Caso Navalny: Alemanha faz ultimato à Rússia

Segundo o chefe da diplomacia de Berlim, Moscovo tem alguns dias para dar respostas. Se não o fizer a União Europeia vai discutir sanções à Rússia. E usou o gasoduto Nord Stream 2 como arma de pressão.

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Alexei Navalny está em coma num hospital alemão TATYANA MAKEYEVA/Reuters

A Alemanha, que preside à União Europeia, iniciará discussões sobre possíveis sanções contra a Rússia se Moscovo não der, “nos próximos dias”, explicações sobre o envenenamento de Alexei Navalny, disse neste domingo o chefe da diplomacia alemã.

“Estabelecer ultimatos não ajuda ninguém, mas se nos próximos dias o lado russo não ajudar a esclarecer o que aconteceu, então teremos de discutir uma resposta com os nossos parceiros”, disse Heiko Maas ao diário Bild.

Heiko Maas sublinhou que as sanções que fossem decididas teriam de ser “direcionadas”. E acrescentou pressão sobre o Kremlin, da parte do Governo alemão: “Em todo o caso espero que os russos não nos obriguem a mudar a nossa posição relativamente ao Nord Stream 2”.

Na sexta-feira, a França e a Alemanha voltaram a exigir, em comunicado conjunto, explicações à Rússia após o envenenamento do opositor russo Alexei Navalny, apelando a que os responsáveis pelo ataque sejam “identificados e levados à justiça”.

Principal opositor do Presidente russo, Vladimir Putin, conhecido pelas investigações anticorrupção a membros da elite russa, Alexei Navalny, 44 anos, está internado na Alemanha, em coma, desde 20 de Agosto.

O político sentiu-se mal durante um voo de regresso a Moscovo, após uma deslocação à Sibéria. Foi primeiro internado num hospital de Omsk, na Sibéria, tendo sido transferido, posteriormente, para o hospital universitário Charité, em Berlim.

O Governo alemão anunciou, após testes em laboratórios, que Navalny foi envenenado com Novichok, que faz parte de um grupo particularmente perigoso de agentes neurotóxicos que foram proibidos, em 2019, pela OPCW. 

A concepção deste tipo de agente neurotóxico por cientistas soviéticos remonta aos anos de 1970 e 1980, as últimas décadas da Guerra Fria.

Respondendo a Maas, a Rússia acusou neste domingo a Alemanha de atrasar a investigação sobre a suspeita de envenenamento de Navalny, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

“Berlim está a atrasar o processo de investigação que reclama. É deliberado?”, escreveu no Facebook a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, depois das declarações de Heiko Maas.

“Até agora não temos a certeza de que a Alemanha não esteja a jogar um jogo duplo”, diz Zakharova, acrescentando que Berlim demorou a responder aos pedidos da Justiça russa.

“Qual é a urgência em que insiste”, questionou a porta-voz do MNE da Rússia sobre o ultimato de Berlim.

Londres e Paris também querem respostas

Porém, em Londres e Paris fez-se eco da pressão alemã. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, disse neste domingo que “a situação é grave”. “É mais um opositor russo envenenado em solo russo com um produto militar russo. Por isso dizemos à Rússia: digam-nos o que se passou. Queremos explicações”.

O chefe da diplomacia britânica, Dominic Raab, disse que “o Governo russo tem que muitas e sérias perguntas a que dar resposta”. Quer o caso tenha envolvido um elemento do Estado ou não, a obrigação da Rússia é garantir que armas químicas não são usadas no seu território, afirmou Raab.

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