Estes simuladores treinam futuros médicos para emergências “reais” — sem saírem de casa

Como treinar para emergências médicas durante uma emergência de saúde pública? Recorrendo ao Zoom e a outros softwares de simulação gratuitos, propõem investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

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Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) desenvolveram, durante o confinamento, um método para os estudantes treinarem para cenários de emergência sem saírem de casa.

“Precisávamos de criar um ambiente interactivo, até porque o centro de simulação está do lado do hospital [de São João] e, nesta fase, foi necessário que até nós docentes não estivéssemos lá”, esclareceu Carla Sá Couto, do Centro de Simulação Biomédica da FMUP e também investigadora no Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis).

Com o intuito de “trazer ao ambiente simulado algum realismo”, os investigadores utilizaram um conjunto de plataformas, tal como o Zoom e outros softwares de simulação, para recriar três cenários de emergência: o choque hemorrágico, o choque anafiláctico e a intoxicação por opióides. 

Os estudantes, divididos em grupos de quatro a cinco elementos, conseguem assim “falar com o doente, observar o doente e pedir exames complementares de diagnóstico”, sendo que quem coordena o cenário e faz o controlo do monitor, sinais vitais e voz do doente são os docentes da unidade curricular.

No semestre anterior, a metodologia foi posta em prática com dez estudantes. Para este semestre, já estão inscritos na unidade curricular 20. “Com um computador e um telemóvel conseguimos proporcionar esta simulação em casa. A telessimulação não é nova, mas no formato habitual os estudantes estão remotos, mas os docentes estão num centro de simulação. Aqui não tínhamos essa possibilidade e talvez em muitos outros locais também não existam centros de simulação”, observou a investigadora.

Nesse sentido, a ideia dos investigadores é “partilhar o conhecimento adquirido” e a estratégia adoptada com outros docentes, tanto a nível nacional como internacional. “Ao partilharmos esta aprendizagem até podemos, noutro contexto que não o da pandemia, proporcionar uma forma de determinados objectivos de aprendizagem poderem ser trabalhados com recurso a uma tecnologia muito básica”, afirmou Carla Sá Couto. A receptividade dos estudantes “foi muito boa”.

No âmbito do desenvolvimento desta metodologia, Carla Sá Couto e o investigador Abel Nicolau publicaram um artigo no jornal científico MedEdPublish, onde salientam que a telessimulação pode ser uma alternativa “eficaz” para o treino de estudantes, mas também de profissionais de saúde em cenários de emergência, durante e após a pandemia da covid-19.

No entanto, para que possa ser aplicada a níveis de ensino diferenciados ou até mesmo profissionais de saúde, os investigadores têm de “promover cenários de simulação mais desafiantes que promovam a aplicação de outras competências” e responder às “necessidades de cada serviço ou especialidade”.

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