Quem injuria nunca tem razão (a propósito de uma entrevista de António Barreto)

A responsabilidade que António Barreto teve não consente por todas as razões que produza considerações injuriosas contra quem quer que seja e menos contra Mário Soares.

Na estreia do programa “Primeira Pessoa”, que foi exibido na passada segunda-feira pela RTP1, a jornalista Fátima Campos Ferreira, que dele é responsável, entrevistou António Barreto.

Nela, o entrevistado, que há tempos a esta parte parece querer assumir-se como atento observador da nação e seu guia espiritual, injuriou o Dr. Mário Soares, que, por não estar entre nós, não se pode defender.

Fui amigo do Dr. Mário Soares até ao fim da sua vida.

Nesta qualidade, jamais poderia silenciar a afronta de uma personalidade determinante não só para a consolidação, mas também para o aprofundamento do regime democrático, lutando corajosamente contra toda a sorte de totalitarismos.

Ainda agora, neste exacto momento, a UE está a homenagear a personalidade que foi Mário Soares.

António Barreto sabe disso, tanto que foi ministro da Agricultura de um Governo presidido por Mário Soares.

No período em que o foi, forças contrárias à democracia puseram em marcha uma estratégia que incluiu a execução de uma Reforma Agrária no Alentejo, de pendor coletivista e decalcada de países totalitários.

Não se negando o papel que aí teve António Barreto, é óbvio que ele seria totalmente impensável sem o programa definido com clareza e colocado na prática por Mário Soares.

Todo o mundo o sabe.

A responsabilidade que António Barreto teve não consente por todas as razões que produza considerações injuriosas contra quem quer que seja e menos contra Mário Soares.

É-lhe naturalmente legítimo ter posições divergentes ou mesmo contrárias às de Mário Soares, exemplo que, aliás, este sempre nos deu de forma calorosa, mas António Barreto sabe também bem que essas posições devem ter uma fundamentação política e não injuriosa.

Não é minimamente lícito a ninguém, e menos com a responsabilidade que tem, deixá-las passar em claro sem as repudiar de forma enérgica.

Quem injuria nunca tem razão. E isso deve ser dito aqui e agora.

António Barreto devia saber que é assim, mas não é a primeira vez que o faz, porque o confirmei pela informação que um amigo me deu.

Em biografia recente sobre a sua pessoa, injúrias desta natureza sobre Mário Soares também foram proferidas.

É útil e proveitoso que António Barreto tenha presente que, para injuriar, bastam os “Chegas” desta vida ou, no período em que António Barreto foi ministro, agentes que estavam ao serviço de forças totalitárias, de que foi vítima, sendo, porém, o alvo principal delas Mário Soares, que tinha as máximas responsabilidades partidárias no PS, de que foi fundador, mas também no Governo.

Felizmente, com Mário Soares então no poder no PS, pela primeira vez na História os mencheviques venceram os bolcheviques, como referiu uma personalidade insuspeita de prestígio mundial, e isto não é uma questão de somenos.

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