França quer segredos de Rui Pinto. Denunciante está disponível para colaborar

Autoridades francesas vão formalizar pedido de colaboração para analisar ficheiros de Rui Pinto. O advogado William Bourdon reitera ao PÚBLICO a intenção do denunciante em colaborar com a justiça.

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Rui Pinto durante o julgamento que decorre em Lisboa Rui Gaudencio

Depois de conceder às autoridades portuguesas a informação contida nos discos rígidos encriptados, a Justiça francesa também quer ter acesso às passwords de Rui Pinto para chegar ao manancial de informação recolhido pelo denunciante.

O pedido foi feito esta semana pelo Parquet National Financier (PNF), departamento que faz parte do Ministério Público francês e é responsável pelas investigações de crimes económicos e financeiros. Na carta enviada ao Tribunal Central de Instrução Criminal citada pelo Expresso, as autoridades francesas revelam a intenção de formalizar um pedido de cooperação às homólogas portuguesas, pedido esse que será concretizado em breve.

Contactado pelo PÚBLICO, o advogado francês William Bourdon reitera a disponibilidade de Rui Pinto para colaborar com as autoridades francesas e com o Eurojust, como sempre tinha afirmado publicamente após a detenção em Budapeste.

França quer ter acesso às informações o mais rapidamente possível, para que os investigadores consigam analisar os documentos e analisar suspeitas que os milhões de ficheiros na posse de Rui Pinto possam suscitar.

Antes de ser extraditado para Portugal, Rui Pinto já tinha tido vários contactos com as autoridades francesas, chegando mesmo a permitir que estas fizessem uma cópia destes dados que, durante mais de um ano, ficaram encriptados e fora dos acessos da Polícia Judiciária. No auto de análise forense que consta no processo onde é julgado de 90 crimes, a polícia admite a impotência perante o sistema de encriptação usado pelo hacker, chegando a elogiar as valências informáticas de Rui Pinto. O denunciante permitiu esta cópia por receios quanto à segurança dos dados em Portugal.

O gaiense de 31 anos esteve ainda a um passo de ter integrado um programa de protecção de testemunhas em França – regime em que se encontra actualmente em Portugal –, mas o mandado de detenção europeu impediu esta protecção das autoridades gaulesas.

O hacker responde em julgamento por 90 crimes — um crime de tentativa de extorsão, seis de acesso ilegítimo, 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência e um de sabotagem informática. Rui Pinto tinha sido acusado pelo Ministério Público de 147 crimes, número que foi reduzido na fase de instrução. O julgamento teve início no dia 4 de Setembro.

Rui Pinto esteve, durante 13 meses, em prisão preventiva. De 22 de Março de 2019 a 8 de Abril de 2020, permaneceu numa cela na prisão anexa à sede da Polícia Judiciária, em Lisboa. Após ter celebrado um acordo de colaboração com as autoridades portuguesas, foi movido para prisão domiciliária e posteriormente libertado em Agosto, estando actualmente numa casa segura, em localização incerta.

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