A história dos primeiros americanos no espaço, versão Disney

The Right Stuff, o livro que Tom Wolfe escreveu em 1979 sobre o grupo de astronautas americanos Mercury 7, virou filme em 1983, e agora é uma série do Disney+. O oitavo e último episódio saiu esta sexta-feira, acompanhado de um documentário, The Real Right Stuff.

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The Real Right Stuff Disney+
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The Right Stuff baseia-se no livro de 1979 de Tom Wolfe Disney+

Entre 1961 e 1963, um grupo de sete homens, Alan Shepard, John GlennScott Carpenter, Gus Grissom, Gordon Cooper, Wally Schirra e Deke Slayton, fez várias viagens de teste ao espaço. Os Mercury 7, como ficaram – muito – conhecidos na altura, foram, em plena Guerra Fria, pioneiros americanos na corrida ao espaço. No espaço de nove anos, a NASA aterraria na lua, proeza que se deveu aos avanços destes astronautas.

A história deles foi contada no livro The Right Stuff, lançado por Tom Wolfe em 1979 e, quatro anos depois, na respectiva adaptação cinematográfica, realizada por Philip Kaufman, e conhecida em Portugal como Os Eleitos. Este ano, voltou a ser repescada numa produção original da Disney+ com produção executiva de Leonardo Di Caprio, criada por Mark Lafferty a partir do livro original. O nome é o mesmo: The Right Stuff. O último episódio desta minissérie de oito episódios, encabeçada por nomes como Jake McDorman (Limitless), Patrick J. Adams (Suits) ou Aaron Staton (Mad Men), saiu esta sexta-feira, acompanhado por The Real Right Stuff (Os Verdadeiros Eleitos), um documentário de Tom Jennings que é mais fiel ao que aconteceu na vida real e conta com banda sonora original de Hans Zimmer. É possível que se sigam mais temporadas sobre outros projectos da NASA no futuro.

Da Endeavor para o cinema 

O engenheiro Robert J. Yowell, hoje na Força Aérea americana, trabalhou no projecto do Space Shuttle da NASA nos anos 1990. Há uns anos, tornou-se, por acidente, consultor técnico no mundo do audiovisual, tarefa que desempenhou nesta produção. Estava a trabalhar como voluntário, aos fins-de-semana, a mostrar às pessoas a nave Endeavor no California Science Center, em Los Angeles, quando uma mulher o ouviu falar e lhe pediu ajuda para um filme em que estava a trabalhar. Pensou que era “um filme de estudantes”, como resume ao PÚBLICO numa chamada de Zoom, mas cedo descobriu que era Ad Astra, o filme de grande orçamento de James Gray com Brad Pitt, no qual até fez um cameo.

Yowell continuou a trabalhar na ficção audiovisual, primeiro em Lucy in the Sky, o malogrado filme de Noah Hawley, e agora nesta série. É o tipo de pessoa que chamam quando querem algum realismo, seja em produções baseadas em factos reais ou em ficção científica. No caso de The Right Stuff, “tanto no livro como no filme havia imprecisões científicas”, explica. Estas, sublinha, “não beliscam em nada o facto de serem duas grandes peças de arte”. “Wolfe era um escritor prolífico, as coisas que ele adicionou foram o humor e a perspicácia, e vês um bocado disso no filme”, continua. A série, diz, “estava muito empenhada, desde o início, na precisão e no máximo detalhe possível”: “Estávamos na mesma fortificação usada em 1961 para lançar os primeiros foguetões originais da NASA. Esse edifício, por sorte, foi preservado pela Força Aérea. Cada manípulo, cada fio, está lá até hoje, intocado. Não há como bater isso em termos de precisão”, conta.

Algo em que insistiu muito foi em mostrar o quão “primitiva era a tecnologia” numa altura em que, por exemplo, “não dava para ver dados saídos da nave digitalmente, era tudo analógico”. “É a maior vantagem, visualmente, poder mostrar algo que não compreendes só a ler o livro do Tom Wolfe. Espero que a série se torne uma boa companheira do livro e do filme, já que mostra mais detalhe do que é possível num filme”, comenta. Ainda assim, sabe que o seu trabalho é aconselhar a produção, e que, no caso do cinema, é o realizador quem “tem a palavra final”. “O trabalho dele é fazer uma forma de entretenimento, não é como um documentário”, resume.

Para Yowell, a história dos Mercury 7 é fundamental. “Se este projecto não tivesse tido sucesso, não seria possível os Estados Unidos terem posto um Homem na Lua. O único propósito era provar que um astronauta podia sobreviver um dia no espaço. Se o Mercury e o projecto seguinte, o Gemini, tivessem falhado, não haveria qualquer possibilidade de tudo ter acontecido”, explica. O engenheiro sublinha que se passaram oito anos entre “o primeiro voo de 15 minutos até Neil Armstrong aterrar na lua”, e que “não se pode apontar outro período da História em que avanços tão vastos de tecnologia foram conseguidos de forma tão rápida”. Sem “este programa rápido do espaço”, continua, “não teríamos tido computadores pessoais, telemóveis e melhores tecnologias de saúde, é algo que afecta toda a gente neste planeta”. Com uma vantagem “maravilhosa”: Ao contrário de guerras mundiais que levaram ao desenvolvimento de tecnologia, isto foi pacífico.”

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