Sem ajuda de Rui Pinto, PJ não esperava “grandes avanços” nas investigações

Inspector levantou dúvidas quanto ao rendimento de Rui Pinto, mas diz que não foram detectadas suspeitas de actividades ilícitas.

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Rui Pinto em tribunal Rui Gaudencio

A colaboração de Rui Pinto com a Polícia Judiciária (PJ) não se esgotou na desencriptação dos discos rígidos, acto que permitiu, pela primeira vez, que as autoridades portuguesas conseguissem analisar o manancial de informação na posse do hacker. A assistência do autor do Football Leaks continua ainda a ser necessária nas investigações que surgirão dos dados recolhidos, tal como tinha sido dito no pedido de libertação total do denunciante. Esta colaboração que se prolongará no tempo foi confirmada por José Amador, inspector da PJ, que foi ouvido, na manhã desta sexta-feira, no âmbito do processo em que Rui Pinto é acusado de 90 crimes.

Não foram, contudo, especificados pormenores desta colaboração a longo prazo. Luísa Teixeira da Mota, advogada do denunciante, questionou José Amador se a assistência prestada se resumiu exclusivamente à abertura dos discos. “Temos condições para ir além disso”, respondeu.

O principal motivo para a demora nesta colaboração prendeu-se com o factor da incriminação: Rui Pinto receava que, no momento em que partilhasse a informação, eventuais crimes informáticos por ele cometidos pudessem ser adicionados ao processo. “Lembro-me que tinha havido da parte dos doutores [defesa de Rui Pinto] a proposta de colaboração. Acho que o entrave era de que não existia a garantia que a informação não fosse usada para incriminar o arguido. Os pontos-chave das conversas andavam sempre nisso, a existência de uma cláusula de salvaguarda”, relembrou José Amador, referindo-se aos primeiros interrogatórios feitos a Rui Pinto. 

Vivia “muito mal”

Mas os discos conseguiriam ser abertos sem a ajuda do hacker? “Podíamos estar aqui mais uma centúria. Não estaria confiante de que, durante o meu tempo de vida, existissem avanços”, rematou José Amador, que ainda lançou uma dúvida quanto à verdadeira fonte de rendimento do gaiense de 31 anos. O inspector já tinha revelado, numa sessão anterior, que encontrou num dispositivo electrónico de Rui Pinto documentos relativos a livros e leilões. O denunciante sempre afirmou que tinha conseguido subsistir na Hungria com um negócio de antiguidades e leilões online. Apesar da dúvida, José Amador esclarece que não foram detectadas suspeitas que apontem para actividades ilícitas. 

“Havia referência a valores relativos a licitações e aquisições em leilões. Ainda convertemos os florindos [florins] para euros, mas, enfim, não eram valores expressivos – muito, muito modestos. Se aquela era a fonte de rendimento do arguido, devia viver muito mal. Falo do que lá estava, poderia ser só uma parte”, explicou, esclarecendo depois, a pedido de Luísa Teixeira da Mota, que o estilo de vida de Rui Pinto em Budapeste não era exuberante. Pelo contrário. “[O local onde vivia] não era propriamente o bairro mais fino de Budapeste. Aquele distrito [bairro] tinha umas zonas menos recomendáveis”, concluiu.

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