vítor Oliveira comandou Famalicão, Portimonense, Maia, Gil Vicente, Vitória de Guimarães, Académica, União de Leiria, Sporting de Braga, Belenenses, Rio Ave, Moreirense, Leixões, Trofense, Desportivo das Aves, Arouca, União da Madeira, Desportivo de Chaves e Paços de Ferreira.

Natural de Matosinhos, Vítor Oliveira representou Leixões, Paredes, Famalicão, Sporting de Espinho, Sporting de Braga e Portimonense como futebolista. Como técnico festejou 11 promoções em 18 presenças na II Liga.

"Definia as regras de forma tão simples"

Paulo Alves trabalhou com Vítor Oliveira durante época e meia. Em 2001, o treinador chegava a Barcelos para tomar as rédeas a um Gil Vicente que já somava nove derrotas na primeira metade da época. No plantel estava Paulo Alves, que se aproximava de um final de carreira que englobou passagens pelo Sporting, Sp. Braga, West Ham e Bastia. Quase 20 anos depois, o agora treinador não esconde a marca que Vítor Oliveira deixou.

“É uma tristeza muito grande. Falar em Vítor Oliveira é falar em simplicidade e frontalidade, mas em bom humor também. Tinha um trato simples e muito sério. Sabia como ninguém mexer nas feridas e tocar nos assuntos, sem fazer um alarido fora do normal. É um exemplo para todos nós treinadores e já o tinha sido enquanto jogador”, resume.

Lembra com carinho os treinos em que o poupava nos minutos finais do treino, para o “guardar” para os jogos de domingo. Uma das principais qualidades atribuídas pelo ex-jogador ao técnico é a capacidade de instituir disciplina e lealdade sem precisar de subir o tom de voz ou diminuir os atletas, gerindo os egos do balneário de forma cirúrgica. “Tinha um carisma tal que chegava ao balneário e definia as regras de uma forma tão simples. Não precisava de fazer barulhos, nada do género”, explica.

Para a memória fica o excelente rendimento que o mister retirou de Paulo Alves – mais de 30 golos em época e meia. A par de Carlos Queiroz e Paulo Autuori, Vítor Oliveira é a grande referência de Paulo Alves como treinador, com o jogador a admitir que bebeu muitos dos ensinamentos transmitidos no antigo estádio Adelino Ribeiro Novo, bem no centro da cidade de Barcelos, cidade que sempre acarinhou o treinador pelo trabalho realizado no clube do concelho. 

"Disse-lhe que ainda íamos à Europa. Ele até se ria"

Quando Vítor Oliveira subiu ao comando técnico do Gil Vicente a meio da época 2001-02, António Fiúza ainda era vice-presidente do Gil Vicente, assumido a presidência dos gilistas, cargo onde se manteve durante quase década e meia, um ano após a saída do técnico. Depois de duas décadas de convivência e amizade, o presidente honorário do Gil Vicente não poupa elogios ao “rei das subidas”, que se sentou no banco dos barcelenses por três vezes desde o início da década de 1990.

“Sabe que quando uma pessoa morre diz-se mais bem do que mal, mas não havia nada de mau para dizer sobre o Vítor Oliveira. Era uma pessoa afável, de trato fácil, um excelente organizador de homens. Dava-se bem com toda a gente, desde o preparador físico até ao roupeiro”, relembra António Fiúza.

Na época passada, assegurou a manutenção dos gilistas, depois de fazer uma remodelação total ao plantel. O dirigente honorário do Gil Vicente não esconde que Oliveira era a sua “primeira escolha” para o comando técnico da equipa, relembrando as brincadeiras que assentavam no bom desempenho da formação.

“Ele pegou no Gil, onde a maioria dos jogadores nunca tinham jogado na I Liga, e fazer o campeonato que fez? É de um homem tremendo que sabe aquilo que faz. Durante o ano ligava-lhe e dizia-lhe: ‘Oh mister, por este andar ainda vamos à Europa.” Ele até se ria”, recorda António Fiúza.

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