Costa afasta eleições antecipadas em 2022 e diz que não vira as costas ao país

Em entrevista à Antena 1, nesta sexta-feira, o primeiro-ministro deixa claro que quer estar na reconstrução do país, após a pandemia. Sobre as presidenciais, não abre o jogo.

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Primeiro-ministro afasta fim de ciclo e diz que não vira as costas ao país Nuno Ferreira Santos

O primeiro-ministro, António Costa, afasta o cenário de eleições legislativas antecipadas em 2022, afirmando que “seria muito mau” se isso acontecesse, e elogia a estabilidade política que o país tem tido. “Acho que uma das coisas positivas que o país tem tido é ter conseguido, nas várias crises que tem passado, manter a estabilidade. Isso é bom internamente e é muito bom do ponto de vista externo e da credibilidade do país”, afirmou o primeiro-ministro nesta sexta-feira, numa entrevista à Antena 1.

António Costa disse que quando a pandemia acabar e se iniciar o esforço da reconstrução do país — “que não pode ser interrompido” vai querer cá estar, afastando cenários de fim de ciclo como alguns prevêem. Ainda esta semana, o Presidente da República na entrevista à RTP pareceu vaticinar a queda de Costa em próximas eleições legislativas, afirmando que se contam pelos dedos de uma mão os governos que foram reeleitos, e até foi buscar o exemplo do Churchill que ganhou a guerra, mas perdeu as eleições.

Questionado sobre as sondagens que apontam para queda da sua popularidade, o primeiro-ministro respondeu que olha pouco para as sondagens e disse que quer cá estar quando a pandemia acabar. “Eu não só quero cá estar como devo. Era o que faltava, num momento difícil como aquele que estamos a atravessar, virar as costas ao país. Não escolhi governar em tempo de pandemia e nós vamos enfrentar a pandemia estou cá para enfrentar a pandemia e estou cá para recuperar de novo o país”. E acrescentou: “A última coisa que um político neste momento pode fazer é andar a pensar no seu futuro ou no futuro do seu partido ou no futuro da política”.

Costa assumiu que há alguma insatisfação até porque não se sabe quando é que a pandemia vai acabar. “Quando estamos a viver a maior crise económica de sempre, quando estamos a viver uma pandemia como esta, quando há mais de 150 mil desempregados num ano, é evidente que não há nenhuma razão para as pessoas estarem satisfeitas. Agora, os governos não existem para a sua popularidade, existem para resolver os problemas e é nisso que devemos estar concentrados, a avaliação que os portugueses farão virá a seguir”, declarou, mostrando-se de “consciência tranquila”. “E a última coisa que me vou é deixar condicionar é sobre a popularidade ou impopularidade ou se vou ganhar eleições a seguir”, garantiu.

Em matéria de Orçamento do Estado, o primeiro-ministro afasta preocupações. “O esforço orçamental que está a ser feito na área da saúde e da segurança social é de um país que enfrenta com determinação esta crise. Tudo o que é necessário é indispensável que não falte”, afirmou, revelando desconhecer as razões objectivas que levaram o Bloco a votar contra o OE BE. “Sinceramente não percebo as razões objectivas para que o BE tenha tomado a decisão que tomou. Toda a gente reconhece que este orçamento é o que tem maior dimensão social dos cinco anos de governação”, diz Costa, assumindo que há, de certeza, razões subjectivas e políticas para o sentido de voto do Bloco. 

O primeiro-ministro aproveitou para dizer que o Governo não fecha a porta a um acordo com o Bloco de Esquerda para a viabilização do Orçamento, mas advertiu que “há um amanhã” com limites orçamentais e financeiros.”As propostas do PCP são conhecidas, as posições do Governo também e temos continuado a trabalhar. Em relação ao Bloco de Esquerda, da nossa parte, também não temos nenhuma porta fechada no sentido de continuar a trabalhar e a considerar soluções. Achamos que é útil e necessário que o país tenha um bom Orçamento do Estado para 2021”, sobretudo numa situação de crise sanitária “e de crise económica gigantesca”, defendeu o primeiro-ministro

