ISTO é uma marca de roupa portuguesa e The Nº55 também. Ambas são intemporais e sustentáveis

A sustentabilidade é cada vez mais mote para novas marcas de vestuário que emergem um pouco por todo o mundo. Em Portugal, a ISTO e a The Nº55 propõem-se a criar peças intemporais, que não façam parte de uma indústria consumista.

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As duas marcas portuguesas optam por vias sustentáveis na escolha dos materiais e da produção do vestuário Daniel Rocha
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Colecção de t-shirts da ISTO Daniel Rocha
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Casaco unissexo da The Nº55 The Nº55
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Daniel Rocha

Numa fase em que a indústria da moda começa a olhar de forma diferente para a produção e consumo de vestuário, emergem novas marcas que optam por novos caminhos, em linha com a preocupação ambiental. A ISTO (Independent, Superb, Transparent, Organic) nasceu em 2017 e pauta-se por um registo minimalista, clássico e simples. A The Nº55 lançou uma colecção-teste em 2016. Apesar da imagem aristocrática, o conceito andrógino promete ser uma mais-valia para o planeta.

A ideia para a ISTO surgiu com Pedro Palha, em 2015, quando vivia no México e se deparou com uma marca que se assemelhava muito àquilo que ele próprio gostaria de criar um dia. Com o pensamento a crescer na cabeça, regressou a Portugal para pôr mãos à obra, pois sabia que cá “a indústria têxtil é muito forte”.

Fábrica Dinis & Cruz Daniel Rocha
Fábrica Dinis & Cruz Daniel Rocha
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Fábrica Dinis & Cruz Daniel Rocha

Juntamente com outro Pedro (Garcia), começaram “a trabalhar a ideia: roupa básica de muito boa qualidade, a um preço mais transparente e honesto, privilegiando a qualidade dos tecidos e aquilo que se falava já há muitos anos do orgânico e sustentável”. A fabricação das peças desta marca divide-se entre Lisboa e o Norte do país. Na capital, as calças e os casacos fazem-se na Dinis & Cruz, uma das maiores fábricas têxteis da região. Os tecidos vêm de Itália, mas toda a confecção é feita aqui.

Uma das preocupações das mentes por detrás da ISTO era ter um factor diferenciador que cativasse as pessoas. Esse factor chegou com a utilização exclusiva de tecidos com certificação GOTS (Global Organic Standard Textile), o recurso a mão-de-obra bem paga e a adição de um gráfico ao website de vendas online onde está discriminado o valor de todos os processos de produção das peças de roupa.

“Partilhamos com o cliente o custo de produção de cada peça: 99,9% das pessoas quando vê pára, fala sobre isso e gosta, mas depois, desses, se calhar 20% ou mais acha que ficamos com uma grande parte, quando não é verdade. Temos muitos custos operacionais para pagar”, diz Pedro Palha. “As pessoas querem comprar roupa a preços que não são possíveis de atingir em Portugal, onde nós sempre produzimos e sempre iremos produzir.”

Além do website, a ISTO tem duas lojas físicas, situadas em Lisboa. Uma em Campo de Ourique e outra no Príncipe Real, na Embaixada — uma galeria conceptual, que reúne um conjunto de marcas e artistas nacionais focados em design, moda, gastronomia e cultura portuguesa.

Uma vez que a Embaixada é considerada um centro comercial, só reabriu em meados de Junho, o que significou que a ISTO esteve fechada durante cerca de três meses. O impacto nas vendas foi significativo, tendo-se reduzido a zero nos espaços físicos. O online, contudo, veio colmatar e cresceu substancialmente, com os básicos da ISTO a viajarem de Portugal principalmente até ao Reino Unido, Alemanha e França. Com o gradual regresso do turismo, as lojas físicas voltam a ter movimento e o futuro avizinha-se promissor para Pedro Palha.

The Nº55
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Élia Lé The Nº55
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The Nº55

“Desenvolver uma colecção andrógina é brutal para o planeta”

A The Nº55 foi fundada pela designer Élia Lé, que se inspirou no ambiente e envolvência do palacete onde a sua tia-avó morava, no final da década de 1970, para criar a imagem da marca. O nome surgiu da brincadeira que costumava fazer em criança nessa mesma casa, ao subir e descer a enorme escadaria e contar os degraus.

A paixão pela moda sempre esteve presente em Élia, mas foi adiando o seu sonho e passou primeiro pelo design de interiores. Em 2016 decidiu colocar à prova o projecto que emergia, com uma colecção-teste inspirada nos jardins do palacete. Depois de perceber que o mercado, especialmente o internacional, estava receptivo ao seu estilo e àquilo que tinha para oferecer, decidiu avançar com o projecto. “A roupa é a envolvência da nossa personalidade. Para mim, o design de interiores e de moda estão mesmo interligados. Há um cenário montado e uma personagem que se move entre os cenários.”

A colecção agora disponível, baseada na roupa usada nos bailes que decorriam no palacete, é intemporal, sem idade e unissexo. Para a designer, “desenvolver uma colecção andrógina é brutal para o planeta”. “Em vez de estarmos a produzir uma colecção para mulher e outra para homem, uma única colecção poupa o esforço ao planeta e a produção a nível de poluição”, afirma Élia Lé ao PÚBLICO.

Além do factor inovador de um conjunto de peças de roupa que pode ser usado tanto por mulheres como por homens, os tecidos utilizados para a produzir provêm, em cerca de 80%, do excedente da produção nacional têxtil. Os restantes vêm de Itália, que Élia faz “questão de procurar” por terem “muito que ver com a história da marca”.

A The Nº55 tem duas lojas físicas em Lisboa, uma na LX Factory e outra no Príncipe Real. A ambição de Élia “é ter a colecção à venda em lojas físicas fora de Portugal”, ainda que continue a querer vender online. “É uma forma de chegar a mais locais no planeta.”

Para ambas as marcas o percurso da roupa idealizada passa pelo mesmo ponto: que possa ser usada por todas as gerações e que perdure, diminuindo assim o consumo.

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