Football Leaks: PLMJ pediu a advogados para identificarem “informação sensível”

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de Agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de protecção de testemunhas em local não revelado e sob protecção policial.

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Rui Pinto responde por um total de 90 crimes Rui Gaudêncio

Os advogados da sociedade PLMJ tiveram de verificar a existência de potencial “informação sensível” nas pastas alegadamente acedidas por Rui Pinto, confirmou nesta terça-feira em tribunal a advogada Sandra Lopes, na 20.ª sessão do julgamento do processo “Football Leaks”.

Ouvida na qualidade de testemunha enquanto ex-associada do escritório, no qual trabalhou entre 2010 e 2019, Sandra Lopes revelou também os moldes exactos em que foi comunicada a intrusão no sistema informático da PLMJ, algo sobre o qual a defesa do criador da plataforma electrónica vinha questionando os advogados há várias sessões.

“Um dia chego à PLMJ e tenho um email que nos devíamos apresentar no auditório. Aí, fomos informados de que tinha havido um problema na rede, que alguns computadores tinham sido acedidos e que nós tínhamos sido os “eleitos"”, começou por dizer, acrescentando: “Saímos dessa reunião com trabalho de casa: ver essa listagem, o que estavas nas pastas, e identificar o que poderia ser informação sensível”.

Sandra Lopes admitiu inclusivamente que, dentro do escritório, alguns advogados chegaram a sugerir em tom de brincadeira que o autor do ataque teria sido Rui Pinto, mas vincou que o nome do criador “nunca foi referido” e que “eram só suposições” nessa altura. Sobre a reunião no auditório, a advogada apenas garantiu aos advogados do criador da plataforma electrónica que ocorreu “depois do Natal de 2018, talvez já no novo ano”.

Ainda durante a manhã foram ouvidos como testemunhas os advogados Bárbara Correia, Tiago Castro, Duarte Schmidt Lino e Maria João Mata. À excepção de Tiago Castro, especialista em direito imobiliário, que assegurou à procuradora do Ministério Público (MP), Marta Viegas, não ter “nada” relacionado com os universos “Football Leaks” ou “Luanda Leaks”, os outros três advogados refugiaram-se no sigilo profissional para não responder a eventuais ligações.

Contudo, e depois de alguns dos advogados ligados à PLMJ terem refutado qualquer interesse no conteúdo das respectivas caixas de correio electrónico, a defesa de Rui Pinto fez questão de confrontar Maria João Mata com uma informação no seu perfil profissional que indicava que tinha leccionado Direito Público angolano, algo que a advogada reconheceu, embora tenha realçado que isso tinha ocorrido “há alguns anos”.

O julgamento prossegue de tarde com as inquirições dos advogados Pedro Metello de Nápoles, Diogo Perestrelo, Pedro da Silva, Pedro Melo, Patrícia Mendes, Joana dos Reis, Lin Man e Ricardo Oliveira, todos ligados à PLMJ.

Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de Agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de protecção de testemunhas em local não revelado e sob protecção policial.

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