Coronavírus força barbeiro histórico a pendurar as suas tesouras

Luigi Pinzo tem quase 70 anos de carreira no mundo da barbearia em Itália.

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Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
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Ao longo das quase sete décadas no negócio da barbearia, Luigi Pinzo já viu a Itália a passar por tempos turbulentos, desde recessões a assassinatos políticos, mas foi preciso uma pandemia para o forçar a pendurar as tesouras.

Pinzo, com 80 anos, começou a trabalhar aos 12, varrendo o chão das barbearias e limpando os casacos dos clientes. Mais tarde, em 1977, abriu as portas do seu próprio negócio em Roma.

Com um leque de clientes leais, os tempos eram de sucesso até que, em Fevereiro, a propagação do novo coronavírus — que atingiu Itália de uma forma particularmente intensa durante a primeira vaga — trouxe consigo o medo de infecção e afastou os clientes.

“As pessoas estão a ficar em casa e eu estou a trabalhar cada vez menos. E depois há o medo. Dada a minha idade, eu temo os riscos do vírus que posso apanhar a qualquer momento”, confessa Pinzo, enquanto usa o seu habitual casaco verde-lima. “É triste, mas é assim mesmo”, conclui.

A associação comercial Confcommercio estima que até 40% das lojas em Roma foram forçadas a fechar as portas por causa da pandemia da covid-19, deixando as ruas repletas de montras vazias.

A pequena barbearia de Pinzo, chamada “Luigi”, foi uma das que não conseguiram evitar o encerramento. Antes disso, o espaço mal tinha sofrido alterações ao longo das décadas, mantendo as três cadeiras de pele tradicionais e a colecção de colónias dentro de um armário de vidro.

Na parede, um símbolo de orgulho: um certificado atribuído pelo presidente italiano em 1993 que declarou Pinzo um Cavaleiro da República — um dos mais importantes títulos atribuídos pelo Estado — em reconhecimento da sua longa e bem-sucedida carreira.

“Eu não conheço mais nenhum barbeiro em Roma que se manteve, como eu, ao longo de 68 anos”, afirma Pinzo, que começou a trabalhar ainda criança no centro de Itália, antes de se mudar para Roma aos 16 anos. “Eu sempre fui muito ambicioso. Sempre procurei melhorar”, orgulha-se.

Nessa altura, a norma ditava vários anos de aprendiz até conseguir dominar com mestria a tesoura. Agora, considera o barbeiro, abrem-se espaços repletos de máquinas eléctricas e muito pouco treino. “A profissão perdeu a sua alma. Tornou-se mecânica”, lamenta. “Quando um cliente entra, nós temos de estudá-lo, perceber como se veste, como é que ele é e depois perceber qual é o melhor corte para ele. É uma arte, mas está a morrer”, confessa.

A sua atenção ao detalhe trouxe-lhe uma clientela leal ao longo dos anos. Quando a notícia do encerramento da barbearia se espalhou, os clientes apressaram-se para um último corte. “Eu vou sempre lembrar-me da história que existe nesta barbearia. Os momentos agradáveis que se passaram aqui, a meia hora em que podíamos relaxar na companhia de uma pessoa que vinha de outros tempos”, declara Jacopo Romagnoli, um dos fiéis clientes.

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