Marcelo responde a embaixador dos EUA: “Quem decide são os representantes dos portugueses”

O Presidente da República reagiu às declarações do embaixador norte-americano em Portugal, reforçando a mensagem de autonomia nacional já afirmada pelo Governo.

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Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que a decisão cabe aos representantes eleitos pelos portugueses LUSA/MÁRIO CRUZ

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, respondeu este domingo ao embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Lisboa afirmando que, “em Portugal, quem decide acerca dos seus destinos são os representantes escolhidos pelos portugueses”.

A agência Lusa questionou o chefe de Estado sobre as declarações proferidas pelo embaixador dos EUA, George Glass, em entrevista Expresso, publicada na edição deste sábado, em que defende que “Portugal tem de escolher entre os aliados e os chineses”.

“É uma óbvia questão de princípio que, em Portugal, quem decide acerca dos seus destinos são os representantes escolhidos pelos portugueses - e só eles - no respeito pela Constituição e o direito por ela acolhido, como o direito internacional”, afirmou o Presidente da República, numa declaração enviada à agência Lusa.

Na entrevista ao Expresso, o embaixador norte-americano em Lisboa considera que “Portugal acaba inevitavelmente por ser parte do campo de batalha na Europa entre os Estados Unidos e a China” e alega que esta potência “é uma nova China, com planos de longo prazo para acumular influência maligna através da economia, política ou outros meios”.

Segundo George Glass, “nos últimos três anos” Portugal tem olhado para os EUA como “amigos” e “aliados” no domínio da segurança e defesa e para a República Popular da China como “parceira económica”. O embaixador dos EUA defendeu que “não se pode ter os dois” e que os portugueses “têm de fazer uma escolha agora” entre “trabalhar com os parceiros de segurança, os aliados, ou trabalhar com os parceiros económicos, os chineses”. “Quer dizer que, quando estamos a falar de infra-estruturas críticas e necessidades de segurança nacional, não podem trabalhar com a China. Vimos isso com o início da implementação do 5G ? e o que isso significa para a segurança nacional ? e a forma como se trabalha com os aliados”, acrescentou.

A declaração de Marcelo Rebelo de Sousa surge um dia depois de o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, ter respondido ao embaixador dos EUA, ter afastado as pressões norte-americanas e afirmado a autonomia das autoridades portuguesas na tomada de decisões.

“São as autoridades portuguesas que tomam as decisões que interessam a Portugal, no quadro da Constituição e da lei portuguesa e das competências que a lei atribui às diferentes autoridades relevantes”, disse Augusto Santos Silva à agência Lusa, referindo que “o Governo regista as declarações” de George Glass.

O ministro acrescentou que em Portugal as decisões são tomadas “de acordo com os valores democráticos e humanistas, os valores portugueses, de acordo com os interesses nacionais de Portugal, de acordo com o processo de concertação a nível da União Europeia, quando esse processo é pertinente, e com o sistema de alianças em que Portugal se integra, que é bem conhecido e está muito estabilizado”.

Esta manhã, também o candidato comunista à Presidência da República tinha assinalado o silêncio de Marcelo Rebelo de Sousa, sublinhando que o papel de um chefe de Estado passa também por passar uma mensagem clara de soberania nacional.

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