Putin anuncia empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares a Lukashenko

Vladimir Putin prometeu ajuda financeira ao homólogo bielorrusso após reunião em Sochi. Presidente da Rússia apoia reforma constitucional de Lukashenko e defende que os dois países devem continuar a aprofundar os laços económicos.

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Reunião entre Aleksander Lukashenko e Vladimir Putin em Sochi EPA

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou esta segunda-feira um empréstimo de 1,5 mil milhões de dólares à Bielorrússia, depois de o seu homólogo bielorrusso, Aleksander Lukashenko, ter viajado até à Rússia para pedir um maior apoio do Kremlin para conter os protestos em Minsk que entraram na sexta semana e não dão sinais de abrandar.

Os dois chefes de Estado reuniram-se esta segunda-feira num resort em Sochi, na primeira visita de Lukashenko à Rússia desde as eleições do passado dia 9 de Agosto, consideradas fraudulentas pela oposição, União Europeia e Estados Unidos, e que geraram a maior vaga de contestação desde que o antigo gestor de uma quinta colectiva soviética chegou ao poder há 26 anos.

No final da reunião, Vladimir Putin, que em algumas imagens divulgadas durante o encontro parecia entediado, a abanar os pés e as mãos enquanto Lukashenko fazia um monólogo, anunciou o pacote de ajuda financeira a Minsk, que atravessa uma graves problemas económicos, numa tentativa, segundo o próprio, de “influenciar os mercados financeiros”, o que será fundamental para Lukashenko evitar uma crise no curto prazo. De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, parte dos 1,5 mil milhões de dólares serão usados para refinanciar empréstimos anteriores.  

O Presidente russo reiterou ainda que os dois países devem continuar a aprofundar as suas ligações económicas e que Lukashenko deve fazer um esforço para melhorar as relações bilaterais com Moscovo, sublinhando que devem ser os bielorrussos, por si próprios, a encontrarem uma solução para a crise. “Queremos que sejam os próprios bielorrussos, sem estímulos ou pressões do exterior, a resolverem a situação de uma forma calma, através do diálogo, para encontrarem uma solução comum”, disse Putin, citado pela Reuters.

A visita de Lukashenko à Rússia acontece um dia depois de, pelo quinto domingo consecutivo, mais de 100 mil pessoas terem saído às ruas da Bielorrússia para exigirem novas eleições e a saída de Lukashenko do poder. O Governo bielorrusso anunciou esta segunda-feira a detenção de 774 pessoas, 500 delas na capital, Minsk.

Nas redes sociais, circularam ainda vários vídeos que mostram o uso de violência contra mulheres, com polícias, muitas vezes à paisana ou a utilizarem máscaras, a atirarem as manifestantes para dentro de carrinhas. Perante a violência no país, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas aceitou uma proposta da UE e agendou um debate de emergência para a próxima sexta-feira.

Apesar do aumento da repressão nos últimos dias, os protestos não dão sinais de abrandar e Lukashenko apresentou-se perante Putin mais frágil que nunca. Agarrado à lealdade das forças de segurança, o autocrata está cada vez mais isolado interna e externamente, e precisa do apoio da Rússia para continuar no poder.

O Kremlin, para já, não parece interessado em deixar cair o seu imprevisível aliado, no entanto, o apoio tem um preço e, segundo os analistas, após o encontro desta segunda-feira, Putin poderá tentar aproveitar a fragilidade de Lukashenko para aprofundar a União-Estado, assinada pelos dois países na década de 1990, com uma maior integração política e económica da Bielorrússia na Rússia, aumentando a dependência de Minsk em relação a Moscovo, uma pretensão a que Lukashenko tem resistido nos últimos anos.

Putin apoia reforma constitucional

Segundo as agências de notícias russas, durante a reunião, Lukashenko agradeceu o apoio de Putin e disse que os protestos na Bielorrússia demonstram que Minsk deve continuar próxima de Moscovo.

O seu homólogo russo, por seu turno, garantiu que os dois países vão continuar a colaborar em termos de defesa. Prova disso são os exercícios militares com pára-quedistas russos na Bielorrússia que começaram esta segunda-feira. Contudo, o Kremlin tem rejeitado uma ajuda militar, apesar de Putin já ter realçado que tem uma “força policial de reserva”, caso seja necessário.

Vladimir Putin defendeu ainda a reforma constitucional pretendida por Aleksander Lukashenko – classificando-a como “lógica, oportuna e apropriada” –, apesar de esta hipótese ter sido descartada pela oposição, que a vê como uma manobra para o Presidente bielorrusso se perpetuar no poder.

Svetlana Tikhanouskaia, líder da oposição exilada na Lituânia, sublinhou esta segunda-feira que qualquer acordo assinado entre Putin e Lukashenko não é válido, uma vez que este não tem a legitimidade das urnas. “Lamento que [Putin] que tenha decidido dialogar com um ditador e não com o povo bielorrusso”, afirmou Tikhanouskaia na rede social Telegram, uma das ferramentas de comunicação privilegiadas pela oposição.

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