Bonecas para elas e carros para eles? Não, os brinquedos (já) não têm género

O género nos brinquedos é coisa do passado. As lojas distanciam-se dos estereótipos e mostram que não há brinquedos para menina nem para menino - há para crianças. A cadeia alemã Lidl é exemplo disso.

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Shirota Yuri/Unsplash

Com a época de Natal a aproximar-se, começam a chegar às lojas os brinquedos para oferecer aos mais pequenos. Ainda não passou muito tempo desde que os catálogos das grandes superfícies comerciais dividiam os brinquedos por género. Esta semana, o Lidl lançou o folheto de brinquedos de Natal deste ano, onde os brinquedos são para crianças. Segundo Luísa Magalhães, investigadora de Comunicação e Marketing Infantil e membro da International Toy Research Association, esta é uma iniciativa “muito positiva”, até porque vem reforçar a tendência de dissociar os brinquedos do género que outras lojas, como as exclusivas de brinquedos, já levam a cabo.

“Para criança” lê-se no folheto de brinquedos do Lidl. Vê-se também, por exemplo, meninos a cuidar da casa e meninas a brincar com carros e ferramentas. Nas redes sociais, os internautas partilharam e aplaudiram a iniciativa da cadeia alemã. “No Lidl pautamo-nos por oportunidades iguais, pelo que a igualdade de género é algo já intrínseco na empresa”, refere, ao PÚBLICO, o departamento de Comunicação Corporativa do Lidl Portugal, por escrito, acrescentando que já o têm vindo a fazer noutras acções. “Acreditamos que as crianças são livres de brincar com o que lhes despertar maior interesse e não estarem condicionadas pelo seu género”, continua.

Luísa Magalhães explica que “as pessoas já estão à espera [da iniciativa nas lojas exclusivas a brinquedos], mas não do supermercado, porque tem um público mais alargado”, incluindo a população mais velha. “Arrisco-me a dizer que só foi a partir da minha geração — dos que têm agora 50 e tal anos — que começou a existir a preocupação em educar para a equidade”. Para a investigadora, a iniciativa é “muito boa”, pois considera importante existirem “funções iguais para géneros diferentes”. E não tem dúvidas: “Daqui a alguns anos, acredito que isto já não seja uma questão.”

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“A ideia de que é possível os rapazes limparem a casa e as raparigas pegarem em ferramentas tem de começar muito cedo. Acho importantíssimo que comece nos brinquedos, porque são eles que modelam toda a atitude de género que começa na infância”, até porque “a vida quotidiana não se compadece de sermos rapazes ou raparigas”, pelo que é importante todos serem “auto-suficientes”. Luísa Magalhães explica que “os brinquedos são a grande metáfora para a vida adulta”, ou seja, “o que se faz com os brinquedos é proporcionar às crianças hipóteses de imitar a vida adulta: cozinhar, passar a ferro, limpar a casa, usar ferramentas”. A investigadora afirma que estas questões fazem parte “da esfera privada e que esta luta para a equidade de género tem de ser travada — e isso começa pelos pais”.

Em comunicado, o Lidl refere ainda que “a população no geral está cada vez mais alerta” para a temática da igualdade de género. “Acreditamos que podemos igualmente sensibilizar e alertar para este tema enquanto empresa”, assegura. Luísa Magalhães garante que “os brinquedos são um objecto de carácter cultural fortíssimo e é muito bom que estejam virados para este tipo de desmontagem”. 

O Lidl indica que subscreveu o Target Gender Gender Equaility, um programa acelerador de igualdade de género da ONU. Além disso, a cadeia alemã refere que, este ano, é o primeiro retalhista alimentar em Portugal a aderir à iniciativa mundial das Nações Unidas para o empoderamento feminino e a promoção das mulheres a nível empresarial, o WEPs- Women’s Empowerment Principles.

Texto editado por Bárbara Wong

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