Irão liberta académica condenada por espionagem

Kylie Moore-Gilbert, especialista em Médio Oriente da Universidade de Melbourne, com nacionalidade australiana e britânica, estava detida há mais de dois anos e foi libertada em troca de três iranianos.

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Kylie Moore-Gilbert numa imagem da televisão estatal iraniana

Detida desde Setembro de 2018, Kylie Moore-Gilbert foi denunciada por espionagem depois de participar numa conferência em Teerão e condenada a dez anos de cadeia num julgamento secreto. Esta quarta-feira, a televisão estatal iraniana noticiou a sua libertação enquanto mostrava imagens suas no que parecia ser o lobby de um hotel ou do aeroporto, antes de ser acompanhada por duas mulheres com malas até uma carrinha.

“Hoje, dois anos depois da condenação de Gilbert, a República Islâmica decidiu finalmente trocá-la por três agentes económicos iranianos que tinham sido detidos por terem contornado as sanções”, diz a agência de notícias Mehr. Alguns, nota o jornal The Guardian, verão nesta libertação uma vitória para a estratégia iraniana de “fazer reféns”.

O site do Clube de Jovens Jornalistas, ligado à televisão estatal iraniana, adianta que a “espia que trabalhava para o regime sionista” foi libertada em troca de “um empresário iraniano e dois cidadãos iranianos que estavam detidos no estrangeiro sob acusações infundadas”.

Na mesma peça da televisão IRIB onde surge Moore-Gilbert vê-se a recepção aos três iranianos, um deles de cadeira de rodas, com bandeiras do Irão nas costas e muitos responsáveis à espera para os cumprimentar, incluindo o ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi.

A académica da Universidade de Melbourne, especialista em Médio Oriente, foi transferida no fim de Julho para a prisão de Qarchak, conhecida por ser uma das piores para presos políticos no Irão, especialmente para mulheres. Mas em Setembro regressou à prisão de Evin, em Teerão, no que poderá ter sido o início do seu processo de libertação.

Numa carta que escreveu em Evin no início do ano, contrabandeada para fora da prisão e divulgada pela BBC, a académica dizia nunca ter trabalho como espia e ter recusado a oferta iraniana para o fazer, afirmando ainda recear pela sua saúde mental. “O meu estado físico e mental continua a deteriorar-se a cada diz em que permaneço nestas condições”, escreveu.

Antes da transferência para Qarchak, chegou a partilhar cela com a activista dos direitos humanos iraniana Nasrin Sotoudeh, libertada temporariamente há duas semanas por causa do seu estado de saúde.

Segundo os poucos relatos disponíveis – Moore-Gilbert só falou uma vez com a família e foi visitada pouco depois de chegar a Qarchak pelo embaixador australiano. Foi várias vezes espancada na sua primeira passagem por Evin, onde cumpriu cinco greves de fome e passou vários períodos em regime de solitária.

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