Ventura afirma que PSD já admite “ir a jogo” na revisão constitucional

Deputado único critica o Papa e diz que “o Chega é a religião dos portugueses comuns”.

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Deputado único garante que Chega quer fazer valer as suas teses LUSA/ANTÓNIO COTRIM

André Ventura, deputado único e presidente do Chega, considera que tem havido uma mudança na posição do PSD perante a revisão constitucional que propõe. Ao ponto de referir que o partido de Rui Rio já admite ir a jogo viabilizando a discussão (não as propostas).

“O PSD há alguns meses dizia que nem pensar, não ia a jogo, não iria dar força a um projecto do Chega, agora admite que isso seja possível”, refere. O apoio do maior partido da oposição à revisão constitucional é uma das condições para os dois deputados eleitos na passada semana para a Assembleia Legislativa dos Açores apoiarem o PSD e, assim, apearem do poder os socialistas de Vasco Cordeiro.

Em entrevista este domingo à TSF e ao Diário de Notícias, Ventura estabelece uma fasquia para esse apoio à mudança de ciclo político no arquipélago. Caso o PSD seja intransigente não haverá viabilização de um governo à direita. “Não estamos aqui para trair as nossas convicções, estamos aqui para fazê-las valer”, garante.

Desta forma, André Ventura valoriza a força dos seus dois deputados, excluindo a entrada do Chega num elenco governativo. “Não vamos participar em governos liderados por outros”, sublinha. Embora insista que, depois dos resultados eleitorais de há uma semana nos Açores há alternativa à direita.

Ventura não desconhece que, entre os seus dirigentes na região autónoma, há um desejo de contribuírem para o afastamento do PS do poder após 24 anos de gestão. Mas avisa: “Qualquer acordo de viabilização, de coligação, tem de ser aprovado pelo conselho nacional do partido.”

Ou seja, a decisão não será a nível regional, mas no âmbito da estratégia política do Chega e do seu presidente, em que o projecto de revisão constitucional é estrela. Ao contrário do PSD, uma vez que Rui Rio remeteu para os órgãos regionais do partido a definição do rumo a seguir na política açoriana.

Em contrapartida, André Ventura destaca a necessidade de uniformização das políticas de aproximação com os partidos da direita, falando exclusivamente do PSD. “Nós não podemos ter o Chega nos Açores a dar-se muito bem com o PSD, o Chega na Madeira a odiar o PSD e o PSD nacional a dizer que não fala com o Chega nacional. Isso não existe e passa para o eleitorado a pior das mensagens”, refere.

Recorda-se que este sábado, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, desafiou Rui Rio a confirmar a existência de negociações do PSD dos Açores com o Chega. E que dois destacados militantes do PSD, Pedro Duarte, ex-presidente da JSD e que foi director da campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, e José Eduardo Martins, antigo secretário de Estado do Ambiente com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, criticaram essa possibilidade. Em declarações ao Expresso, ambos disseram que o Chega está nos antípodas do PSD e consideram que estão em causa valores e princípios estruturais, que não podem estar dependentes da política açoriana.

Quanto a alguns aspectos da revisão constitucional do Chega, o deputado único diz, agora, que a castração física para violadores e pedófilos só será aplicada se o próprio quiser, dada a irreversibilidade da opção. E, em todo o caso, podendo entrar no cômputo de uma diminuição da pena a que tenham sido condenados.

Também nas eleições presidenciais, depois das sondagens indicarem que André Ventura fica atrás de Ana Gomes, o candidato matiza o seu discurso. Depois de ter dito que se fosse ultrapassado pela candidata nas urnas se demitia do Chega, agora tem outra fórmula: “Devolver ao partido a palavra sobre a minha situação no Chega.”

Não ficou claro se se demite ou dá a palavra às bases, numa operação de saída breve e regresso urgente pela pressão das bases. “Se ficar atrás de Ana Gomes é porque fiz um mau trabalho”, repete por diversas vezes. Neste tema, o relevante é que admite ficar em terceiro lugar e não ter a condição pretendida de principal adversário de Marcelo Rebelo de Sousa.

Afirmando-se católico, André Ventura é claramente duro com o Papa Francisco, alinhando-se, deste modo, com os sectores mais conservadores da Igreja Católica. “Este Papa tem contribuído para destruir as bases do que é a Igreja Católica na Europa. Acho que este Papa tem prestado um mau serviço”, ataca.

Refere que não tem sentido o apoio da hierarquia da Igreja em Portugal, mas garante que, anonimamente, fiéis e sacerdotes lhe manifestam o seu apoio. E eleva o seu partido ao Céu: “O Chega é a religião dos portugueses comuns.”

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