Já sobre um orçamento rectificativo, admitido pelo ministro das Finanças, considera que neste momento não é expectável que exista, mas não pode também ser excluído: “Se for necessário, é. Nós não vamos poder regatear o esforço financeiro que é necessário para travar a pandemia. Não há-de ser por falta de dinheiro que não vamos ter vacina, que não vamos ter médicos, que não vamos ter camas, que não vamos ter ventiladores. Toda a gente deseja que a pandemia desapareça amanhã, mas ninguém pode excluir que a pandemia até se agravar nos próximos meses. Vamos ter de ir gerindo em função destas circunstâncias”, disse, temendo que a evolução da pandemia, da crise económica e social obriguem a aumentar ainda mais a despesa, porque se isso acontecer “terá de haver um orçamento rectificativo”.

“Se tudo correr como está previsto, e felizmente os indicadores que vêm da indústria farmacêutica são positivos, os sinais que temos na Europa de que rapidamente haverá um acordo para disponibilizar os fundos europeus são positivos, se formos capazes em conjunto de travar esta onda, se no Natal não deixáramos descontrolar a situação para uma nova onda, o ano 2021 será um ano de recuperação da economia’, vaticina.

“É impossível impedir a insolvência de todas as empresas. Temos estado a procurar sustentar as empresas que eram viáveis em 2019”, garante António Costa, questionado sobre os apoios às empresas. “Para podermos aproveitar a retoma a seguir, temos de ter as empresas vivas”. “Vamos começar a injectar dinheiro na Economia logo que o Orçamento do Estado seja aprovado”, diz o primeiro-ministro, referindo-se aos milhões que virão de Bruxelas.

Na entrevista à Antena 1, António Costa assumiu que mantém a confiança política na ministra da Saúde, Marta Temido. “Tem reforçado a confiança das pessoas no SNS” e ultrapassou “a maior prova” que os ministros da área tiveram de ultrapassar até aqui. E defendeu as conferências de imprensa da DGS, que o Presidente da República criticou, justificando com o facto de acreditar que deve ser mantido um “contínuo de informação” para dar confiança aos portugueses.

Costa discordou da afirmação de que o SNS está concentrado nos doentes com covid-19 e afirmou que “o SNS existe para tratar os doentes”, independentemente da sua enfermidade. “Desde Abril que é possível haver contratualização com os privados”, diz, dando como exemplo a testagem, mas referindo que as pessoas preferem ir ao sector público sempre que há uma doença aguda. “O sector privado nunca ficou impedido de trabalhar. Houve um receio natural das pessoas em aproximarem-se dos estabelecimentos de saúde durante a pandemia”, afirma. Reconhece que “da parte do Estado não há qualquer obstáculo” a fazer essa contratualização. “Nunca houve uma questão de dinheiro aqui”, insiste, recordando os valores que este ano estarão mobilizados, através do Orçamento do Estado, para o SNS: 12 mil milhões de euros.

Questionado sobre até quando é que o SNS vai conseguir responder, o chefe do Governo diz: “Se tivermos 10 milhões de infectados, o SNS não conseguirá suportar. Todos temos de ter noção de que a melhor ajuda que podemos dar ao SNS é impedir os contágios”.

Em matéria de presidenciais, António Costa não revela que posição proporá ao PS no sábado: apoio a Ana Gomes; apoio a Marcelo Rebelo de Sousa; ou liberdade de voto. “Entendi que devia fazer várias reuniões múltiplas com os órgãos do partido" antes de a comissão nacional tomar uma decisão, diz, recusando antecipar a posição do PS, que será divulgada amanhã. Sobre Ana Gomes, a única coisa que disse foi que ainda não falou com ela desde que apresentou a candidatura à Presidência da República.

O chefe do Governo mostrou-se ainda descansado em relação ao inquérito, sem arguidos, sobre o hidrogénio verde que a Procuradoria-Geral da República confirmou esta quinta-feira e que envolve o ministro Pedro Siza Vieira e o secretário de Estado João Galamba e defende a independência da justiça.

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